O Papa no encontro pela paz: “Os detentores
do poder devem pôr-se, final e decididamente, ao serviço da paz e não
dos próprios interesses”.
Manoel Tavares - Cidade do Vaticano
O Santo Padre realizou no sábado (07/07) na cidade de Bari, sul da
Itália, um encontro ecuménico de reflexão e oração pela paz no Médio Oriente .
Após o encontro de oração, Francisco e os Patriarcas voltaram para a
Basílica de São Nicolau, onde são custodiadas as relíquias de São
Nicolau, onde mantiveram um encontro privado de diálogo.
O nosso pecado é a incoerência
No término da reunião, o Santo Padre pronunciou um discurso
conclusivo, no Sagrado da Basílica de São Nicolau, dizendo inicialmente:
“Sinto-me muito grato pela partilha que tivemos a graça de viver.
Ajudamo-nos a redescobrir a nossa presença de cristãos no Médio Oriente.
Esta presença será mais profética se testemunharmos Jesus, Príncipe da
paz. Como Igreja, somos tentados, pelas lógicas de poder e lucro,
resolutivas e de conveniência. O nosso pecado é a incoerência entre a fé e
a vida, que obscurece o nosso testemunho cristão”.
Os gritos de guerra se transformarão em cânticos de paz
A Boa Nova de Jesus, crucificado e ressuscitado por amor, - disse
Francisco – veio das terras do Médio Oriente e conquistou o coração do
homem, ao longo dos séculos. A fé dos simples, enraizada no Médio Oriente, é fonte para saciar a nossa sede de paz. Eis o sentido deste
encontro de oração e reflexão, proposto pelo Papa, que afirmou:
“Encorajados, dialogamos fraternalmente. Este é um
sinal de que devemos buscar cada vez mais, o encontro e a unidade, sem
medo das nossas diferenças. O mesmo acontece com a paz, que deve ser
cultivada. Não são as tréguas, com a construção de muros e provas de
força, que trarão a paz, mas a escuta e o diálogo. Somente assim os
gritos de guerra se transformarão em cânticos de paz!”
Basta de usar o Médio Oriente para lucros alheios
Para que isto seja possível - advertiu Francisco –, “é essencial que
os detentores do Poder se ponham, final e decididamente, ao serviço
autêntico da paz e não dos próprios interesses”:
“Basta de os lucros de poucos à custa de muitos! Basta de
ocupações de terras, que dilaceram os povos! Basta prevalecerem as
verdades sobre as esperanças da gente! Basta de usar o Médio Oriente para lucros alheios. A guerra é o flagelo que acomete tragicamente
esta amada região e as suas vítimas são sempre a gente simples”.
Não se pode falar de paz enquanto houver armas
Neste sentido, recordando a martirizada Síria, o Santo Padre disse:
“A guerra é filha do poder e da pobreza. Vence-se renunciando às lógicas
da supremacia e erradicando a miséria. Muitos conflitos são fomentados
também pelos fundamentalismos e os fanatismos, que, em nome da religião,
blasfemam contra o nome de Deus, que é Paz". E o Papa acrescentou:
“A violência é sempre alimentada pelas armas. Não se pode falar de
paz, enquanto houver corrida ao rearmamento. Esta é uma gravíssima
responsabilidade, sobretudo das Nações mais poderosas. Que a lição de
Hiroshima e Nagasaki não transforme as terras do Oriente, onde nasceu o
Verbo da Paz, em obscuros silêncios. Basta de contraposições
obstinadas! Basta da sede de lucro, que se apodera das jazidas de gás
e de combustíveis, sem respeitar a ‘Casa comum’!
Que haja convivência pacífica, - acrescentou Francisco –! Que seja
tutelada a presença dos povos minoritários! Que haja cidadania comum e
que os cristãos sejam todos cidadãos, com direitos iguais.
Solução negociada
Por fim, o Papa dirigiu o seu pensamento para Jerusalém, cidade de todos
os povos, cidade única e sagrada para cristãos, judeus e muçulmanos do
mundo inteiro, cuja identidade e vocação devem ser preservadas e cujo
“status quo” seja respeitado, conforme a deliberação da Comunidade
Internacional e das Comunidades cristãs da Terra Santa:
“Somente uma solução negociada, entre Israelitas e Palestinianos,
firmemente desejada e favorecida pela Comunidade das Nações, poderá
contribuir para uma paz estável e duradoura e garantir a coexistência de
dois Estados para dois Povos”.
O clamor das crianças
O pensamento do Santo Padre dirigiu-se às numerosas crianças, que, no
Médio Oriente, choram pelas mortes violentas das suas famílias e se vêm
obrigadas a fugir. Esta é a morte da esperança! Que a humanidade ouça o
clamor das crianças, - pediu encarecidamente o Papa -. Somente enxugando
as suas lágrimas o mundo encontrará a sua dignidade. Enfim, Francisco
advertiu:
“Que o Médio Oriente não seja mais uma ‘arca de guerra’ entre os
Continentes, mas uma ‘arca de paz’, que acolhe os povos e as confissões
religiosas. Querido Médio Oriente, que sejam dissipadas as vossas trevas
de guerra, do poder, da violência, dos fanatismos, dos lucros iníquos,
da exploração, da pobreza, da desigualdade e do não reconhecimento dos
direitos humanos. Que em toda a região reinem a Paz e a Justiça e que a
bênção de Deus desça sobre todos os seus habitantes”.
Ao terminar este encontro de oração e reflexão com os Patriarcas,
pela Paz no Médio Oriente , o Papa Francisco transferiu-se para o
Arcebispado de Bari para o almoço com os Patriarcas e líderes de outras
Confissões religiosas.
Trecho do discurso do Santo Padre
VATICAN NEWS
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