“O Senhor precisa de nós para denunciar
as injustiças cometidas no silêncio por tantas pessoas!”, disse
Francisco ao celebrar a Santa Missa pelos migrantes.
Manoel Tavares - Cidade do Vaticano
O Santo Padre celebrou uma Santa Missa na manhã de sexta-feira
(06/7), na Basílica do Vaticano, para os Migrantes, por ocasião do quinto
aniversário da sua visita à Ilha de Lampedusa, sul da Itália, primeiro
compromisso do seu Pontificado em terras italianas.
Durante a celebração Eucarística, por intenção dos defuntos e
sobreviventes dos desembarques de imigrantes, como também por aqueles
que os acolhem e assistem, o Papa iniciou a sua homilia com a dura
admoestação do profeta Amós: “Vocês que desprezam os pobres e exterminam
os humildes... anelam ao abatimento do necessitado; e destroem os
miseráveis da terra, ouçam: Eis que virão dias, diz o Senhor Deus, em
que enviarei a fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água,
mas fome de ouvir as Palavras do Senhor”. E o Papa explicou:
Vítimas da cultura do descarte
“A advertência do profeta Amós ainda hoje é de grande atualidade.
Quantos pobres, hoje, são pisoteados! Quantos menores são exterminados!
Todos eles são vítimas da cultura do descarte, denunciada tantas vezes.
Entre eles não posso deixar de citar os migrantes e refugiados, que
continuam a bater às portas das Nações, que gozam de maior bem-estar!”.
A este respeito, Francisco recordou a visita que fez à Lampedusa, sul
da Itália, no início do seu Pontificado, para recordar as vítimas dos
naufrágios. Na ocasião, fez um premente apelo à responsabilidade humana:
“Onde está seu irmão? O grito do seu sangue chega até a mim”. Esta
pergunta de Deus é dirigida a mim, a ti e a todos nós... E, ainda hoje, choramos pela perda de milhares de irmãos. E o Papa acrescentou:
Injustiças cometidas no silêncio
“O Senhor promete restabelecimento e libertação a todos os oprimidos
do mundo. Mas, ele precisa de nós para tornar eficaz a sua promessa;
precisa dos nossos olhos para ver as necessidades dos irmãos e irmãs;
precisa das nossas mãos para socorrer; precisa da nossa voz para
denunciar as injustiças cometidas no silêncio, às vezes, cúmplice, por
tantas pessoas”.
Neste sentido, o Papa falou dos muitos silêncios: o do senso comum; o
da desculpa de “sempre se fez assim”; o silêncio do “nós” contraposto
ao de “vocês”. Por isso, - afirmou -, o Senhor precisa do nosso coração
para manifestar o amor misericordioso de Deus com os últimos, os
excluídos, os abandonados, os marginalizados. E citando a frase
evangélica “Quero misericórdia e não sacrifícios”, uma acusação da
hipocrisia estéril dos que não querem “sujar as mãos”, Francisco
explicou:
Solidariedade: única resposta sensata
“Trata-se de uma tentação, bem presente também nos nossos dias, que se
traduz num fechamento em relação aos que têm direito, como nós, de
segurança e de vida digna; uma tentação que leva a construir muros,
concretos ou imaginários, ao invés de pontes. Diante dos desafios
migratórios de hoje a única resposta sensata é a da solidariedade e da
misericórdia”.
Esta resposta, - disse Francisco – exige uma equacional divisão de
responsabilidades; exige uma avaliação, honesta e sincera, das
alternativas e uma gestão transparente; exige uma política justa que se
coloque a serviço das pessoas, que garanta soluções e segurança,
respeito dos direitos e da dignidade de todos. E citando o comportamento
justo a ser assumido diante de Deus, proposto pelo Salmista “Escolhi o
caminho da fidelidade e do juízo de Deus”, o Papa ponderou:
Sabedoria
“Trata-se de um compromisso de fidelidade e de reto juízo, que,
esperamos, seja levado avante, junto com os governantes da terra e as
pessoas de boa vontade. Por isso, seguimos com atenção o trabalho das
Comunidades internacionais, que enfrentam os desafios das migrações
contemporâneas, conciliando, com sabedoria, solidariedade e subsídio e
identificando recursos e responsabilidades”.
O Santo Padre concluiu a sua homilia, falando em espanhol, para os que
vieram da Espanha, representando os socorristas e os resgatados no Mar
Mediterrâneo.
Aos socorristas o Papa expressou a sua gratidão por encarnarem a
parábola do Bom Samaritano, salvando vidas; aos resgatados, reiterou a sua
solidariedade e encorajamento diante das tragédias, das quais tentam
fugir. E os exortou:
“Peço-vos que continuem a ser testemunhas da esperança num mundo
cada vez mais preocupado com o próprio presente, com pouca visão do
futuro e relutante a partilhar; peço-vos que trilhem, conjuntamente, o
caminho da integração, no respeito pela cultura e leis do país de
acolhimento”.
Francisco despediu-se dos fiéis, presentes na celebração Eucarística,
invocando o Espírito Santo “para que ilumine a nossa mente e inflame os
nossos corações, a fim de superarmos os medos e as inquietações, e nos
transforme em instrumentos dóceis do amor misericordioso do Pai, prontos
a dar a nossa vida aos irmãos e irmãs, como Jesus o fez”
VATICAN NEWS
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