(RV) Há 50 anos, o Papa Paulo VI visitava, em Pomezia, a sul de Roma, um acampamento de ciganos, dirigindo-lhes estas palavras:
“Onde quer que vos encontreis, sois considerados inoportunos e
estrangeiros (…). Aqui não (…); aqui encontrais alguém que vos quer bem,
vos estima, vos aprecia, vos assiste”.
O Papa Francisco recordou estas palavras paternas do Papa Montini, ao
receber nesta segunda-feira, ao fim da manhã, na Aula Paulo VI, os
participantes na peregrinação mundial do Povo Cigano, organizado pela
Conferência Episcopal Italiana, a Fundação Migrantes e a Comunidade de
Sant’Egídio para recordar esse histórico encontro de Paulo VI.
“Caros amigos ciganos o Del si tumentsa” . Francisco saudou os
ciganos na sua língua, “O Senhor esteja convosco”. Depois deu-lhes as
boas vindas, dizendo que com as palavras então pronunciadas, Paulo VI
estimulou a Igreja ao empenho pastoral para com os ciganos, encorajando
os próprios ciganos a ter confiança na Igreja. A partir de então,
grandes mudanças verificaram-se tanto no campo da evangelização como da
promoção humana, social e cultural da vossa comunidade – frisou
Bergoglio.
Prova disso – prosseguiu – é o contínuo aumento de vocações
sacerdotais, diaconais e de vida consagrada no seio do povo cigano. Há
mesmo um bispo filho desse povo – D. Devprassad Ganava – que se
encontrava presente e que o Papa não deixou de assinalar, recordando aos
consagrados que os seus irmãos e irmãs olham para eles com confiança e
esperança por tudo aquilo que podem fazer no processo de reconciliação
no seio da sociedade e da Igreja. “Sois mediadores entre duas culturas” a
quem se pede sempre testemunho de transparência evangélica (…) –
disse-lhes Francisco pedindo-lhes para serem “acompanhadores não só no
caminho espiritual, mas também na ordinário da vida quotidiana com todas
as suas fadigas, alegrias e preocupações”.
O Papa disse conhecer, pelas suas visitas às paróquias da periferia
de Roma, as dificuldades do povo cigano que interpelam tanto a Igreja
como as autoridade locais. Condições precárias de vida devido à falta de
trabalho e meios de subsistência, de assistência sanitária, de
instrução. E recordou que todos têm direito a uma vida digna, assim como
são chamados também a respeitar os próprios deveres. Só assim se pode
construir uma convivência pacífica em que culturas e tradições
diferentes não se contrapõem, mas se respeitem, dialoguem e se integrem.
“Não queremos mais assistir a tragédias familiares em que crianças
morrem de frio ou entre línguas de fogo, ou se tornem objectos em mãos
de pessoas depravadas, jovens e mulheres são envolvidas em tráfico de
droga, ou de seres humanos.”
O Papa convidou depois a virar a página, pois que “Chegou o tempo de
desenraizar os preconceitos e desconfianças recíprocos que estão, muitas
vezes, na base das discriminações, do racismo e da xenofobia. Ninguém
se deve sentir isolado e ninguém está autorizado a pisar a dignidade e
os direitos dos outros”.
O Papa indicou como motor para esta mudança a misericórdia evangélica
que deve sacudir as nossas consciências por forma a sermos garantes
destes valores, abrindo os nossos corações e mãos aos mais necessitados e
marginalizados.
E o Papa exortou em primeiro lugar os próprios ciganos a se
empenharem “na construção de periferias mais humanas”, sendo antes de
mais bons cristãos, evitando tudo o que não é digno deste nome:
falsidade, trufas, imbróglios, lites”. E para isso Francisco
propôs-lhes como modelo de vida, o beato Zeffirino Giménez Malla,
“filho do vosso povo” – disse-lhes - que se distinguiu pelas suas
virtudes, humildade e honestidade e pela grande devoção a Nossa Senhora,
devoção que o levou ao martírio, ficando conhecido como o “Mártir do
Rosário”.
O Papa recomendou ainda aos ciganos a não darem aos meios de
comunicação e à opinião pública ocasiões para falarem mal deles,
recordando-lhes que são protagonistas do seu presente e do seu futuro e
que podem contribuir para uma sociedade melhor respeitando as leis,
cumprindo os seus deveres, integrando-se também através da emancipação
das novas gerações. E nesta linha recomendou-lhes que “Assegurem uma
adequada escolarização aos seus filhos”, pois que é sabido que o
principal obstáculo dos ciganos ao mundo do trabalho é a falta de
instrução.
“Os vossos filhos têm direito de ir para a escola. Não lho empaçais !
(…) É tarefa dos adultos assegurar-se de que as crianças e jovens
frequentem a escola. O acesso à instrução permite aos vossos jovens
tornar-se cidadãos activos, participar na vida política, social e
económica nos respectivos Países.”
E às Instituições civis o Papa recordou que lhes “é pedido o empenho
de garantir adequados percursos para os jovens ciganos, dando a
possibilidade também às famílias que vivem em condições difíceis de
beneficiar de uma adequada inserção escolar e laboral. O processo de
integração põe à sociedade o desafio de conhecer a cultura, a história e
os valores dos povos ciganos.”
Na linha dos seus predecessores, João Paulo II e Bento XVI, Francisco
assegurou aos ciganos o afecto e o encorajamento da Igreja, onde não
estão à margem, mas de certo modo, no centro, no coração. “Vós sois o
coração da Igreja. Neste coração está Maria, por vós venerada como Nossa
Senhora dos Ciganos”.
E para recordar o gesto de Paulo VI há 50 anos a Imagem de Nossa
Senhora dos Ciganos foi de novo coroada, na presença do Papa Francisco
que a Ela e ao beato Zeffirino confiou as famílias dos participantes no
encontro e o seu futuro.
(DA)
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