24 julho, 2018

A mensagem da Santa Brígida para a Europa

 
 
A Igreja recorda neste dia 23 de julho, Santa Brigida, declarada co-Padroeira da Europa em 1999 por São João Paulo II. Na entrevista ao Vatican News, a Madre Hilaria Vieyra, Vigária Geral da Ordem do Santíssimo Salvador, fala sobre essa mulher extremamente moderna e a atualidade de sua mensagem.
 
Debora Donnini - Cidade do Vaticano

"A mensagem de Santa Brígida hoje é tão atual quanto era em sua época: a Europa é tão marcada pelo secularismo, pelo materialismo e também pelo ódio. Hoje, mais do que nunca, existe a necessidade de viver a mensagem de Santa Brígida, que nos chama à unidade, à paz e à solidariedade".

O forte apelo que a Santa sueca fazia à Europa é reiterado pela Madre Hilaria Vieyra, Vigária Geral da Ordem do Santíssimo Salvador, fundada por Santa Brígida no século XIV e renovada por Santa Maria Isabel Hesslblad no século XX. Mas quem era essa mulher tão moderna e tão importante na história da Igreja, para ser declarada co-Padroeira da Europa? 

Esposa e mãe de 8 filhos
 
Santa Brígida nasceu em 1303 de uma nobre família sueca e, apesar de sentir sua vocação, aceitou casar-se como seu pai queria. Ela tem oito filhos. Com o seu marido Ulf, governador de um importante distrito do Reino da Suécia, ela vive um casamento feliz e de fé. "A vida de Brígida era de oração, de escuta do Evangelho, ela meditou sobre a Paixão de Nosso Senhor e daqui nasce o seu carisma, de união, de paz e de solidariedade", explica Madre Hilaria. 
 
O empenho para o retorno do Papa de Avinhão a Roma
 
A segunda parte da vida de Santa Brígida começa quando fica viúva. "Ele veio a Roma em 1349 para celebrar o Ano Santo de 1350, antes de tudo para ter a aprovação das regras da Ordem que estava a fundar", conta a religiosa.
 
Brígida queria, de facto, fundar uma Ordem composta por freiras e religiosos. "Vindo a Roma, encontra uma situação desastrosa. O Papa estava em Avinhão, não em Roma, o povo romano era como ovelha sem pastor, havia a peste, havia uma guerra entre França e Inglaterra", prossegue Madre Hilaria, sublinhando que “o seu grande amor por Jesus, a levou a fazer com que o Papa  voltasse de Avignon para Roma".

A mulher sueca decide estabelece-se em Roma e nos quartos da Praça Farnese - onde hoje está localizada a Cúria Geral - "recebeu a maior parte das Revelações, mas também em diferentes igrejas de Roma". "Santa Brígida, de facto, tira a sua mensagem do Evangelho, da união com Jesus, do seu ardente amor ao Crucifixo".

O coração da sua missão e da sua contemporânea Santa Catarina da Sena, portanto, será pedir fortemente ao Papa para que retorne ao túmulo de Pedro. Ela não verá o Papa retornar a Roma, porque Urbano V retornará mas apenas por um breve período de tempo. Ela veio a falecer em 1373, enquanto será Catarina a  testemunhar o retorno definitivo do Papa Gregório XI em 1377. "Santa Brígida – recorda Madre Hilaria - não somente rezou e fez sacrifícios, mas falou diretamente com o Papa, os cardeais, os príncipes da Europa". 

A paz na Europa

A outra "frente" em que se empenhou com força, foi a paz na Europa. Intercede para que tenha fim a Guerra dos Cem Anos entre a França e a Inglaterra. As suas obras de caridade foram decisivas nesse período. Ela, que tinha sido nobre, vivia na pobreza, encontrando-se também a pedir esmolas nas portas das igrejas. São os anos de peregrinação a várias partes da Itália: de Assis a Gargano. E, por fim, de peregrinação em peregrinação, chega à Terra Santa. Ela tinha quase setenta anos, mas isso não a impede. 
 
A mística
 
Central na sua experiência de fé, a Paixão de Cristo e a Virgem Maria. Testemunham isto o rosário brigidino e as orações, ligadas a particulares graças prometidas por Jesus àqueles que as recitassem. 
 
Santa Brígida e os Papas
 
Canonizada em 1391 por Bonifácio IX, Santa Brígida é a santa padroeira da Suécia. Foi declarada em 1999 co-Padroeira da Europa por São João Paulo II. "Indicando-a como co-Padroeira da Europa, tem a intenção de fazer com que a sintam próxima não somente aqueles que receberam a vocação a uma vida de especial consagração, mas também aqueles que são chamados às ocupações comuns da vida laical no mundo e especialmente à alta e exigente vocação de formar uma família cristã", escreveu S. João Paulo II na sua Carta Apostólica em forma de Motu Proprio com a qual a proclamava, de facto, co-Padroeira da Europa, juntamente com Santa Catarina de Sena e Santa Teresa Benedita da Cruz.
 
O Papa também salientou que "a Igreja, mesmo sem nunca se ter  pronunciado sobre cada uma das revelações, acolheu a autenticidade do conjunto da sua experiência interior" e cerca de um mês mais tarde, na celebração ecuménica em memória de Santa sueca, recordou o seu empenho "pela unidade da fé e da Igreja".

Bento XVI, em 2010, a ela dedicou uma catequese de uma Audiência Geral, ligando a sua figura à busca da plena unidade de todos os cristãos: "Santa Brígida - disse - testemunha como o cristianismo permeeou profundamente a vida de todos os povos” da Europa.

Maria Isabel Hesselblad, que renovou a Ordem no século XX dando a ela um forte caráter ecuménico, foi canonizada em 2016 pelo Papa Francisco. 

As brigidinas hoje e o ecumenismo

"Nós oferecemos a nossa vida por este propósito: a unidade dos cristãos. Fazemo-lo em silêncio, na oração, na Eucaristia ... em todas as nossas casas praticamos a hospitalidade, acolhemos não somente os peregrinos escandinavos, e oferecemos o nossa serviço de humildade, de caridade e de simplicidade com uma finalidade ecuménica", diz ainda Madre Hilaria, sublinhando que na casa, na Praça Farnese, Santa Maria Isabel Hesselblad durante a Segunda Guerra Mundial, escondeu muitas pessoas, “escondeu judeus. Ela, como Santa Brígida - conclui - era uma mulher forte e corajosa, com um grande amor pelo Senhor, que a levou a fazer o bem, ajudava os pobres, acolhendo-os, com aquele grande amor que se via nela. Ela dizia isto às suas filhas ... e nós tentamos seguir o exemplo dela!"

VATICAN NEWS

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