27 junho, 2018

Consistório e cardeais: uma história que viaja no tempo

 
Pio XI no Consistório de 1935
 
As origens do Consistório: uma viagem no tempo com textos, para compreender a riqueza de hoje. 
 
Cidade do Vaticano

No Consistório Ordinário público desta quinta-feira (28/06), serão criados pelo Papa Francisco 14 novos cardeais. A história do cardinalato tem origens longínquas. A palavra deriva do latim “cardo/cardinis”, em português “gonzo ou eixo”, algo que gira, neste caso, em torno do Papa. De facto, o papel dos cardeais está estreitamente ligado não apenas com a eleição do Pontífice, mas à colaboração com o Papa na sua função de Pastor da Igreja universal, como explica o Código de Direito Canónico em mérito. 

A origem dos cardeais
Na Igreja antiga o Papa tinha como colaboradores alguns presbíteros responsáveis pelo cuidado das mais antigas igrejas de Roma, diáconos que administravam o Palácio de Latrão e os sete departamentos de Roma, e os bispos suburbicários, ou seja das dioceses próximas de Roma. A partir dos colaboradores nasceram os cardeais e as três ordens: os cardeais-bispos, os cardeais-presbíteros e os cardeais-diáconos.

Mas foi com Nicolau II, em 1059, que a eleição foi reservada apenas aos cardeais bispos romanos e não mais ao clero da Diocese de Roma. Em 1179, Papa Alexandre III ampliou este direito a todos os cardeais, e foi no século XII que começaram a ser nomeados cardeais também os prelados residentes fora de Roma. 

Quem pode ser nomeado cardeal
Até ao século XX os leigos também podiam ser nomeados cardeais e logo depois recebiam a ordenação diaconal, mas em 1918 Bento XV decidiu que todos os cardeais deveriam ser ordenados presbíteros. João XXIII decidiu que deveriam ser ordenados bispos. Atualmente os cardeais podem ser livremente eleitos pelo Papa entre os clérigos que tenham recebido pelo menos o presbiterado. De facto, os últimos três Papas, elevaram à dignidade cardinalícia também sacerdotes com mais de 80 anos, portanto sem direito a voto no Conclave. 
 
O Consistório
Os novos cardeais são criados no Consistório. Voltando atrás no tempo pode-se ver como o termo tenha as suas origens na antiga Roma: o “sacro consistório” era o conselho privado do imperador formado pelos seus colaboradores mais próximos. Portanto os Consistórios são reuniões do Colégio Cardinalício e dividem-se em ordinários e extraordinários: os primeiros com os cardeais residentes em Roma, enquanto que nos extraordinários devem participar todos os cardeais. O Consistório para a criação de cardeais é o Ordinário Público.
 
Também é interessante saber que nem todos os nomes dos cardeais são conhecidos com antecedência, pois há casos raros em que o nome não é revelado por razões de perigo e portanto para protegê-los. 

O Conclave
No Conclave, os cardeais elegem o Pontífice. Enquanto nos primeiros séculos o número oscilava entre 20 e 40, mas com o Papa Sisto V, em 1586, foi fixado em 70, e por fim Paulo VI elevou o número de cardeais eleitores para um máximo de 120. Um limite confirmado pelos Sucessores, com algumas derrogações. Atualmente o Colégio conta com 212 cardeais, dos quais 114 eleitores e 98 não eleitores, e com o Consistório desta quinta-feira (28/06) somar-se-ão outros 14 novos cardeais, dos quais 3 não eleitores.
 
Foi o próprio Paulo VI com a Carta Apostólica Ingravescentem Aetatem a estabelecer o limite de 80 anos para os cardeais que elegem o Papa. Hoje os cardeais são provenientes dos cinco continentes e precisamente de 83 países.

Entre os cardeais há o Decano do Colégio cardinalício, que é eleito e preside o Colégio dos Cardeais e o Conclave. Também há a figura do Camerlengo que administra os bens da Santa Sé, assume a sede vacante e convoca o Conclave. O primeiro dos cardeais-diáconos chama-se protodiácono (que é cardeal há mais tempo) e deve anunciar ao povo cristão a eleição do novo Papa com o conhecido Habemus Papam. 

Os sinais
Os sinais que distinguem a nomeação cardinalícia são a designação de uma igreja de Roma (Título ou Diaconia), o anel, em uso desde o século XII, e o barrete vermelho púrpura. Uma cor que caracteriza as vestes dos purpurados e retoma o sinal de disponibilidade ao martírio. 
 
Papa Francisco e os cardeais
Nos Consistórios realizados pelo Papa Francisco, ele recordou a todos os novos cardeais a sua vocação a servir. “Ele não vos chamou para vos tornardes ‘príncipes’ na Igreja, para vos ‘sentardes à sua direita ou à sua esquerda’. Chama-vos para servir como Ele e com Ele. Para servir ao Pai e aos irmãos”, disse no Consistório público de 28 de junho de 2017.
 
Convidou também para gastar a própria vida apoiando a esperança do povo, como “sinais de reconciliação”. “Amado irmão neo-cardeal – disse em 2016 - o caminho para o céu começa na planície, no dia-a-dia da vida repartida e partilhada, de uma vida gasta e doada: na doação diária e silenciosa do que somos. O nosso cume é esta qualidade do amor; a nossa meta e aspiração é procurar na planície da vida, juntamente com o Povo de Deus, transformar-nos em pessoas capazes de perdão e reconciliação”.

Outras significativas palavras do Papa foram no Consistório de 2015, quando recordou aos neo-cardeais que o chamamento é para serem homens de esperança e caridade e no ano anterior disse, para serem homens de paz.

Também recorda-se que o Papa Francisco, com um Quirógrafo de 2013, instituiu no Conselho de Cardeais, chamado C9, para coadjuvá-lo no governo da Igreja universal e propor a revisão da Constituição Apostólica Pastor bonus sobre a Cúria Romana.

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