"Uma forma sutil
de triunfalismo é a mundanidade espiritual, que é o maior perigo, a mais
pérfida tentação que ameaça a Igreja. Jesus destruiu o triunfalismo com
a sua Paixão”, disse Francisco, convidando os jovens, nesta Jornada
Mundial da Juventude diocesana, a não terem vergonha de manifestar o seu
entusiasmo por Jesus.
Mariangela Jaguraba - Cidade do Vaticano
O Papa Francisco presidiu a missa, deste Domingo de Ramos e da Paixão
do Senhor (14/04), na Praça de São Pedro, que contou com a participação de
milhares de fiéis.
A liturgia solene da Paixão do Senhor começou com a bênção dos ramos
de oliveira, perto do obelisco situado no centro da Praça São Pedro. A
seguir, houve a procissão até ao adro da Basílica de São Pedro.
Na sua homilia,
Francisco destacou que Jesus mostra-nos no Evangelho deste domingo
“como enfrentar os momentos difíceis e as tentações mais insidiosas,
guardando no coração uma paz que não é isolamento, não é ficar
impassível nem fazer o super-homem, mas confiante abandono ao Pai e à
sua vontade de salvação, de vida e misericórdia”.
Jesus mostra-nos o caminho
Na sua entrada em Jerusalém, Jesus “também nos mostra o caminho.
Nesse acontecimento, o maligno, o príncipe deste mundo, tinha uma carta
para jogar: a carta do triunfalismo, e o Senhor respondeu permanecendo fiel ao seu caminho, o caminho da humildade”.
Segundo o Papa, “o triunfalismo procura tornar a meta mais próxima
por meio de atalhos, falsos comprometimentos. Aposta na subida para o
carro do vencedor. O triunfalismo vive de gestos e palavras, que não
passaram pelo cadinho da cruz; alimenta-se da comparação com os outros,
julgando-os sempre piores, defeituosos e falhos... Uma forma sutil de
triunfalismo é a mundanidade espiritual, que é o maior perigo, a mais
pérfida tentação que ameaça a Igreja. Jesus destruiu o triunfalismo com a
sua Paixão”.
“O Senhor realmente aceitou e alegrou-se com a iniciativa do povo,
com os jovens que gritavam o seu nome, aclamando-o Rei e Messias. O seu
coração rejubilava ao ver o entusiasmo e a festa dos pobres de Israel,
de tal maneira que, aos fariseus que lhe pediam para censurar os
discípulos pelas suas escandalosas aclamações, Jesus respondeu: «Se eles
se calarem, as pedras gritarão». Humildade não significa negar a
realidade, e Jesus é realmente o Messias, o Rei.”
O Pontífice frisou que “ao mesmo tempo o coração de Cristo
encontra-se noutro caminho, no caminho santo que só Ele e o Pai
conhecem: aquele que vai da «condição divina» à «condição de servo», o
caminho da humilhação na obediência «até à morte e morte de cruz».”
Dar espaço a Deus
Jesus “sabe que, para chegar ao verdadeiro triunfo, deve dar-se espaço a Deus; e, para dar espaço a Deus, há somente uma maneira: o despojamento, o esvaziamento de de nós mesmos.
Calar, rezar, humilhar-se. Com a cruz, não se pode negociar: se deve
abraçá-la ou recusá-la. E, com a sua humilhação, Jesus quis abrir-nos o caminho da fé e preceder-nos nele”.
O Papa recordou que, atrás de Jesus, a primeira a percorrer esse caminho “foi a sua Mãe, Maria, a primeira discípula.
A Virgem e os santos tiveram que padecer para caminhar na fé e na
vontade de Deus. No meio dos acontecimentos duros e dolorosos da vida,
responder com a fé custa «um particular aperto do coração». É a
noite da fé. Mas, só desta noite é que desponta a aurora da
ressurreição. Aos pés da cruz, Maria repensou nas palavras com as quais o
Anjo lhe anunciou o seu Filho: «Ele será grande (…). O Senhor Deus dará
a ele o trono do seu pai David, reinará para sempre sobre a casa de Jacó
e o seu reino não terá fim».”
Francisco sublinhou que “no Gólgota, Maria depara-se com a negação
total daquela promessa: o seu Filho agoniza numa cruz como um malfeitor.
Deste modo o triunfalismo, destruído pela humilhação de Jesus, foi
igualmente destruído no coração da Mãe; ambos souberam calar”. Depois de
Maria, vários santos e santas “seguiram Jesus pelo caminho da humildade
e da obediência”.
Jornada Mundial da Juventude diocesana
Celebra-se também neste domingo a 34ª Jornada Mundial da Juventude.
As JMJ são realizadas anualmente no âmbito diocesano, no Domingo de
Ramos. Este ano, o tema da Jornada Mundial da Juventude diocesana é “Eis
aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1,
38)”. A esse propósito o Papa disse:
“Hoje, Jornada Mundial da Juventude, quero lembrar os inúmeros santos
e santas jovens, especialmente os da «porta ao lado», que só Deus
conhece e que às vezes Ele gosta de nos revelar de surpresa. Queridos
jovens, não tenham vergonha de manifestar o vosso entusiasmo por Jesus,
gritar que Ele vive, que é a sua vida. Mas, ao mesmo tempo não
tenham medo de segui-lo pelo caminho da cruz. E quando sentirem que Ele vos pede para renunciar a vós mesmos, para vos despojardes das próprias
seguranças confiando completamente no Pai que está nos céus, então
alegrem-se e exultem! Estão no caminho do Reino de Deus.”
Silêncio de Jesus
Segundo o Papa, “é impressionante o silêncio de Jesus na sua
Paixão. Vence inclusivamente a tentação de responder, de ser
«mediático». Nos momentos de escuridão e grande tribulação, é preciso
ficar calado, ter a coragem de nos calarmos, contanto que seja um calar manso e
não rancoroso”.
“A mansidão do silêncio far-nos-á parecer ainda mais frágeis, mais
humilhados, e então o demónio, ganhando coragem, sairá. Será necessário
resistir-lhe em silêncio, «conservando a posição», mas com a mesma
atitude de Jesus. Ele sabe que a guerra é entre Deus e o príncipe deste
mundo, e não se trata de empunhar a espada, mas de permanecer calmos,
firmes na fé. Enquanto esperamos que o Senhor venha e acalme a
tempestade, com o nosso testemunho silencioso na oração, demos a nós
mesmos e aos outros a «razão da esperança que está em [nós]»”, concluiu
Francisco.
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