30 março, 2018

Via Sacra no Coliseu: carregarei as dores do Iraque, diz religiosa iraquiana

 
 Via Sacra no Coliseu  (Vatican Media)
 
A irmã Genevieve Al Haday, religiosa iraquiana da Congregação das Dominicanas de Santa Catarina, carregará a Cruz ñuma das XIV Estações da Via Sacra no Coliseu, onde depositará "as esperanças de paz do meu país e de todo o Médio Oriente , a recordação dos seus mártires cristãos e também as lágrimas da solidão de uma senhora idosa de Roma".
 
Cidade do Vaticano

Entre os fiéis que carregarão a cruz na Via Sacra no Coliseu, encontra-se a religiosa iraquiana da Congregação das Dominicanas de Santa Catarina, Irmã Genevieve Al Haday.
Junto a outras religiosas, ela conseguiu escapar da fúria da fação Estado Islâmico na noite entre 6 e 7 de agosto de 2014, e que obrigou cerca de 120 mil cristãos a abandonarem à pressa as suas casas na Planície de Nínive em busca de refúgio em Irbil, no Curdistão iraquiano.

Em entrevista à Daniele Rocchi, da Agência Sir dos bispos italianos, a religiosa afirmou que “na Cruz que levarei, estarão depositadas as esperanças de paz do meu país e de todo o Médio Oriente , a recordação dos seus mártires cristãos e também as lágrimas de solidão de uma senhora idosa de Roma...”.

“Não sei ainda em qual Estação levarei a Cruz”, diz a sorridente religiosa, originária da povoado cristão de Qaraqosh, na Planície de Nínive, um dos tantos invadidos pelo Daesh.

Recordação ainda viva

A recordação da noite de 6 de agosto ainda é viva na sua memória.  “Eu estava no povoado de Telluskof. Com outras quatro irmãs conseguimos entrar num autocarro para Duhok, levando connosco pessoas idosas e com necessidades especiais. Eram dez da noite. Uma distância que normalmente era percorrida em 20 minutos, exigiu três horas”, tempo suficiente para me fazer entender de que estava a testemunhar um verdadeiro “êxodo” dos cristãos de Nínive.
 
“Vi pessoas que caminhavam a pé, carregando o pouco que conseguiram retirar das suas casas em direção ao deserto, sem saber o que encontrariam pela frente.

“Deslocadas entre os deslocados”, permanecemos com a nossa população cristã, dia e noite, pensando sobretudo nas crianças. Hoje, graças a Deus, em Qaraqosh, retornaram 10 mil pessoas e reabrimos uma escola, dois asilos e um orfanatrófio. Isto para nós é um sinal de ressurreição e de esperança. A Cruz salva a todos”.

Renascer dos escombros da guerra

Esta esperança, é a mesma esperança de salvação que a religiosa nutre pelo Iraque e pelos países em guerra do Médio Oriente .

“Nesta Cruz a que fui chamada a carregar – acrescenta a Irmã Genevieve – gostaria de depositar as esperanças de minha terra, o Iraque, que quer renascer das ruínas da guerra. A Páscoa faz-nos olhar para o alto e para o futuro com esperança. Queremos fazer renascer a nossa terra, trabalhando com os irmãos muçulmanos com os quais não temos problemas. A presença dos cristãos no Iraque revela a fidelidade que eles têm pela sua terra. O que queremos é viver em paz num país livre e estável ao lado de todos os outros iraquianos. Somos iraquianos e todos filhos de Deus. Se tiver a possibilidade de encontrar o Papa Francisco pedir-lhe-ei para rezar pelo nosso Iraque, para que permaneça fiel a Jesus”.

 “Que o mundo encontre paz e serenidade, que as populações cristãs e não-cristãs, crentes e não crentes, vivam juntos no respeito recíproco, na caridade, na justiça, no direito. Estes são os valores mais importantes que não devem ser desconsiderados. O mundo tem necessidade de caridade, de fraternidade e de partilha. Nós experimentamos a beleza da fraternidade graças à solidariedade que nos chegou de todas as partes do mundo após a invasão do Isis”.

Lágrimas de solidão

E a fraternidade não conhece limites. “Há três dias uma senhora idosa que vive aqui em Roma, próximo da nossa casa, veio bater à nossa porta. Logo ao entrar, desatou no choro. Eram lágrimas de solidão que me fizeram refletir na solidão de Jesus no Horto das Oliveiras. E então pensei que na Sexta-feira Santa, no Coliseu, naquela pequena Cruz, deveriam estar também as lágrimas desta senhora e daqueles tantos que se sentem sozinhos e abandonados”.

 VATICAN NEWS

Sem comentários:

Enviar um comentário