(RV) Rosto de
Deus, bom e justo; a carícia nas feridas do homem. O que é a
misericórdia? Tema central no debate sinodal e no coração do Ano Santo
já iminente, e que sempre foi um dos pilares do magistério da Igreja
sobre a reconciliação, nunca contraposto à verdade e à justiça. Quem o
confirma é o Penitenciário Maior, o Card. Mauro Piacenza, aos microfones
da Rádio Vaticano (P. Ondarza):
Vejo que sobre o tema da misericórdia existe um grande interesse: é
sentido de uma maneira pastoral, visceral; ela tornou-se protagonista.
Porque existem no mundo de hoje - não se pode fechar os olhos - tantas
situações delicadas, difíceis e dramáticas para muitos. E então tenta-se
dar uma palavra que possa socorrer, possa curar as feridas: penso que é
esta a razão deste particular interesse pela misericórdia. E depois,
naturalmente, também os meios de comunicação são particularmente
estimulados nestes tempos, porque a chave de leitura que muitos deles
têm em relação ao tema da misericórdia é uma chave de desafio à Igreja. E
portanto também isto "desafia" os pastores a dar respostas adequadas e
construtivas.
Misericórdia como grande protagonista deste período, visto que nos
preparamos para viver um Jubileu dedicado a ela ... Uma pergunta seria:
como se relaciona o tema da misericórdia em relação à verdade e a
liberdade da pessoa ...
Estes termos, por vezes, na retórica fácil se confundem. Portanto, é
claro que a realidade que está por baixo da palavra "misericórdia" é uma
realidade imensa, porque entra na própria realidade de Deus, que
"Caritas est": é caridade. Mas nunca devemos colocar uma qualidade
contra a outra; portanto, é claro que quando eu digo "Deus infinitamente
misericordioso", digo ao mesmo tempo: "Deus infinitamente justo", digo
"Deus que é a Verdade". Digamos que deve haver a sinfonia: não existe
uma qualidade de Deus que está em oposição à outra. O Magistério é claro
que deve enfrentar o problema da verdade - e, portanto, deve dar
relevância à verdade -, mas deve dá-la de maneira misericordiosa,
deve-se dar a entender que se está a evangelizar porque se ama, porque
se quer bem, porque se quer o bem da pessoa. Por exemplo, um grande
educador como São João Bosco dizia aos seus primeiros colaboradores,
educadores salesianos: "Não basta que vós queirais bem aos rapazes que
educais, mas os rapazes que educais devem ver que vós os quereis bem". E
isto é muito importante, porque senão se vai danificar a própria
verdade educacional.
A Igreja de portas abertas, atenta às situações feridas, como pode
propor aquela que desde sempre é uma pedagogia da misericórdia e que,
portanto, prevê um reconhecimento do pecado, um propósito de não mais
voltar a pecar e, portanto, um retorno à verdade indicada pela Igreja?
Deus é infinitamente misericordioso: é claro que a sua misericórdia
Ele a difunde sobre todos, sem medida. Isto é, Deus me persegue -
poderíamos dizer - mas santamente, com a sua misericórdia e com a sua
graça. Mas me deixa livre, porque senão eu seria um fantoche; Deus me
quer à sua imagem e semelhança: me quer livre. Assim, por exemplo,
quando eu vou confessar, eu respondo ao convite de Deus para receber a
Sua misericórdia.
Porque perante estas situações feridas é importante - e se é
importante – repropor o depósito da fé: portanto a Escritura, a tradição
apostólica, o Magistério?
Por que - veja - o Santo Padre diz muitas vezes: "Nós não somos uma
organização sem fins lucrativos". Eu não devo partir dos dados
sociológica; posso partir deles em certo sentido para poder reflectir
sobre aquilo de que o homem mais precisa com um pura pesquisa de dados,
estatística, etc. Mas, depois eu devo dar a solução com a fé. Há um erro
no qual se cai com muita frequência, e muitas vezes isso sucede mesmos
aos pastores. Como dizer que há norma moral na família, na vida de
castidade que é "demasiado difícil": mas é claro que é difícil! Neste
mundo existem coisas que não são difíceis? Não existe o Mistério da
Cruz? Nosso Senhor não teve de esforçar humanamente para nos poder
redimir? Ele sofreu até suar sangue! E agora porque nós não devemos
reflectir sobre estas coisas? E depois está o facto da graça: o Senhor
vem ao meu encontro. Os santos são feitos da nossa própria massa: eles
lutaram. Houve uma ascese: esta subida, esta fadiga, esta ascese fazem
parte do caminho cristão. Também isto é belo, porque faz parte da
imitação de Cristo. (BS)
Sem comentários:
Enviar um comentário