O "«ecumenismo vivo», sendo uma das caraterísticas peculiares da Letónia. É, sem dúvida alguma, um motivo de esperança e ação de graças”, disse Francisco
Cidade do Vaticano
O segundo compromisso do Papa Francisco na Letónia, nesta
segunda-feira (24/09), foi a oração ecuménica na Catedral evangélica
luterana de Santa Maria, em Riga, que há mais de 800 anos hospeda a vida
cristã dessa cidade.
Francisco manifestou alegria de estar “nesta terra que se caracteriza
por realizar um caminho de respeito, colaboração e amizade entre as
diferentes Igrejas cristãs, que conseguiram gerar unidade mantendo a
riqueza e a singularidade próprias de cada uma. Atrevo-me a dizer que é
um «ecumenismo vivo», sendo uma das características peculiares da
Letónia. É, sem dúvida alguma, um motivo de esperança e ação de graças”.
A casa-catedral
A “casa-catedral”, assim chamada pelo Papa, é una “testemunha fiel de
muitos irmãos nossos que dela se aproximaram para adorar, rezar e
sustentar a esperança em tempos de tribulação e encontrar coragem para
enfrentar períodos cheios de injustiça e sofrimento”.
“Hoje, hospeda-nos para que o Espírito Santo continue tecendo
artesanalmente laços de comunhão entre nós e, assim, faça também de nós
artesãos de unidade no meio do nosso povo, para que as nossas diferenças
não se tornem divisões."
O Pontífice enfatizou que “nesta catedral, encontra-se um dos órgãos
mais antigos da Europa e que, no momento da sua inauguração, era o maior
do mundo. Podemos imaginar como acompanhou a vida, a criatividade, a
imaginação e a piedade de todos aqueles que se deixavam envolver pela sua
melodia”.
“Foi instrumento de Deus e dos homens, para elevar o olhar e o
coração. Hoje é um emblema desta cidade e desta catedral. Para o
«residente» neste lugar, representa mais do que um órgão monumental, faz
parte da sua vida, da sua tradição, da sua identidade; ao passo que,
para o turista, é naturalmente um objeto artístico a ser conhecido e
fotografado."
"E este é um perigo que se corre sempre: passar de residentes a
turistas, fazendo daquilo que nos identifica um objeto do passado,
uma atração turística e de museu que recorda os feitos de outrora, de
alto valor histórico, mas que deixou de fazer vibrar o coração de
quantos o escutam.”
A seguir, o Papa acrescentou:
"Mais, é possível afirmar que toda a nossa tradição cristã pode
sofrer a mesma sorte: acabar reduzida a um objeto do passado que,
fechado dentro das paredes das nossas igrejas, deixa de produzir uma
melodia capaz de mover e inspirar a vida e o coração daqueles que a
ouvem. Porém, como afirma o evangelho que ouvimos, a nossa fé não é para ficar oculta, mas para se dar a conhecer fazendo-a ressoar nos diferentes setores da sociedade, a fim de que todos possam contemplar a sua beleza e ser iluminados com a sua luz.”
A música do Evangelho
Papa Francisco, “se a música do Evangelho deixar de ser executada na
nossa vida e se transformar numa bela partitura do passado, já não
conseguirá romper as monotonias asfixiadoras que impedem de animar a
esperança, tornando estéreis todos os nossos esforços”.
“Se a música do Evangelho parar de vibrar em nossas entranhas,
perderemos a alegria que brota da compaixão, a ternura que nasce da
confiança, a capacidade da reconciliação que encontra a sua fonte no
facto de nos sabermos sempre perdoados-enviados.”
“Se a música do Evangelho cessar de repercutir nas nossas casas, nas
nossas praças, nos postos de trabalho, na política e na economia,
teremos extinguido a melodia que nos desafiava a lutar pela dignidade de
todo o homem e mulher, independentemente da sua proveniência,
encerrando-nos no «meu» e esquecendo-nos do «nosso»: a casa comum que a
todos nos diz respeito.”
“Se a música do Evangelho deixar de soar, teremos perdido os sons que
hão de levar a nossa vida ao céu, entrincheirando-nos num dos piores
males do nosso tempo: a solidão e o isolamento."
Ecumenismo na cruz do sofrimento
As palavras, Pai, «que todos sejam um (…) para que o mundo creia», continuam a ressoar intensamente no meio de nós, graças a Deus.
Imersos nesta oração de Jesus, “encontramos a única estrada possível para todo o
ecumenismo na cruz do sofrimento de tantos jovens, idosos e crianças,
frequentemente expostos à exploração, ao absurdo, à falta de
oportunidades e à solidão. Enquanto fixa o olhar no Pai e em nós, seus irmãos, Jesus não cessa de implorar: que todos sejam um”.
“Hoje, a missão continua a pedir-nos e a solicitar de nós a unidade; é
a missão que nos exige que paremos de olhar as feridas do passado e
acabemos com todas as atitudes autorreferenciais para nos centrarmos na
oração do Mestre. A missão pede para que a música do Evangelho não cesse de soar em nossas praças.”
Viver o Evangelho com alegria, gratidão e radicalidade
Viver o Evangelho com alegria, gratidão e radicalidade
Segundo o Papa, “alguns podem chegar a dizer: são tempos difíceis e complexos, estes que estamos a vicer. Outros podem chegar a pensar que, nas nossas sociedades, os cristãos têm cada vez menos margem de ação e influência devido a inúmeros fatores, como, por exemplo, o secularismo ou as lógicas individualistas”.
“Isto não pode levar a uma atitude de fechar, de defesa, nem de resignação."
"Mas
o seu testemunho leva-nos a descobrir que o Senhor continua a
chamar-nos, convidando-nos a viver o Evangelho com alegria, gratidão e
radicalidade.”
“Se Cristo nos considerou dignos de viver nestes tempos, nesta hora –
a única que temos –, não podemos deixar-nos vencer pelo medo nem que ele passe, sem a assumir com a alegria da fidelidade.
Unidade em chave missionária
O Papa frisou que a unidade “a que o Senhor nos chama, é uma unidade sempre em chave missionária, que nos pede para sair e alcançar o coração do nosso povo e das culturas, a sociedade pós-moderna em que vivemos «onde são concebidas as novas histórias e paradigmas, alcançar com a Palavra de Jesus os núcleos mais profundos da alma das cidades»”.
“Conseguiremos realizar esta missão ecuménica, se nos deixarmos
impregnar pelo Espírito de Cristo que é capaz de «romper também os
esquemas enfadonhos em que pretendemos aprisioná-Lo, e surpreender-nos
com a sua constante criatividade divina.”
“Sempre que procuramos voltar à fonte e recuperar o frescor original
do Evangelho, despontam novas estradas, métodos criativos, outras formas
de expressão, sinais mais eloquentes, palavras cheias de renovado
significado para o mundo atual»”, concluiu o Papa.
VQATICAN NEWS
Sem comentários:
Enviar um comentário