28 março, 2017

Eliminação armas nucleares: um imperativo moral e humanitário




(RV) O Papa Francisco dirigiu nesta terça-feira uma mensagem à Conferência da ONU sobre a proibição das armas nucleares que iniciou ontem em Nova Iorque e termina no próximo dia 31. O objectivo principal é negociar um instrumento jurídico vinculante sobre a proibição dessas armas e leve à sua eliminação total. A reunião destes dias é a primeira parte deste processo. A delegação da Santa Sé a este encontro é chefiada pelo Subsecretário para as Relações com os Estados, D. António Camilleri. Será ele quem  apresentará a mensagem do Papa. Nela Francisco recorda, como fizera na sua visita à ONU em Setembro de 2015, que a Paz, a solução pacífica das controvérsias e o desenvolvimento das relações amigáveis entre as nações sublinhadas no preâmbulo da Carta da ONU são incompatíveis com uma ética e um direito baseados na destruição recíproca. Por isso, há que empenhar-se, todos, a favor de um mundo sem armas nucleares, e aplicar plenamente o Tratado de não proliferação.

A situação de conflito que se vive hoje no mundo – terrorismo, guerras assimétricas, segurança informática, problemáticas ambientais, pobreza… levam a perguntar-se se as armas nucleares podem ser realmente um freio, uma resposta eficaz a esses desafios. Isto sobretudo tendo em conta as catastróficas consequências humanas e ambientais a que o uso de tais armas levaria. E nem se fale nos recursos que tais armas requerem, recursos que poderiam ser empregues na promoção da paz e do desenvolvimento humano integral, na luta contra a pobreza e actuação da agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável – sublinha o Papa.

Além disso – continua – há que perguntar-se se é sustentável um equilíbrio baseado no medo, medo que tende a minar as relações de confiança entre os povos.

A paz e a estabilidade internacionais  não podem ser fundadas num falso sentido de segurança, na ameaça da destruição reciproca, na simples manutenção de um equilíbrio de poder. A paz – afirma o Papa na sua mensagem – deve ser construída sobre a justiça, o desenvolvimento humano integral, no respeito dos direitos fundamentais, na protecção do ambiente, na participação de todos na vida pública, na confiança entre os povos, na promoção de instituições pacíficas, no acesso à educação e à saúde, no diálogo e na sociedade. Nesta perspectiva, precisamos de ir para além do freio nuclear: a comunidade internacional é chamada a adoptar estratégias visionárias para promover o objectivo da paz e a estabilidade e evitar abordagens míopes aos problemas de segurança nacional e internacional.

Neste contexto- frisa ainda o Papa – o objectivo final da eliminação total das armas nucleares torna-se um imperativo moral e humanitário. É um processo que requer diálogo, construção e consolidação de mecanismos de confiança e cooperação.

Francisco chama ainda atenção para a crescente interdependência e globalização, o que significa que tudo é interligado e que qualquer resposta à ameaça nuclear tem de ser colectiva e consertada, baseada na confiança reciproca, orientada para o bem comum. Há que evitar recriminações recíprocas e de polarização que dificultam o diálogo em vez de o encorajar.

O Papa conclui a sua densa mensagem fazendo notar que esta reunião que pretende negociar um Tratado inspirado em argumentações éticas e morais é um exercício de esperança. E  augura que possa constituir um passo decisivo na caminhada em direcção a um mundo sem armas nucleares

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