Mensagem do Papa Francisco para os católicos chineses
(ANSA)
Numa "Mensagem aos católicos chineses e à Igreja universal", o Papa Francisco explica as razões que levaram a assinar o Acordo Provisório com a República Popular Chinesa: promover o anúncio do Evangelho e alcançar a unidade da comunidade católica.
Cidade do Vaticano
O Papa Francisco dirigiu uma Mensagem aos católicos chineses e a
todos os fiéis depois da divulgação do Acordo provisório entre a Santa
Sé e a China.
O longo texto, de 11 páginas, é marcado por expressões que demonstram
a solicitude pastoral do Pontífice para com os fiéis e o povo chinês em
geral.
“Num momento tão significativo para a vida da Igreja e através desta
breve Mensagem, antes de mais nada desejo assegurar que vos tenho
diariamente presente nas minhas orações e a partilhar convosco os
sentimentos que moram no meu coração”, escreve o Papa.
Acordo
A mensagem procura explicar o significado do Acordo, mas não só,
expressa as esperanças do Papa para o futuro da Igreja na China.
O documento assinado dias atrás, afirma Francisco, é fruto do longo e
complexo diálogo institucional da Santa Sé com as Autoridades
governamentais chinesas, iniciado já por São João Paulo II e continuado
pelo Papa Bento XVI.
A finalidade é sustentar e promover o anúncio do Evangelho, alcançar e
conservar a unidade plena e visível da Comunidade católica na China.
A fé muda a história
Para isso, o Pontífice pede ato de confiança aos fiéis, superando os momentos inevitáveis de perplexidade.
“Se Abraão tivesse pretendido condições sociais e políticas ideais
antes de sair da sua terra, talvez nunca tivesse partido. Mas não! (…)
Portanto, não foram as mudanças históricas que lhe permitiram confiar em
Deus, mas foi a sua fé pura que provocou uma mudança na história."
Clandestinidade
Para dar este novo passo, a primeira questão a enfrentar era as
nomeações episcopais, que fez surgir o fenómeno da clandestinidade na
Igreja presente na China.
O Papa relata que desde o início do seu pontificado recebeu “sinais e
testemunhos concretos” de fiéis e bispos que manifestavam “o desejo
sincero de viver a sua fé em plena comunhão com a Igreja universal e com
o Sucessor de Pedro”.
“Por isso, depois de ter examinado atentamente cada uma das situações
pessoais e escutado diversos pareceres, refleti e rezei muito
procurando o verdadeiro bem da Igreja na China. Por fim, decidi conceder
a reconciliação aos restantes sete Bispos «oficiais» ordenados sem
Mandato Pontifício e, tendo removido todas as relativas sanções
canónicas, readmiti-los na plena comunhão eclesial.
Artífices de reconciliação
Francisco então convida todos os católicos chineses a fazerem-se
artífices de reconciliação. Assim, é possível dar início a um percurso
inédito, que ajudará a curar as feridas do passado, restabelecer a plena
comunhão de todos os católicos chineses e abrir uma fase de colaboração
mais fraterna, para assumir com renovado empenho a missão do anúncio do
Evangelho.
O Acordo Provisório, explica ainda o Papa, apesar de se limitar a
alguns aspecos da vida da Igreja, pode contribuir para escrever esta
página nova da Igreja Católica na China. Pela primeira vez, este Acordo
introduz elementos estáveis de colaboração entre as Autoridades do
Estado e a Sé Apostólica, com a esperança de garantir bons Pastores à
comunidade católica.
Á Igreja chinesa, cabe o papel de procurar, juntos, bons candidatos
para o serviço episcopal. “Na realidade, não se trata de nomear
funcionários para a gestão das questões religiosas, mas ter verdadeiros
Pastores segundo o coração de Jesus”.
O Acordo é um instrumento, esclarece ainda o Papa, e por si só não poderá resolver todos os problemas existentes.
Por isso, no plano pastoral, a comunidade católica na China é chamada a estar unida. “Todos os cristãos, sem distinção, realizem gestos de reconciliação e comunhão.”
No plano civil e político, os católicos chineses são chamados a ser
bons cidadãos, que amem plenamente a pátria e sirvam o seu país com
empenho e honestidade, sem se eximir de proferir uma “palavra crítica”
quando necessária.
Caridade pastoral
Aos Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas, Francisco pede que a
caridade pastoral seja a bússola do ministério. “Superemos os contrastes
do passado, a busca da afirmação de interesses pessoais e cuidemos dos
fiéis.”
De modo especial o Papa dirige-se aos jovens, por ocasião do Sínodo
dos Jovens. Francisco pede colaboração, entusiasmo, sem medo de levar a
todos a alegria do Evangelho.
O Pontífice faz um pedido também a todos os fiéis no mundo inteiro.
“Temos uma tarefa importante: acompanhar com oração fervorosa e amizade
fraterna os nossos irmãos e irmãs da China. Com efeito, devem sentir
que, no caminho que se abre diante deles neste momento, não estão
sozinhos.
Diálogo árduo, mas fascinante
Por fim, uma menção às autoridades chinesas: “Renovo o convite a
continuarem, com confiança, coragem e clarividência, o diálogo iniciado
há algum tempo. Desejo assegurar que a Santa Sé continuará a trabalhar
com sinceridade para crescer numa amizade autêntica com o povo chinês”.
Para Francisco, é preciso “aprender um novo estilo de colaboração
simples e diária entre as Autoridades locais e as Autoridades
eclesiásticas”, definindo este diálogo árduo, mas ao mesmo tempo
fascinante.
A Igreja na China não é alheia à história do país nem pede privilégio
algum, esclarece o Papa: a sua finalidade no diálogo com as Autoridade
civis é “alcançar uma relação tecida de respeito recíproco e de profundo
conhecimento”.
A mensagem foi concluída com uma oração a Nossa Senhora, Auxílio dos Cristãos, implorando do Senhor o dom da paz.
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