(RV) A Quaresma tem início este 1º de março com a
celebração do rito da imposição das cinzas. O Papa, de 5 a 10 de março,
participará com a Cúria na Casa do Divino Mestre, em Ariccia, nos
tradicionais Exercícios Espirituais, este ano pregados pelo Padre
franciscano Giulio Michelini, 53 anos, milanês, docente do Instituto
Teológico de Assis. Mas, como ele recebeu o convite do Papa?
“Devo dizer a verdade que, imediatamente, a quem me apresentou a
proposta – um dos colaboradores estreitos do Papa Francisco – eu reagi
dizendo logo: “Bem, confio”. Conversei com quem me ajuda, a cada pouco
me aconselho com o meu director espiritual, e ele me disse assim: “Olha,
Padre Giulio, mas foste tu quem pediu?. E eu respondi: “Jamais faria
isto!”. E depois me disse: “Fale como se falasse a um dos discípulos de
Cristo, como tu fazes”. E isto me deixou sereno”.
O senhor é um especialista do evangelista Mateus e será exactamente a Paixão narrada por Mateus a inspirar as suas meditações...
“O Evangelho de Mateus é o Evangelho da Igreja, isto é, aquele que
mais valoriza a figura de Pedro; não somente é o único Evangelho que
utiliza a palavra ‘ecclesia’ – Igreja – duas vezes, mas é o Evangelho
que mais fala de Pedro. E portanto me pareceu bonito estar diante de
Pedro e falar com ele do Evangelho que é o primeiro Evangelho, ou
chamado também de “Evangelho eclesial” da Igreja”.
Além disto, mais de uma vez o Papa fez referência à vocação de
Mateus, que tanto influenciou a sua vida espiritual, nas suas escolhas:
não é assim?
“E é de facto uma ideia importante, porque naquela vocação – como o
Papa Francisco observou – há o olhar de misericórdia de Jesus. Ora, nós
sabemos que o Evangelho de Mateus é o Evangelho da misericórdia. A
palavra éleos – misericórdia – aparece mais vezes no Evangelho de Mateus
do que nos outros Evangelhos. E portanto, mesmo se Lucas é aquele que,
por exemplo, nos narra as parábolas da misericórdia, como aquelas do
capítulo 15, a ovelha perdida, o filho pródigo, a moeda perdida, deve
ser dito no entanto que Mateus insiste sobre isto e o Papa
identificou-se com o olhar de Jesus que chama Pedro, porque foi chamado e
foi usada de misericórdia para com ele”.
Estas são meditações oferecidas à Cúria e ao Papa. Recordemos que o
tempo dos Exercícios Espirituais, ao menos como os havia pensado Santo
Inácio de Loyola, é um tempo em que cada cristão deveria refazer-se.
Neste início de Quaresma, o que nos poderia dizer a este respeito? Qual é
a finalidade dos Exercícios Espirituais?
“O problema é justamente este, de que na nossa vida, às vezes, nós
vamos em frente porque fazemos tantas coisas; talvez nos faça bem parar,
quer durante o dia, quer em um tempo especial como a Quaresma, onde nos
perguntamos: “Para onde estou a ir? O que estou a fazer? Por que estou a
fazer? Estou a fazer bem? Quem me guia? É o Espírito que me guia? É o
meu desejo de sucesso que me guia, do dinheiro? Como vivo os meus
relacionamentos?”. Quem sabe poderíamos dizer: façamos a cada dia um
balanço, uma verificação e a Quaresma, no fundo, é isto, porque paramos.
Assim, eu proponho um jejum, em particular das coisas que às vezes nos
distraem e que são, por exemplo, o bombardeio mediático, e sobre isto
deveríamos estar muito atentos. Enquanto estávamos a fazer esta
entrevista, chegaram para mim, acredito, cinco mensagens no whatsapp e
agora sou obrigado a vê-las! Realmente, às vezes a quantidade de
informações, mesmo banais, que nos chegam, são no fundo também
perigosas. Portanto, esta é uma forma de pausa um pouco para recuperar e
parar. Temos realmente necessidade disto, sobretudo neste tempo”.
(BS/AP/JE)
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