(RV) O Papa Francisco dirigiu nesta terça-feira
uma mensagem à Conferência da ONU sobre a proibição das armas nucleares
que iniciou ontem em Nova Iorque e termina no próximo dia 31. O
objectivo principal é negociar um instrumento jurídico vinculante sobre a
proibição dessas armas e leve à sua eliminação total. A reunião destes
dias é a primeira parte deste processo. A delegação da Santa Sé a este
encontro é chefiada pelo Subsecretário para as Relações com os Estados,
D. António Camilleri. Será ele quem apresentará a mensagem do Papa.
Nela Francisco recorda, como fizera na sua visita à ONU em Setembro de
2015, que a Paz, a solução pacífica das controvérsias e o
desenvolvimento das relações amigáveis entre as nações sublinhadas no
preâmbulo da Carta da ONU são incompatíveis com uma ética e um direito
baseados na destruição recíproca. Por isso, há que empenhar-se, todos, a
favor de um mundo sem armas nucleares, e aplicar plenamente o Tratado
de não proliferação.
A situação de conflito que se vive hoje no mundo – terrorismo,
guerras assimétricas, segurança informática, problemáticas ambientais,
pobreza… levam a perguntar-se se as armas nucleares podem ser realmente
um freio, uma resposta eficaz a esses desafios. Isto sobretudo tendo em
conta as catastróficas consequências humanas e ambientais a que o uso de
tais armas levaria. E nem se fale nos recursos que tais armas requerem,
recursos que poderiam ser empregues na promoção da paz e do
desenvolvimento humano integral, na luta contra a pobreza e actuação da
agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável – sublinha o Papa.
Além disso – continua – há que perguntar-se se é sustentável um
equilíbrio baseado no medo, medo que tende a minar as relações de
confiança entre os povos.
A paz e a estabilidade internacionais não podem ser fundadas num
falso sentido de segurança, na ameaça da destruição reciproca, na
simples manutenção de um equilíbrio de poder. A paz – afirma o Papa na
sua mensagem – deve ser construída sobre a justiça, o desenvolvimento
humano integral, no respeito dos direitos fundamentais, na protecção do
ambiente, na participação de todos na vida pública, na confiança entre
os povos, na promoção de instituições pacíficas, no acesso à educação e à
saúde, no diálogo e na sociedade. Nesta perspectiva, precisamos de ir
para além do freio nuclear: a comunidade internacional é chamada a
adoptar estratégias visionárias para promover o objectivo da paz e a
estabilidade e evitar abordagens míopes aos problemas de segurança
nacional e internacional.
Neste contexto- frisa ainda o Papa – o objectivo final da eliminação
total das armas nucleares torna-se um imperativo moral e humanitário. É
um processo que requer diálogo, construção e consolidação de mecanismos
de confiança e cooperação.
Francisco chama ainda atenção para a crescente interdependência e
globalização, o que significa que tudo é interligado e que qualquer
resposta à ameaça nuclear tem de ser colectiva e consertada, baseada na
confiança reciproca, orientada para o bem comum. Há que evitar
recriminações recíprocas e de polarização que dificultam o diálogo em
vez de o encorajar.
O Papa conclui a sua densa mensagem fazendo notar que esta reunião
que pretende negociar um Tratado inspirado em argumentações éticas e
morais é um exercício de esperança. E augura que possa constituir um
passo decisivo na caminhada em direcção a um mundo sem armas nucleares
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