04 dezembro, 2018

Tema da vida eterna precisa de maior atenção, diz o Papa


 Papa indica repropor “apaixonadamente” e com linguagem adequada
ao dia a dia, o tema da Eternidade  (ANSA)

Francisco enviou mensagem à sessão solene das Academias Pontifícias em Roma e abordou o tema da “beleza da eternidade”, “intencionalmente esquecido e ignorado” nas missas e nas pesquisas dentro das universidades. O Papa pede que se renove o interesse sobre a vida eterna, tanto a nível teológico como da catequese e formação cristã. 
 
Andressa Collet – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco enviou uma mensagem ao presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, Cardeal Gianfranco Ravasi, por ocasião da XXIII Sessão Pública das Academias Pontifícias. A solenidade anual foi realizada no final da tarde desta terça-feira (4), no Palácio da Chancelaria, em Roma - o edifício renascentista mais antigo da cidade e que faz parte do Património Mundial da Humanidade.

A cerimónia intitulada “Eternidade, a outra face da vida”, onde também estavam presentes os presidentes de outras seis universidades, além de cardeais, bispos, embaixadores e estudantes, abriu espaço para intervenções, inclusive musicais, sobre o tema. Na oportunidade, o secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin, entregou o “Prémio das Academias Pontifícias” para promover e apoiar o trabalho junto dos jovens, ao ler a mensagem do Pontífice dirigida a Dom Ravasi, também presidente do Conselho de Coordenação entre as universidades pontifícias.

O Papa Francisco iniciou a sua declaração lembrando as origens da solenidade, criada em 1995 depois da reforma das Academias Pontifícias no pontificado de João Paulo II, e valorizando a entrega do Prémio para que contribua “para a promoção de um novo humanismo cristão”.
“ A experiência de encontrar com Deus transcende qualquer conquista humana e constitui uma meta infinita e sempre nova. ”
Tema da Eternidade é ignorado nas missas
 
Sobre a temática do encontro solene, o Papa parabenizou a escolha que “nos estimula a refletir novamente e melhor sobre um âmbito, não somente teológico que, mesmo sendo essencial e central na experiência cristã”, não tem sido tão valorizado nas pesquisas académicas dos últimos anos e nem na formação dos fiéis. 
 
Francisco recordou, então, o quanto tratamos da “ressureição dos mortos e da vida eterna” todos os domingos, na missa, porque “trata-se do núcleo essencial da fé cristã”, ligado diretamente à fé de Jesus Cristo morto e ressuscitado. Mesmo assim, é uma reflexão que “não encontra o espaço e a atenção que merece”, advertiu o Papa, que tem a impressão de que seja um tema “intencionalmente esquecido e ignorado porque é aparentemente distante, estranho à vida quotidiana e à sensibilidade contemporânea”.
 
Ao aprofundar a questão, Francisco comentou que é uma realidade que não surpreende, já que um dos fenómenos que marca a cultura atual “é justamente o fechar dos horizontes transcendentes, o fechar-mo-nos em nós mesmos, o apego quase exclusivo ao presente, esquecendo ou censurando as dimensões do passado e, sobretudo, do futuro, sentido, especialmente pelos jovens, como obscuro e cheio de incertezas. O futuro além da morte aparece, nesse contexto, inevitavelmente ainda mais distante, indecifrável ou completamente inexistente”, afirmou o Pontífice. 

Linguagem usada na catequese distancia reflexão

Mas a pouca atenção ao tema da “eternidade, esperança cristã que anuncia a ressurreição e vida eterna em Deus e com Deus”, acrescentou o Papa, pode depender também de outros fatores como, por exemplo, da linguagem tradicional usada na catequese. O anúncio da verdade da fé, disse Francisco, pode aparecer quase incompreensível e até transmitir “uma imagem pouco positiva e ‘atraente’ da Vida eterna. A outra face da vida pode, assim, ser percebida como monótona e repetitiva, chata, até triste ou completamente insignificante e irrelevante para o presente”. 

Papa cita Gregório de Nissa e São Tomás de Aquino 

O Papa Francisco então citou o Padre grego Gregório de Nissa que oferecia uma visão diversa da eternidade, “concebida como uma condição existencial que não é estática, mas dinâmica e vivaz. O desejo humano de vida e felicidade, intimamente ligado àquele de ver e conhecer Deus, cresce continuamente” sem nunca encontrar o fim. A experiência de encontrar com Deus, acrescentou o Pontífice, “transcende qualquer conquista humana e constitui uma meta infinita e sempre nova”.  

São Tomás de Aquino também ganhou citação na mensagem do Papa, quando o Pontífice sublinhou o seu pensamento de que “na vida eterna acontece a união do homem com Deus, numa ‘perfeita visão’ d’Ele”. Esse tipo de reflexão, continuou o Papa, deveria encorajar-nos a repropor “apaixonadamente” e com linguagem adequada ao dia a dia e com profundidade, “o coração da nossa fé, a esperança que nos anima e que dá força ao testemunho cristão no mundo: a beleza da Eternidade”.

No final da mensagem, Francisco anunciou aos jovens vencedores do Prémio das Academias Pontifícias e da Medalha do Pontificado com o desejo de que se renove o interesse sobre a eternidade, seja a nível teológico como da catequese e formação cristã, ao encorajar as pesquisas que aprofundem o tema da escatologia.

VN

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