Será mais fácil dizer sim ou dizer não?
À primeira vista pareceria que seria bem mais
fácil dizer sim.
Dizendo sim, faz-se a vontade do outro e
portanto termina por aí tudo o que uma situação exige, ou seja, o outro fica
contente, agradado, e nada mais exige de nós.
Ao dizer não, são precisas explicações, são
precisos argumentos, para fundamentar o não a algo que nos é pedido, para além
de que, apesar de tudo, ainda podermos incorrer no desagrado do outro e numa
consequente frieza ou fim de uma relação.
Visto assim, poderíamos então inferir que é
mais fácil dizer sim do que dizer não.
Pois, mas não foi assim com a Virgem Maria!
O sim que Ela disse foi bem mais difícil, foi
bem mais complicado, do que o não que Ela poderia ter dito na sua liberdade.
Se dissesse não tudo terminaria ali para a
sua pessoa, e como o outro neste caso era Deus, a sua relação com Ele
continuaria exactamente a mesma, visto que Deus respeita a liberdade de cada um
dos seus filhos, porque os ama com amor eterno.
Mas o sim de Maria foi bem mais difícil por
muitas e variadas razões.
Primeiro, porque para dizer sim naquele
momento, (a algo tão inverosímil), era preciso acreditar com fé firme que
aquilo que o anjo Lhe dizia era possível, ou seja, que Deus queria e podia
fazer aquilo para que Lhe pedia o sim.
Segundo, porque era preciso acreditar na sua
humildade, que Ela era digna daquilo que Deus Lhe pedia, abandonando-se e
aceitando a vontade de Deus, apesar de se reconhecer uma simples serva.
Terceiro, porque ficar grávida fora do
casamento, quando se sabia que Ela «não conhecia homem» (Lc 1,34), era naquele
tempo algo tão grave que podia levar à delapidação, à própria morte.
Quarto, porque perante esse estado de
gravidez, aquele a quem Ela tinha sido entregue em casamento, José, podia
repudiá-la com tudo o que isso significava naquela sociedade.
Quinto, porque o normal seria que a própria
família a repudiasse.
Sexto, porque se fosse repudiada e
sobrevivesse teria que, sozinha, alimentar, educar, tomar conta daquele Filho,
que nunca seria aceite na sociedade.
Sétimo, porque se tentasse explicar a alguém
o porquê do seu sim, apenas se ririam na sua cara e mais do que isso,
condená-la-iam por blasfémia ao dizer que estava grávida do Filho de Deus.
E quantas razões mais poderíamos acrescentar,
que à luz das nossas humanas fraquezas, “aconselhavam” um não à “proposta”
feita.
Portanto, as razões para um não eram
incomparavelmente “melhores” do que as razões que poderiam sustentar o sim
naquele momento, e não nos esqueçamos que «Ela se perturbou», (Lc 1,29), pelo
que não estava “fora de si”, mas sim perfeitamente consciente do momento e do
que Lhe era pedido.
Sim, o Sim de Maria, foi o Sim mais difícil
da humanidade e, ao mesmo tempo, o Sim mais importante da humanidade e para a
humanidade.
Obrigado Mãe, porque «acreditaste, que se ia
cumprir tudo o que te tinha sido dito da parte do Senhor.» (Lc 1, 45)
Obrigado Senhor por teres escolhido Maria como
Mãe e obrigado Senhor por no-la teres dado como Mãe também.
Marinha Grande, 25 de Março de 2014
Joaquim Mexia Alves
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