2015 com Francisco
Em 2015 muitos foram os encontros, celebrações, viagens, mensagens, homilias, discursos e atitudes que marcaram o pontificado do Papa Francisco: as viagens apostólicas ao Sri Lanka e às Filipinas, à Bolívia, ao Paraguai, ao Equador, a Cuba e aos Estados Unidos da América; a Encíclica “Laudato Si”; o Sínodo dos Bispos sobre a Família e tantos outros momentos excecionais e alguns que se tornaram em absolutamente normais, tais como, as Missas em Santa Marta de cujas homilias a RV dá notícia em primeira mão.
Neste último dia do ano recordamos duas fotos especiais do Papa
Francisco em África: uma no Quénia, na sua visita a Kangemi, o bairro de
lata de Nairobi; a outra foto na República Centro Africana na abertura
da Porta Santa de Bangui no Jubileu da Misericórdia.
No bairro de lata no Quénia
Nairobi, 27 de Novembro – um início de manhã especial para o bairro
de Kangemi, um dos 7 bairros de lata de Nairobi: grande entusiasmo entre
os habitantes; presentes também muitas pessoas vindas de outros bairros
da capital. O Papa Francisco foi à Igreja Paroquial de S. José
Operário, animada por uma comunidade de jesuítas.
O Santo Padre ouviu os testemunhos de alguns dos habitantes do bairro
e de uma religiosa que vive naquele lugar. Destaque para um filme que
foi apresentado ao Papa onde se podem ver esgotos a céu aberto, barracas
e estradas na lama, os pequenos negócios com que as pessoas vivem, e
também as comunidades em oração e as crianças que jogam à bola.
Nas palavras que proferiu o Papa não poderia ter sido mais direto: “sinto-me em casa” – disse:
“Sinto-me em casa, partilhando este momento com irmãos e irmãs que
têm um lugar preferencial na minha vida e nas minhas opções, não me
envergonho de o dizer. Estou aqui porque quero que saibais que as vossas
alegrias e esperanças, as vossas angústias e as vossas dores não me são
indiferentes. Conheço as dificuldades que encontrais dia-a-dia! Como
podemos não denunciar as injustiças?”
O Papa denunciou as injustiças e a marginalização promovida por
“minorias que concentram o poder e a riqueza”, pediu trabalho para todos
e declarou ainda “que todas as famílias tenham um teto digno, acesso à
água potável, instalações sanitárias, energia segura para iluminar,
cozinhar, que possam melhorar as suas casas, que todos os bairros tenham
estradas, praças, escolas, hospitais”.
O Papa Francisco denunciou ainda a “apropriação de terras por parte
de investidores privados sem rosto, que pretendem mesmo apoderar-se do
pátio das escolas”. Ao mesmo tempo denunciou a criminalidade organizada
que usa os mais jovens nas suas actividades ilícitas.
O Santo Padre recordou também que o mundo tem uma “grave dívida
social” para com os pobres que não têm acesso à água potável, criticando
quem acaba por lucrar com a exploração daquele que é um direito
universal.
Mas o Papa quis colocar em realce um aspeto nem sempre reconhecido e
que é a sabedoria dos bairros populares: uma sabedoria que provêm de uma
“obstinada resistência daquilo que é autêntico”, e que uma frenética
sociedade de consumo parece ter esquecido:
“Reconhecer estas manifestações de vida boa que crescem cada dia
entre vós, não significa, de modo algum, ignorar a terrível injustiça da
marginalização urbana. São as feridas provocadas pelas minorias que
concentram o poder, a riqueza e perduram egoisticamente, enquanto a
crescente maioria tem que refugiar-se em periferias abandonadas,
poluídas e descartadas.”
O Papa Francisco fez um apelo especial a todos os cristãos, em
particular aos pastores, a renovarem o ímpeto missionário e a tomarem
iniciativas contra as tantas injustiças e a envolverem-se nos problemas
dos cidadãos e a acompanhá-los nas suas lutas, a apoiarem os frutos do
seu trabalho colectivo e a celebrarem com eles cada pequena ou grande
vitória.
