Ainda que “o
governo seja surdo”, não se deve perder a esperança, “Deus nos salvará”,
disse ao Vatican News o padre Victor Rivas, secretário da Conferência
Episcopal na Nicarágua.
Patricia Ynestroza e Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
A imagem das Irmãs rezando diante dos militares nicaraguenses,
representa um emblemático testemunho de um povo que reza e espera pelo
diálogo, não obstante a violência por parte das forças policiais,
paramilitares e grupos simpatizantes do governo de Daniel Ortega.
A operação deflagrada no domingo para remover as barricadas
levantadas por manifestantes em ruas e estradas de várias cidades do
país, custou a vida de muitas pessoas. Os mortos desde o início dos
protestos em abril ultrapassa os 350. A este trágico balanço, soma-se um
número impreciso de feridos, presos e desaparecidos.
O padre Victor Rivas, secretário da Conferência Episcopal da
Nicarágua, falou ao Vatican News sobre este trágico cenário. Se a
oposição respondesse com a mesma violência – observa – seria um massacre
de proporções ainda maiores. Ele recordou que a Igreja procurou mediar o
conflito, promovendo o diálogo.
Igreja, alvo de ataques e ameaças
A Igreja Católica no país, além de continuar a acreditar no diálogo,
oferece refúgio às pessoas que fogem da repressão e socorre os feridos.
Mas agora – explica o padre Rivas – o governo nicaraguense considera a
Igreja como um inimigo. Por isto, passou a sofrer ataques e as mesmas
consequências daqueles que protestam. São verificados ataques diretos
contra igrejas, casas paroquiais, estruturas da Igreja.
Nicarágua precisa de oração
A esperança é que o diálogo não se apague. Somente por este caminho
“se pode encontrar um pouco de luz nesta obscuridade”. O diálogo –
reitera o padre Victor Rivas – é a única solução para colocar fim ao
conflito.
O secretário da Conferência Episcopal da Nicarágua recorda depois que
a comunidade internacional deu todo o apoio necessário. Em mais de que uma
ocasião – acrescenta – também as Nações Unidas expressaram a sua
solidariedade ao povo nicaraguense.
Ainda que “o governo seja surdo” – sublinha o padre Rivas – não se deve
perder a esperança, “Deus nos salvará”. A nossa força é a oração.
A Nicarágua – conclui o sacerdote – tem necessidade de oração: “Temos
necessidade ainda destas orações, porque darão a força e a paz aos
nossos corações”.
Igreja e o socorro aos feridos
A Fundação de direito Pontifício Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) recorda que a Igreja na Nicarágua também está a sofrer com a
repressão. “A 9 de julho, o purpurado foi agredido por paramilitares na
Basílica de San Sebastián, em Diriamba, junto ao seu auxiliar, Dom José
Silvio Báez, e ao núncio apostólico Waldemar Stanislaw Sommertag.
A 16 de julho, o bispo de Estelí, Abelardo Mata, saiu ileso de um
atentado quando o seu carro foi alvejado por forças paramilitares.
O cardeal Brenes afirmou que a Igreja está na linha de frente no
socorro aos feridos. E o facto de dar refúgio a manifestantes e socorrer
os feridos, acabou desagradando o governo que passou a atacá-la. O
purpurado pede que seja formada uma corrente de oração para apoiar
concretamente os sacerdotes com as intenções nas Missas.
O ataque à Igreja da Misericórdia
Na noite da última sexta-feira, 200 estudantes que protestavam na
Universidade Autónoma da Nicarágua e alguns jornalistas procuraram refúgio
na Igreja da Divina Misericórdia, em Manágua. O local foi cercado por
paramilitares. Graças à mediação do núncio e do pároco, os estudantes
feridos puderam sair ainda na noite de sexta-feira e o restante grupo
saiu escoltado pelo cardeal Brenes, pelo núncio e pela Cruz Vermelha, no
sábado, em direção à catedral de Manágua.
Dois estudantes foram mortos na Catedral. As marcas dos disparos estão
por toda a parte e não pouparam nem mesmo um quadro de Jesus da
Misericórdia que ficou perfurado por três tiros. No momento em que
começam os disparos, o pároco pediu que denunciem os paramilitares
que estavam a atacar a igreja.
Igreja passou a ser alvo da repressão do governo nicaraguense
VATICAN NEWS
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