11 abril, 2019

Papa aos líderes do Sudão do Sul: fogo da guerra se apague de uma vez por todas


Papa Francisco com os líderes do Sudão do Sul  (Vatican Media)

“Imploro que o fogo da guerra se apague de uma vez por todas, que possam voltar para as vossas casas e viver em serenidade. Suplico ao Deus Todo-Poderoso que a paz chegue à vossa terra, e dirijo-me também aos homens de boa vontade a fim de que a paz chegue a ão seu povo”, disse o Papa aos líderes do Sudão do Sul. Francisco confirmou o desejo e esperança de proximamente visitar o país 

Cidade do Vaticano 

“A finalidade deste retiro é estar juntos diante de Deus e discernir a sua vontade; é refletir sobre a própria vida e sobre a missão comum que nos confia; é tornar-se conscientes da enorme responsabilidade pelo presente e pelo futuro do povo sul-sudanês; é comprometer-se, revigorados e reconciliados, com a construção da vossa Nação.”

Foi o que disse o Papa Francisco na tarde desta quinta-feira (11/04) ao líderes do Sudão do Sul, reunidos na Casa de Santa Marta, no Vaticano, no encerramento do retiro espiritual de dois dias proposto às máximas autoridades civis e eclesiásticas do jovem país africano, independente do Sudão desde julho de 2011. 

Buscar o que os une e superar aquilo que os divide 

Num discurso articulado em três pontos – uma ampla Saudação inicial e contextualização, Olhar de Deus, e Olhar do povo – com uma Oração final, Francisco fez uma forte exortação aos líderes sul-sudaneses a procurar aquilo que os une, a começar pela pertença ao mesmo povo, e a superar tudo aquilo que os divide.

Após ter agradecido pela boa vontade e o coração aberto com o qual acolheram seu convite a participar neste retiro no Vaticano, dirigiu uma saudação particular ao arcebispo de Cantuária e primaz da Comunhão Anglicana, Justin Welby, idealizador desta iniciativa, bem como ao ex-Moderador da Igreja Presbiteriana da Escócia, Rev. John Chalmers. 

Paz, condição fundamental para o desenvolvimento integral 

Desejo dirigir-me a todos vós com as mesmas palavras do Senhor ressuscitado: “A Paz esteja convosco!”, disse o Santo Padre no início da sua reflexão. “Desejo-vos a mesma saudação, que vieram de um contexto de grande tribulação para si e para seu povo, um povo muito sofrido pelas consequências dos conflitos”, acrescentou.

“A paz é o primeiro dom que o Senhor nos trouxe e é a primeira tarefa que os chefes das nações devem procurcar: ela é a condição fundamental para o respeito dos direitos de todo homem, bem como para o desenvolvimento integral do povo na sua totalidade.” 

Particularidade do encontro, num certo sentido, único 

Referindo-se à natureza deste encontro de dois dias no Vaticano, o Pontífice destacou que o mesmo é totalmente particular e, num certo sentido, único, por não se tratar de um habitual e comum encontro bilateral ou diplomático entre o Papa e os chefes de Estado e nem mesmo de uma iniciativa ecuménica entre os representantes das várias comunidades cristãs.

A palavra “retiro”, por si mesma, já indica um distanciamento voluntário de um ambiente ou uma atividade para um lugar apartado. E o adjetivo “espiritual” sugere que este novo espaço de experiência “é caracterizado pelo recolhimento interior, pela oração confiante, pela reflexão ponderada e pelos encontros reconciliadores, para poder trazer bons frutos para si mesmos e, consequentemente, para as comunidades às quais pertencemos”, explicou Francisco. 

Os pobres são preciosos aos olhos de Deus 

“Queridos irmãos e irmãs, não esqueçamos que Deus confiou-nos, líderes políticos e religiosos, a tarefa de serem guias do seu povo: confiou-nos muito, e justamente por isso cobrará muito mais de nós! Pedirá conta de nosso serviço e da nossa administração, do nosso compromisso a favor da paz e do bem realizado para o bem das nossas comunidades, em particular dos mais necessitados e marginalizados, por outras palavras, pedirá conta da nossa vida, mas também da vida dos outros.”

“O gemido dos pobres que têm fome e sede de justiça – continuou – obriga-nos em consciência e empenh-nos no serviço. Eles são pequenos aos olhos do mundo, mas são preciosos aos olhos de Deus.” 

Os três olhares do Senhor sobre o apóstolo Pedro 

Após ressaltar este “aos olhos de Deus”, Francisco recordou os três olhares do Senhor sobre o apóstolo Pedro. O primeiro é quando Jesus fixa o seu olhar em Simão e diz-lhe que dali em diante o chamará de Pedro, sobre cuja “pedra” edificará a sua Igreja.

O segundo olhar dá-se na tarda noite da Quinta-feira Santa. Após tê-lo negado três vezes, Jesus fixa novamente o olhar nele, tocando o seu coração e suscitando a sua conversão. Por fim, após a ressurreição, na margem do lago de Tiberíades, Jesus fixou mais uma vez o olhar sobre Pedro, pedindo-lhe que declarasse o seu amor por três vezes e confiando-lhe novamente a missão de pastor de seu rebanho. 

Desejo ardente de justiça, reconciliação e paz 

Qual é hoje o olhar de Jesus sobre mim? A que me chama? O que o Senhor quer perdoar-me e o que pede para mudar na minha atitude? Qual é a missão e a tarefa que Deus me confia para o bem de seu povo? – foram interrogações feitas por Francisco no discurso aos líderes sul-sudaneses.

Por fim, o Papa destacou também o olhar do povo, “é um olhar que expressa o desejo ardente de justiça, de reconciliação e de paz”. 

Proximidade espiritual do Papa aos sul-sudaneses  

“Neste momento desejo assegurar a minha proximidade espiritual a todos os vossos compatriotas, em particular aos refugiados e aos doentes, que ficaram no país com grandes expetativas e apreensivos, à espera do êxito deste dia histórico”, disse ainda, fazendo um premente apelo:

“Penso incessantemente nessas almas sofredoras e imploro que o fogo da guerra se apague de uma vez por todas, que possam voltar para as vossas casas e viver em serenidade. Suplico ao Deus Todo-Poderoso que a paz chegue à vossa terra, e dirij-me também aos homens de boa vontade a fim de que a paz chegue ao seu povo.” 

A paz é possível! 

Francisco lembrou que a paz é possível! “Mas este grande dom de Deus é, ao mesmo tempo, também um forte compromisso dos homens responsáveis pelo povo”.

Por fim, disse ter tomado conhecimento com grande confiança, em setembro passado, de que os altos representantes políticos do Sudão do Sul tinham estipulado um acordo de paz, congratulando-se e fazendo votos de que cessem as hostilidades e o armistício seja respeitado. 

Desejo e esperança de visitar proximamente o Sudão do Sul 

Francisco concluiu confirmando o seu desejo e esperança de poder proximamente – com a graça de Deus – visitar a amada nação sul-sudanesa, junto aos irmãos ali presentes, o Arcebispo de Cantuária e o ex-Moderador da Igreja Presbiteriana da Escócia.

VN

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