Jubileu na Catedral – a Porta Santa de Bangui
Neste momento de viragem de 2015 para 2016, recordamos um momento
essencial para os próximos tempos da Igreja: o Ano Santo da Misericórdia
que começou em África em Bangui. Dulce Araújo e Bernardo Suate
recordam-nos esse momento com o trabalho que realizaram na tarde desse
domingo dia 29 de novembro de 2015.
Na Catedral de Bangui, o Papa Francisco procedeu à abertura da Porta
Santa, dando assim início ao Jubileu Extraordinário do Ano da
Misericórdia na República Centro-Africana, Jubileu proclamado pelo Papa a
11 de abril deste ano. Na homilia da Missa, participada por sacerdotes,
religiosos, seminaristas e milhare de fiéis da RCA, o Papa disse ante
de tudo que Deus guiou os seus passos até esta terra, precisamente
quando a Igreja universal se prepara para inaugurar o Ano Jubilar da
Misericórdia. E na pessoa dos presentes Francisco saudou o pvo da RCA:
“Através de vós, quero saudar todos os centro-africanos, os doentes,
as pessoas idosas, os feridos pela vida. Talvez alguns deles estejam
desesperados e já não tenham força sequer para reagir, esperando apenas
uma esmola, a esmola do pão, a esmola da justiça, a esmola dum gesto de
atenção e bondade».
Em seguida o Papa convidou a todos a confiar na força e no poder de
Deus que curam o homem, convidando-os a «passar à outra margem», como
diz o moto da visita do Papa à RCA, uma travessia, reiterou o Papa, que
não faremos sozinhos mas juntamente com Jesus. E Francisco sublinhou:
« Devemos estar cientes de que esta passagem para a outra margem só
se pode fazer com Ele, libertando-nos das concepções de família e de
sangue que dividem, para construir uma Igreja-Família de Deus, aberta a
todos, que cuida dos mais necessitados. Isto pressupõe a proximidade aos
nossos irmãos e irmãs, isto implica um espírito de comunhão. Não se
trata primariamente duma questão de recursos financeiros; realmente
basta compartilhar a vida do Povo de Deus, dando a razão da esperança
que está em nós e sendo testemunhas da misericórdia infinita de Deus”.
Na verdade, depois de nós mesmos termos feito a experiência do
perdão, devemos perdoar, pois uma das exigências essenciais da vocação à
perfeição é o amor aos inimigos, um amor que nos protege contra a
tentação da vingança e contra a espiral das retaliações sem fim, disse
Francisco que também acrescentou:
“Consequentemente os agentes de evangelização devem ser, antes de
mais nada, artesãos do perdão, especialistas da reconciliação, peritos
da misericórdia. É assim que podemos ajudar os nossos irmãos e irmãs a
«passar à outra margem», revelando-lhes o segredo da nossa força, da
nossa esperança, e da nossa alegria que têm a sua fonte em Deus, porque
estão fundadas na certeza de que Ele está connosco no barco”.
“A todos aqueles que usam injustamente as armas deste mundo, lanço um
apelo: deponde esses instrumentos de morte; armai-vos, antes, com a
justiça, o amor e a misericórdia, autênticas garantias de paz».
2016 será profundamente marcado pelo impulso pastoral que o Ano Santo
da Misericórdia propõe e que começou, como acabamos de recordar, no
passado mês de novembro no centro da África.
A nossa redação de língua portuguesa da Rádio Vaticano aqui estará
durante o ano de 2016, todos os dias e em permanência, para lhe dar o
essencial da informação sobre o Papa, a Santa Sé, a Igreja e os
principais assuntos que marcam a atualidade internacional.
Para todos um Feliz Ano Novo de 2016!
(RS)
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