"A resposta cristã
à pandemia e às consequentes crises socioeconómicas baseia-se no amor,
antes de tudo, no amor de Deus que sempre nos precede", disse o Papa na
Audiência Geral desta quarta-feira.
Mariangela Jaguraba - Vatican News
“Curar o mundo”. Amor e bem comum. Este foi o tema da catequese do
Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (09/09), realizada
no Pátio São Dâmaso, situado dentro do Vaticano.
Nesta segunda Audiência Geral pública desde o início da pandemia de
coronavírus, Francisco ressaltou que “a crise que estamos a viver devido à pandemia afeta a todos. Podemos sair melhores dela se todos
juntos buscarrmos o bem comum. Ao contrário, sairemos piores”.
Infelizmente, estamos a assistir ao surgimento de interesses de
parte. Por exemplo, há quem deseje apropriar-se de possíveis soluções,
como no caso das vacinas, e depois vendê-las a outros. Algumas pessoas aproveitam-se da situação para fomentar divisões: para procurar
vantagens económicas ou políticas, gerando ou aumentando os conflitos.
Outros simplesmente não se importam com o sofrimento dos outros, passam
adiante e seguem o seu caminho. São devotos de Pôncio Pilatos. Lavam as
mãos.
Resposta cristã à pandemia
Segundo o Pontífice, “a resposta cristã à pandemia e às consequentes
crises socioeconómicas baseia-se no amor, antes de tudo, no amor de Deus
que mos sempre precede. Ele ama-nos em primeiro lugar. Ele precede-nos sempre no amor e nas soluções. Ele ama-nos incondicionalmente, e quando
aceitamos este amor divino, podemos responder de forma semelhante”.
Amo não só aqueles que me amam: a minha família, os meus amigos, o
meu grupo, mas também aqueles que não me amam, amo também aqueles que
não me conhecem, ou que são estrangeiros, e também aqueles que me fazem
sofrer ou que considero inimigos. Esta é a sabedoria cristã, este é o
ensinamento de Jesus. O ponto mais alto da santidade é amar o inimigo,
mas não é fácil. Não é fácil. Claro, amar todos, inclusive os inimigos, é
difícil, diria que é uma arte! Mas é uma arte que pode ser aprendida e
melhorada. O verdadeiro amor, que nos torna fecundos e livres, é sempre
expansivo e inclusivo. Este amor cuida, cura e faz bem. Muitas vezes uma
carícia faz mais bem do que muitos argumentos, uma carícia de perdão e
não muitos argumentos para se defender. É o amor inclusivo que cura.
O amor é inclusivo, social, familiar e político
O Papa disse ainda que “o amor não se limita às relações entre duas
ou três pessoas, amigos, ou família. Inclui as relações cívicas e
políticas, incluindo a relação com a natureza. Sendo nós seres sociais e
políticos, uma das mais altas expressões de amor é o amor social e
político, que é decisivo para o desenvolvimento humano e para enfrentar
qualquer tipo de crise".
"Sem esta inspiração, a cultura do egoísmo, da indiferença, do
descarte, prevalece, a cultura da indiferença, o descarte, ou seja,
descartar quem eu não quero bem, aquele que não posso amar ou aqueles
que me parecem ser inúteis na sociedade. Hoje, na entrada, um casal disse-me: "Reze por nós, pois temos um filho deficiente". Eu perguntei:
"Quantos anos tem ele?" "Muitos". "O que fazem?" "Nós o acompanhamos o ajudamos". Toda uma vida inteira de pais por aquele filho
deficiente. Isto é amor. Os inimigos, os adversários políticos, mesmo no nosso parecer, parecem ser deficientes políticos, sociais. Parecem
ser. Somente Deus sabe se eles são ou não. Nós devemos amá-los, devemos
dialogar, devemos construir esta civilização do amor, esta civilização
política, social, de unidade de toda a humanidade. Ao contrário,
haverá guerras, divisões, invejas, até mesmo guerras na família. O amor é
inclusivo, é social, é familiar, é político. O amor permeia tudo."
