04 outubro, 2015

Viver juntos e amar-se para sempre - Papa na abertura do Sínodo sobre a Família

(RV) O Sínodo ordinário dos Bispos sobre a Família foi inaugurado na manhã deste domingo com a missa presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro, com a participação de numerosos fieis e naturalmente dos cerca de 300 bispos e cardeais que, até ao dia 25 deste mês vão debruçar-se sobre as questões que afectam a família hoje, procurando propor soluções à luz do Evangelho.

E as leituras bíblicas deste domingo, parecem ter sido escolhidas de propósito para essa ocasião, fez notar o Papa Francisco, que iniciou a sua homilia citando esta frase do Evangelho de São João:

“Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chega à perfeição em nós”.

Passagem da qual emergem três argumentos em volta dos quais Francisco desenvolveu a sua homilia: o drama da solidão, o amor entre o homem e a mulher e a família:

O Papa partiu da solidão de Adão no Paraíso, porque não havia ali nenhum outro ser semelhante a ele, para falar do drama da solidão que aflige muitos homens e mulheres de hoje: idosos abandonados, viúvos, viúvas, pessoas sós porque não compreendidas ou escutadas, migrantes, prófugos, jovens vítimas da cultura do consumismo e do descarte.

O Papa pôs ainda em evidência os contrastes que caracterizam o mundo globalizado de hoje: casas de luxo sem amor familiar; projectos ambiciosos e falta de tempo para viver o que se realizou, prazeres sem amor, liberdade sem autonomia, factores que fazem aumentar ainda mais as pessoas que se sentem sós e também as que se fecham no egoísmo.

Enfim, muito poder e muita solidão, nas sociedades de hoje, exactamente como acontecia a Adão no Paraíso – continuou o Papa dizendo que o ícone disso tudo é precisamente a família, onde há cada vez menos seriedade em levar por diante uma relação sólida, fecunda, duradoura, no amor.

Perante a solidão de Adão, Deus decidiu dar-lhe um “auxiliar semelhante a ele”, a mulher. Isto demonstra - disse Francisco entrando que “Deus não criou o ser humano para viver na tristeza ou para estar sozinho, mas para a felicidade, para a partilha (…), para amar e ser amado”. Este sonho que Deus tem para com a sua criatura predilecta, quer vê-lo realizado na “união de amor entre o homem e a mulher” que se tornam assim, “um só”. União indissolúvel, abençoada por Deus – dirá mais tarde Jesus à multidão que o seguia e que praticava o divórcio. O Papa tira então as conclusões:

“Isto significa que o objectivo da vida conjugal não é apenas viver juntos para sempre, mas amar-se para sempre. Jesus restabelece assim a ordem originária e originadora”.

Um não à separação e ao divórcio e sim à gratuidade “dum amor conjugal único até à morte que só pode ser compreendido à luz da “loucura da gratuidade do amor pascal de Jesus” – disse o Papa acrescentando:

 “O matrimónio não é uma utopia da adolescência, mas um sonho sem o qual a sua criatura estará condenada à solidão. De facto, o medo de aderir  a este projecto paralisa o coração humano”.

E não obstante as aparências, também o homem de hoje sente-se atraído e fascinado por todo o amor autentico, sólido, fecundo, fiel, perpétuo, ou seja vai atrás dos amores temporários, mas sonha com o amor autentico, corre atrás dos prazeres carnais, mas deseja a doação total e tem sede de infinito – disse Francisco.

Então, perante este contexto social e matrimonial difícil, o que a Igreja faz é viver a sua missão na fidelidade a Deus, na verdade e na caridade, e fá-lo como uma  “voz que grita no deserto”:

“Viver a sua missão na fidelidade ao seu Mestre como voz que grita no deserto, para defender o amor fiel e encorajar as inúmeras famílias que vivem o seu matrimónio como um espaço onde se manifesta o amor divino; para defender a sacralidade da vida, de toda a vida; para defender a unidade e a indissolubilidade do vínculo conjugal como sinal da graça de Deus e da capacidade que o homem tem de amar seriamente.”

Uma missão que não se altera conforme as modas ou opiniões dominantes; uma missão que em espírito de verdadeira caridade, leva a Igreja a procurar e cuidar dos casais feridos com o óleo da aceitação e da misericórdia; a estar sempre de portas abertas para colher e a sair para ir ao encontro dos que sofrem, para caminhar com a humanidade ferida;  uma Igreja que ensina e defende os valores fundamentais, que educa para o amor autentico capaz de tirar da solidão, sem esquecer da missão de bom samaritano da humanidade ferida”.

Quem erra deve ser compreendido e amado, acolhido, acompanhado, “porque uma Igreja com as portas fechadas atraiçoa-se a si mesma e a sua missão e, em vez de ser ponte, torna-se uma barreira”, concluiu o Papa pedindo a Deus para que acompanhe este Sínodo.

(DA)

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