A teologia não pode ser abstrata, pois nasce de um conhecimento existencial
(Vatican Media )
O Papa disse que "a ternura é um existencial concreto bom para traduzir nos nossos tempos o afeto que o Senhor sente por nós".
Cidade do Vaticano
O Papa recebeu em audiência, nesta quinta-feira (13/09), na Sala
Clementina, no Vaticano, os participantes do congresso sobre a “Teologia
da ternura no Papa Francisco”.
O encontro é promovido pelo Centro Familiar “Casa da Ternura”, criado
em 2003, em Perugia, em Itália, por alguns casais leigos junto com o Pe.
Carlo Rocchetta. Tornou-se agora um lugar de acompanhamento para esposos
em dificuldade. A conferência terá início, nesta sexta-feira (14/09),
em Assis, e prosseguirá até o próximo domingo.
Ao falar da expressão teologia da ternura, o Santo Padre
ressaltou que “teologia e ternura parecem duas palavras distantes: a
primeira, recorda o âmbito académico, e a segunda, as relações
interpessoais. Na realidade, a nossa fé liga esses dois termos de forma
indissolúvel.”
A teologia é chamada a comunicar a concretude do Deus amor
Segundo o Papa, “a teologia não pode ser abstrata, se fosse abstrata
seria ideologia, pois nasce de um conhecimento existencial, nasce do
encontro com o Verbo que se fez carne! A teologia é chamada a comunicar a
concretude do Deus amor e a ternura é um existencial concreto bom para traduzir nos nossos tempos o afeto que o Senhor sente por nós.”
Para Francisco, a teologia “não pode ignorar que em muitas partes do
mundo a abordagem de questões vitais não começa mais com as últimas questões ou exigências sociais, mas com o que a pessoa sente
emocionalmente. A teologia é chamada a acompanhar essa busca
existencial, contribuindo com a luz que vem da Palavra de Deus”.
A ternura é confiar em Deus
Quais os conteúdos que poderiam ter uma teologia da ternura? Segundo o Pontífice, os conteúdos são dois: “a beleza de sentir-se amado por Deus e a beleza de amar em nome de Deus”.
“Sentir-se amado é uma mensagem que recebemos muitas vezes nos
últimos tempos: do Sagrado Coração, de Jesus misericordioso, da
misericórdia como propriedade essencial da Trindade e da vida cristã. A
ternura indica o nosso modo de acolher hoje a misericórdia divina. Ela revela-nos, junto ao rosto paterno, o rosto materno de Deus, de um Deus
apaixonado pelo ser humano, que nos ama com um amor que é infinitamente
maior do que o amor de uma mãe pelo seu filho.”
Segundo o Papa, a ternura é uma palavra benéfica, é o antídoto contra o medo de Deus,
pois no amor não há medo e a confiança vence o medo. Sentir-se amado
significa aprender a confiar em Deus e a dizer-lhe: “Jesus, confio em Ti”.
A Cruz é o sigilo da ternura divina
“Essas e outras reflexões podem aprofundar a busca a fim de dar à Igreja uma teologia ‘saborosa’,
ajudar-nos a viver uma fé consciente, cheia de amor e esperança, e a dobrar
os joelhos, tocados e feridos pelo amor divino. Nesse sentido, a ternura refere-se à paixão. A Cruz é o sigilo da ternura divina que
se busca nas chagas do Senhor. A sua paixão convida-nos a transformar o
nosso coração de pedra num coração de carne, a apaixonar-mo-nos por
Deus.”
A propósito da beleza de amar em nome de Deus, Francisco ressaltou
que “quando uma pessoa se sente realmente amada, é levada também a
amar”.
O ser humano também é capaz de ternura
“Se Deus é ternura infinita, o ser humano, criado à sua imagem, é
também capaz de ternura. A ternura é o primeiro passo para superar o
fechamento de si mesmo e sair do egocentrismo que deturpa a liberdade
humana. A ternura de Deus leva-nos a entender que o amor é o sentido da
vida.”
Segundo o Papa, “somos chamados a derramar no mundo o amor recebido do Senhor”, vivê-lo na Igreja, na família e na sociedade.
Teologia voltada para o serviço da comunidade
“Estas breves pistas apontam para uma teologia a caminho, uma
teologia que sai da constrição na qual às vezes é confinada e com
dinamismo volta-se para Deus, tomando o ser humano pela mão. Uma teologia não narcisista, mas voltada para o serviço da comunidade. Uma teologia que não se contenta em repetir os paradigmas do passado, mas seja a Palavra encarnada.”
“Certamente a Palavra de Deus não muda, mas a carne que é chamada a
assumir, essa sim, muda em todas as épocas. Há muito trabalho, portanto,
para a teologia e sua missão hoje: encarnar a Palavra de Deus para a
Igreja e para o homem do terceiro milénio”, concluiu Francisco.
VATICAN NEWS
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