O coronavírus mostra-mos que o verdadeiro bem para cada um é um
bem comum, não somente individual e, vice-versa, o bem comum é um
verdadeiro bem para a pessoa. Se uma pessoa busca apenas o seu próprio
bem, ela é egoísta. Ao invés disso, a pessoa é mais, é mais nobre,
quando o seu próprio bem a abre a todos, e o compartilha. A saúde não é
apenas individual, mas também um bem público. Uma sociedade saudável é
aquela que cuida da saúde de todos, de todos.
O verdadeiro amor não conhece a cultura do descarte
“Um vírus que não conhece barreiras, fronteiras, distinções culturais
nem políticas deve ser enfrentado com um amor sem barreiras, fronteiras
nem distinções. Este amor pode gerar estruturas sociais que nos
encorajam a partilhar em vez de competir, que nos permitem incluir os
mais vulneráveis em vez de os descartar, e que nos ajudam a expressar o
melhor da nossa natureza humana e não o pior. O verdadeiro amor não
conhece a cultura do descarte. Não sabe o que é”, sublinhou Francisco.
Segundo o Papa, “quando amamos e geramos criatividade, confiança e
solidariedade, então emergem iniciativas concretas para o bem comum. E
isto é verdade tanto a nível de pequenas e grandes comunidades como a
nível internacional. O que se faz na família, no bairro, nos vilarejos,
nas grades cidades e internacionalmente é a mesma coisa. É a mesma
semente que cresce, cresce e dá fruto. Se na família, no bairro
começas com a inveja, com a luta, haverá guerra no final. Ao contrário, se
começares com amor, compartilhando amor, perdão, será amor e perdão para
todos. A seguir, acrescentou:
Pelo contrário, se as soluções para a pandemia tiverem a marca do
egoísmo, quer de pessoas, empresas ou nações, talvez consigamos sair do
coronavírus, mas certamente não da crise humana e social que o vírus
evidenciou e acentuou. Portanto, atenção para não construir sobre areia!
Para construir uma sociedade saudável, inclusiva, justa e pacífica,
devemos fazê-lo sobre a rocha do bem comum. O bem comum é uma rocha. E
esta é a tarefa de todos, e não apenas de alguns especialistas. Santo
Tomás de Aquino disse que a promoção do bem comum é um dever de justiça
que recai sobre todos os cidadãos. Todo cidadão é responsável pelo bem
comum. E, para os cristãos, é também uma missão. Como ensina Santo
Inácio de Loyola, orientar os nossos esforços diários para o bem comum é
uma forma de receber e difundir a glória de Deus.
Uma boa política é possível
“Infelizmente”, disse ainda Francisco, “a política muitas vezes não
goza de boa reputação, e nós sabemos porquê. Isto não significa que os
políticos sejam todos maus, não, não estou a dizer isso. Estou a dizer que, infelizmente, a política muitas vezes não tem uma boa reputação".
"É possível na medida em que cada cidadão e, em particular, aqueles
que assumem compromissos e encargos sociais e políticos, enraízam as
suas ações em princípios éticos e os animam com amor social e político.
Os cristãos, especialmente os fiéis leigos, são chamados a dar bom
testemunho disso e podem fazê-lo através da virtude da caridade,
cultivando a sua intrínseca dimensão social."
O Papa concluiu a sua catequese, afirmando que “chegou o momento de
aumentar o nosso amor social, contribuindo todos, começando pela nossa
pequenez. O bem comum requer a participação de todos. Se cada um
contribuir com a sua parte, e se ninguém for excluído, podemos regenerar
boas relações no âmbito comunitário, nacional e internacional e também
em harmonia com o meio ambiente. Assim, nos nossos gestos, mesmo os mais
humildes, algo da imagem de Deus que levamos dentro de nós tornar-se-á
visível, porque Deus é Trindade. Deus é amor. Esta é a mais bonita
definição de Deus que está na Bíblia, dada a nós pelo apóstolo João que
tanto amava Jesus: Deus é amor. Com a sua ajuda, podemos curar o mundo
trabalhando juntos para o bem comum, não apenas para o meu bem, mas para
o bem comum de todos”.
VN
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