13 setembro, 2020

Papa: nem tudo se resolve com a justiça, é preciso perdoar para ser perdoado

 
 
"No comportamento divino, a justiça é permeada pela misericórdia, enquanto o comportamento humana limita-se à justiça. Jesus exorta-nos a abrir-mo-nos com coragem ao poder do perdão, porque nem tudo na vida se resolve com a justiça.", disse o Papa no Angelus, ressaltando que temos necessidade desse amor misericordioso de Deus e devemos aplicá-lo em todas as relações humanas.
 
Jackson Erpen – Vatican News

 "Perdoar não é algo só de momento, é uma coisa contínua contra esse rancor, esse ódio que volta. Pensemos no final, deixemos de odiar (...). Quanto sofrimento, quantas lacerações, quantas guerras poderiam ser evitadas se o perdão e misericórdia fossem o estilo de nossa vida!”.

Inspirado na passagem de São Mateus (Mt 18, 21-35), proposta pela liturgia do dia, o Papa dedicou a sua reflexão no Angelus deste XXIV Domingo do Tempo Comum ao perdão, enfatizando que devemos "aplicar o amor misericordioso nas relações humanas."

Dirigindo-se a um número sempre maior de fiéis e turistas presentes na Praça São Pedro para o tradicional encontro dominical, Francisco pediu que a intercessão da Mãe de Deus nos recorde sempre do quanto somos devedores a Deus: “se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados.” 

Patrão indulgente e compassivo

O cerne da parábola do rei misericordioso contada por Jesus é a indulgência que o patrão demonstra para com o servo com a dívida maior.

A súplica "Dá-me um prazo e eu te pagarei tudo" é encontrada duas vezes na parábola, começou por explicar o Papa:
“A primeira vez é pronunciada pelo servo que deve ao seu patrão dez mil talentos, uma soma enorme, hoje seriam milhões de euros. A segunda vez é repetida por outro servo do mesmo patrão. Ele também está em dívida, não com seu senhor, mas com o mesmo servo que tem uma dívida enorme. E a sua dívida é muito pequena, talvez como o salário de uma semana.”
O patrão – conforme descrito pelo evangelista – teve compaixão - nunca esquecer esta palavra. Jesus teve compaixão - , deixou o servo ir -se embora, perdoando a sua dívida. Como a dívida era enorme, o perdão também o foi.

Mas o servo, por sua vez, após perdoado, mostra-se implacável com o seu companheiro que lhe devia uma soma modesta, e manda-o para a prisão até que este liquide a sua pequena dívida. O patrão fica indignado ao saber, chama o servo malvado e faz com que seja condenado: "Mas eu perdoei-te tanto e és incapaz de perdoar este pouco?" 

No comportamento divino, justiça é permeada pela misericórdia

Francisco explica que na Parábola encontramos duas atitudes diferentes: a de Deus - representado pelo rei -  que perdoa tanto, porque Deus perdoa sempre, e a do homem:
“No comportamento divino, a justiça é permeada pela misericórdia, enquanto o comportamento humano limita-se à justiça. Jesus exorta-nos a abrir-mo-nos com coragem ao poder do perdão, porque nem tudo na vida se resolve com a justiça, sabemos disso.”
De facto, “há necessidade desse amor misericordioso”, que é também a base da resposta do Senhor à pergunta de Pedro sobre quantas vezes deve perdoar um irmão que peca contra ele. 

Aplicar o amor misericordioso nas relações humanas

O “setenta vezes sete”, na linguagem simbólica da Bíblia, “significa que somos chamados a perdoar sempre”:
“Quanto sofrimento, quantas lacerações, quantas guerras poderiam ser evitadas se o perdão e misericórdia fossem o estilo de nossa vida! Mesmo em família. Quantas famílias desunidas, que não se sabem perdoar, quantos irmãos e irmãs que têm este rancor. É necessário aplicar o amor misericordioso em todas as relações humanas: entre os cônjuges, entre os pais e os filhos, nas nossas comunidades, na Igreja e também na sociedade e na política.”
Perdoar é uma luta contínua contra o rancor
 
O Papa recordou então a Missa celebrada pela manhã, quando ficou profundamente tocado por uma frase do Livro do Eclesiástico: "Lembra-te do teu fim, e deixa de odiar", exortando ao exercício contínuo do perdão:
“Bela frase! Mas pense no fim! Pensa que estarás num caixão e levarás o ódio para lá. Pensa no final, deixas de odiar! Deixa o rancor. Pensemos nesta frase tão tocante: “Lembra-te do teu fim e deixa de odiar”. E não é fácil perdoar, porque nos momentos tranquilos alguém diz: “Sim, mas eles ou ele aprontaram-me de tudo, mas também eu aprontei tantas. É melhor perdoar para ser perdoado”. Mas então o ressentimento volta, como uma mosca incómoda no verão que vai, vem e volta ... Perdoar não é algo só de momento, é uma coisa contínua contra esse rancor, esse ódio que volta. Pensemos no final, deixemos de odiar.”
Assim - completou o Papa -  esta parábola “ajuda-nos a compreender plenamente o sentido daquela frase que recitamos na oração do Pai-Nosso: «Perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tenha ofendido»:
“Estas palavras contêm uma verdade decisiva. Não podemos pretender o perdão de Deus para nós se, por sua vez, não concedermos perdão ao nosso próximo. É uma condição: pensa no fim, no perdão de Deus e deixa de odiar, manda embora o rancor, aquela mosca incómoda que volta e volta e volta. Se não nos esforçarmos para perdoar e amar, tampouco nós seremos perdoados e amados.”
Confiemo-nos à materna intercessão da Mãe de Deus: que ela nos ajude a perceber o quanto somos devedores a Deus e a recordá-lo sempre, para assim ter o coração aberto à misericórdia e à bondade.

VN

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