Os mandamentos são diálogo, reitera o Papa
(Vatican Media)
"Deus impõe-me as coisas ou cuida de mim?
Os seus mandamentos são somente uma lei ou contém uma palavra? Deus é
patrão ou Pai? Somos súbditos ou filhos? Este combate, dentro e fora de
nós, apresenta-se continuamente", disse o Papa Francisco na sua
catequese na Audiência Geral desta quarta-feira.
Cidade do Vaticano
A forma como vemos Deus – patrão ou Pai – fará com que raciocinemos
como filhos ou escravos. E o mundo tem necessidade de cristãos com o
coração de filhos.
“Dez Palavras” para viver a Aliança”: na Audiência Geral desta
quarta-feira – realizada na Praça São Pedro e na Sala Paulo VI - o Papa
Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre os Mandamentos,
explicando a diferença entre uma “ordem” e uma “palavra”, que é o meio
essencial da relação como diálogo.
Ao iniciar a sua reflexão, o Santo Padre explicou aos mais de 13 mil
presentes na Praça São Pedro, que Jesus não veio abolir a lei, mas
levá-la ao cumprimento, mas “devemos compreender melhor esta
perspetiva”.
Veja também: Audiência Geras de 20 de junho de 2018
Na Bíblia, os mandamentos não vivem por si mesmos, mas são “parte de
um relacionamento, de uma relação”, a da Aliança entre Deus e seu Povo.
A frase “Deus pronunciou todas estas palavras” no início do capítulo
20 Livro do Êxodo, podem parecer um início como outro qualquer, mas
Francisco ressalta que não é dito “estes mandamentos”, mas “estas
palavras”.
A tradição hebraica chamará sempre o Decálogo de "as dez Palavras".
Mesmo na forma de leis, são objetivamente mandamentos. Mas porque,
então, o Autor sagrado usa precisamente aqui, a expressão "dez
palavras" e não "dez mandamentos?
Ordem x Palavra
E que diferença existe entre uma ordem e uma palavra?, pergunta:
“A ordem é uma comunicação que não requer o diálogo. A palavra,
pelo contrário, é o meio essencial da relação como diálogo. Deus Pai
cria por intermédio da sua palavra, e o seu Filho é a Palavra feita carne. O
amor nutre-se de palavras e assim a educação ou a colaboração. Duas
pessoas que não se amam, não se conseguem comunicar. Quando alguém fala
ao nosso coração, a nossa solidão acaba. Recebe uma palavra, acontece a
comunicação. E os mandamentos são palavras de Deus. Deus comunica-se com
estas dez Palavras e espera a nossa resposta”.
O Papa refere-se então ao n. 142 da Evangelii gaudium,
justamente onde fala que “um diálogo é muito mais do que a comunicação
de uma verdade. Realiza-se pelo prazer de falar e pelo bem concreto que
se comunica entre eles que se querem bem por meio das palavras.
A tentação
Esta diferença não é algo artificial. E voltando-se ao que aconteceu
nos primórdios, recorda que exatamente este é o ponto usado pelo
Tentador, o diabo, desde o início, para enganar o homem e a mulher,
querendo convencê-los de que Deus os proibiu de comer o fruto da árvore
do bem e do mal para mantê-los subjugados:
“O desafio é justamente este: a primeira norma que Deus deu ao
homem, é a imposição de um déspota que proíbe e obriga, ou é o cuidado
de um pai que está a cuidar dos seus pequenos e os protege da
autodestruição? É uma palavra ou uma ordem?”
“A mais trágica entre as mentiras que a serpente diz a Eva – recorda o
Papa – é a sugestão de uma divindade invejosa e possessiva: “Deus não
quer que vós tenhais liberdade”. E “os factos demonstram dramaticamente
que a serpente mentiu”.
Súbditos ou filhos?
“E o homem está diante desta encruzilhada: Deus impõe-me as coisas
ou cuida de mim? Os seus mandamentos são somente uma lei ou contém uma
palavra, para cuidar de mim? Deus é patrão ou Pai? O que pensam?
Somos súbditos ou filhos? (...) Nunca se esqueçam disto. Nunca. Mesmo
nas situações mais difíceis, pensem que têm um Pai que nos ama a
todos (...). Este combate, dentro e fora de nós, apresenta-se
continuamente: mil vezes devemos escolher entre uma mentalidade de
escravos e uma mentalidade de filhos. O mandamento é do patrão, a
palavra é do Pai”.
O Espírito Santo – disse então o Papa – é um Espírito de filho, é o Espírito de Jesus:
“Um espírito de escravos acolhe a Lei de modo opressivo e pode
produzir dois resultados opostos: ou uma vida feita de deveres e de
obrigações, ou uma reação violenta de rejeição. Todo o cristianismo é a
passagem da letra da Lei ao Espírito, que dá a vida. Jesus é a Palavra
do Pai, não é a condenação do Pai. Jesus veio salvar-nos com a sua
palavra, não condenar-nos”.
E vê-se quando um homem ou uma mulher viveram esta passagem, diz o Papa:
"E nós mesmos recordamos se os nossos educadores cuidaram de nós
como pais e mães, ou se nos impuseram regras. Os mandamentos são o
caminho para a liberdade, pois são as palavras do Pai que nos tornam
livres neste caminho”.
“O mundo não tem necessidade de legalismos, mas de cuidado. Tem
necessidade de cristãos com o coração de filhos, tem necessidade de
cristãos com o coração de filhos. Não se esqueçam disto”.
Viagem a Genebra
Ao saudar os peregrinos de língua alemã, o Papa disse: “Rezem por mim e pela minha peregrinação ecuménica a Genebra, amanhã”.
VATICAN NEWS
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