(RV) O
Sínodo ordinário dos Bispos sobre a Família foi inaugurado na manhã
deste domingo com a missa presidida pelo Papa Francisco na Basílica de
São Pedro, com a participação de numerosos fieis e naturalmente dos
cerca de 300 bispos e cardeais que, até ao dia 25 deste mês vão
debruçar-se sobre as questões que afectam a família hoje, procurando
propor soluções à luz do Evangelho.
E as leituras bíblicas deste domingo, parecem ter sido escolhidas de
propósito para essa ocasião, fez notar o Papa Francisco, que iniciou a
sua homilia citando esta frase do Evangelho de São João:
“Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chega à perfeição em nós”.
Passagem da qual emergem três argumentos em volta dos quais Francisco
desenvolveu a sua homilia: o drama da solidão, o amor entre o homem e a
mulher e a família:
O Papa partiu da solidão de Adão no Paraíso, porque não havia ali
nenhum outro ser semelhante a ele, para falar do drama da solidão que
aflige muitos homens e mulheres de hoje: idosos abandonados, viúvos,
viúvas, pessoas sós porque não compreendidas ou escutadas, migrantes,
prófugos, jovens vítimas da cultura do consumismo e do descarte.
O Papa pôs ainda em evidência os contrastes que caracterizam o mundo
globalizado de hoje: casas de luxo sem amor familiar; projectos
ambiciosos e falta de tempo para viver o que se realizou, prazeres sem
amor, liberdade sem autonomia, factores que fazem aumentar ainda mais as
pessoas que se sentem sós e também as que se fecham no egoísmo.
Enfim, muito poder e muita solidão, nas sociedades de hoje,
exactamente como acontecia a Adão no Paraíso – continuou o Papa dizendo
que o ícone disso tudo é precisamente a família, onde há cada vez menos
seriedade em levar por diante uma relação sólida, fecunda, duradoura, no
amor.
Perante a solidão de Adão, Deus decidiu dar-lhe um “auxiliar
semelhante a ele”, a mulher. Isto demonstra - disse Francisco entrando
que “Deus não criou o ser humano para viver na tristeza ou para estar
sozinho, mas para a felicidade, para a partilha (…), para amar e ser
amado”. Este sonho que Deus tem para com a sua criatura predilecta, quer
vê-lo realizado na “união de amor entre o homem e a mulher” que se
tornam assim, “um só”. União indissolúvel, abençoada por Deus – dirá
mais tarde Jesus à multidão que o seguia e que praticava o divórcio. O
Papa tira então as conclusões:
“Isto significa que o objectivo da vida conjugal não é apenas viver
juntos para sempre, mas amar-se para sempre. Jesus restabelece assim a
ordem originária e originadora”.
Um não à separação e ao divórcio e sim à gratuidade “dum amor
conjugal único até à morte que só pode ser compreendido à luz da
“loucura da gratuidade do amor pascal de Jesus” – disse o Papa
acrescentando:
“O matrimónio não é uma utopia da adolescência, mas um sonho sem o
qual a sua criatura estará condenada à solidão. De facto, o medo de
aderir a este projecto paralisa o coração humano”.
E não obstante as aparências, também o homem de hoje sente-se atraído
e fascinado por todo o amor autentico, sólido, fecundo, fiel, perpétuo,
ou seja vai atrás dos amores temporários, mas sonha com o amor
autentico, corre atrás dos prazeres carnais, mas deseja a doação total e
tem sede de infinito – disse Francisco.
Então, perante este contexto social e matrimonial difícil, o que a
Igreja faz é viver a sua missão na fidelidade a Deus, na verdade e na
caridade, e fá-lo como uma “voz que grita no deserto”:
“Viver a sua missão na fidelidade ao seu Mestre como voz que grita no
deserto, para defender o amor fiel e encorajar as inúmeras famílias que
vivem o seu matrimónio como um espaço onde se manifesta o amor divino;
para defender a sacralidade da vida, de toda a vida; para defender a
unidade e a indissolubilidade do vínculo conjugal como sinal da graça de
Deus e da capacidade que o homem tem de amar seriamente.”
Uma missão que não se altera conforme as modas ou opiniões
dominantes; uma missão que em espírito de verdadeira caridade, leva a
Igreja a procurar e cuidar dos casais feridos com o óleo da aceitação e
da misericórdia; a estar sempre de portas abertas para colher e a sair
para ir ao encontro dos que sofrem, para caminhar com a humanidade
ferida; uma Igreja que ensina e defende os valores fundamentais, que
educa para o amor autentico capaz de tirar da solidão, sem esquecer da
missão de bom samaritano da humanidade ferida”.
Quem erra deve ser compreendido e amado, acolhido, acompanhado,
“porque uma Igreja com as portas fechadas atraiçoa-se a si mesma e a sua
missão e, em vez de ser ponte, torna-se uma barreira”, concluiu o Papa
pedindo a Deus para que acompanhe este Sínodo.
(DA)
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