(RV) O
Relator-Geral do Sínodo, Card. Peter Erdö, apresentou na 1ª Congregação
Geral o Relatório introdutivo dos trabalhos. No texto, dividido em três
partes (os desafios, a vocação e a missão da família), o Cardeal húngaro
indicou um acompanhamento misericordioso para quem vive situações
familiares difíceis, mas sem deixar dúvidas quanto à indissolubilidade
do matrimónio.
Os desafios para a família são muitos, e o Card. Erdö as recorda com
atenção: migrações, injustiças sociais, salários baixos, violência
contra as mulheres. As instituições são frágeis, escreve, e os homens e
mulheres do nosso tempo têm medo de assumir compromissos definitivos.
O crescente individualismo leva a confundir os confins de
instituições fundamentais como o matrimónio e a família, enquanto a
sociedade consumista separa sexualidade e procriação, tornando a vida
humana e a genitorialidade “realidades componíveis e decomponíveis”.
O Relatório, todavia, ressalta aspectos positivos: são eles - o
matrimónio e a família - que não deixam os indivíduos isolados, mas
transmitem valores e “oferecem uma possibilidade de desenvolvimento à
pessoa humana” insubstituível. E é justamente do matrimónio indissolúvel
que deriva a vocação familiar – explica a segunda parte do documento.
Indissolubilidade que não é um jogo, mas um dom.
Por isso, o Card. Erdö reitera “a importância da promoção da
dignidade do matrimónio e da família”, enquanto “comunidade de vida e
amor”. “Igreja doméstica baseada no matrimónio sacramental entre dois
cristãos”, “princípio de vida na sociedade”. A família – destaca o
documento – é o local onde se aprende a experiência do bem comum”.
E então qual é a missão da família hoje? É o que explica a terceira
parte do Relatório: em primeiro lugar, se reitera a importância da
formação seja para os esposos – para que o matrimónio não seja somente
um facto exterior e emocional, mas também espiritual e eclesial – seja
para o clero, para que acompanhe as famílias com “um amadurecimento
afectivo e psicológico”. Sem esquecer da exigência de uma “conversão da
linguagem, para que resulte efectivamente significativo” sobretudo
quando se trata de ajudar quem vive “situações problemáticas e
difíceis”, nas quais é preciso unir “misericórdia e justiça”:
Outra missão das famílias cristãs é colaborar com instituições
públicas e criar estruturas económicas de apoio para ajudar os núcleos
que vivem situações de pobreza, desemprego e falta de assistência social
e médica. “Toda a comunidade eclesial deve tentar assistir as famílias
vítimas de guerras e perseguições”, lê-se no Relatório.
Há ainda a missão “delicada e exigente” da Igreja com as famílias
feridas. O método – explica o Relatório – deve ser o da misericórdia e
do acolhimento, acompanhado porém da apresentação clara da verdade sobre
o matrimónio. “A maior misericórdia é dizer a verdade com amor –
afirmou o Card. Erdö. Deve-se ir além da compaixão, porque “o amor
misericordioso atrai e une, transforma e eleva e convida à conversão”.
O Relatório centra-se, portanto, sobre casos específicos: para os
conviventes, sugere “uma sã pedagogia” que oriente os seus corações “à
plenitude do plano de Deus”; para os divorciados não recasados se
encoraja a criação de centros de aconselhamento diocesanos para ajudar
os cônjuges nos momentos de crise, apoiando os filhos “vítimas destas
situações” e não esquecendo “o caminho do perdão e da reconciliação, se
possível”. Para os divorciados recasados, no entanto, se pede “uma
aprofundada reflexão”, tendo em conta um princípio importante:
“É imperativo um acompanhamento pastoral misericordioso que, no
entanto, não deixe dúvidas sobre a verdade da indissolubilidade do
matrimónio, como ensinado pelo próprio Jesus Cristo. A misericórdia de
Deus oferece ao pecador o perdão, mas exige a conversão”.
O Relatório introdutório também enfoca o chamado “caminho
penitencial”, especificando que esse pode referir-se aos divorciados
recasados que praticam continência e que portanto “poderão aceder
também aos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, evitando porém de
provocar escândalo”. Ou, esse pode ser entendido de acordo com a prática
tradicional da Igreja latina que permitia aos sacerdotes ouvir as
confissões dos divorciados recasados, dando absolvição apenas para
aqueles que, de facto, tinham a intenção de mudar de vida. Com relação à
“lei da gradualidade” para se aproximar dos Sacramentos, se especifica:
“Embora algumas formas de convivência trazem em si alguns aspectos
positivos, isso não implica que possam ser apresentadas como bens”. No
entanto, uma vez que “a verdade objectiva do bem moral e a
responsabilidade subjectiva do indivíduo” são distintas, então, “a nível
subjectivo pode ter lugar a lei da gradualidade e portanto a educação
da consciência”.
Outro parágrafo é dedicado ao cuidado pastoral das pessoas
homossexuais: eles devem ser acolhidos “com respeito e delicadeza”,
evitando qualquer sinal de discriminação injusta, explica o Relatório,
recordando, porém, que “não há fundamento algum para assimilar ou
estabelecer analogias, sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o
plano de Deus para o matrimónio e a família”. Além disso, o Cardeal Erdö
acrescentou:
“É totalmente inaceitável que os Pastores da Igreja sofram pressões
nesta matéria e que os organismos internacionais condicionem as ajudas
financeiras aos países pobres para a introdução de leis que estabeleçam o
‘matrimónio’ entre pessoas do mesmo sexo”.
Vida inviolável desde a concepção até a morte natural. Não ao aborto e à eutanásia
Os últimos parágrafos do Relatório abordam o tema da vida, da qual se
reafirma o carácter da inviolabilidade desde a concepção até a morte
natural. Não, portanto, ao aborto, à terapia agressiva, à eutanásia, e
sim à abertura à vida como “uma exigência intrínseca do amor conjugal”. O
Cardeal Erdö lembra ainda o grande trabalho da Igreja no apoio às
mulheres grávidas, às crianças abandonadas, a quem abortou, às famílias
impossibilitadas de curar os seus entes queridos doentes. A Igreja faz
sentir a sua presença, compensando as deficiências do Estado e
oferecendo um apoio humano e espiritual ao trabalho de assistência, diz o
Relator geral, e estes são “valores que não podem ser quantificados com
o dinheiro”.
Recomendando, além disso, a “promover a cultura da vida diante da
cada vez mais difundida cultura de morte”, o Relatório também sugere “um
ensino adequado sobre métodos naturais para a procriação responsável”,
redescobrindo a mensagem da Encíclica Humanae Vitae de Paulo VI. Central
também o incentivo à adopção das crianças, “forma específica de
apostolado familiar”.
Finalmente, no âmbito da educação, se recorda que “os pais são e
permanecem os principais responsáveis pela educação humana e religiosa
dos seus filhos” e que cabe à Igreja encorajá-los e apoiá-los “na
participação vigilante e responsável” aos programas escolares e
educacionais dos filhos. O Relatório se conclui, portanto, exortando a
Igreja a “converter-se e tornar-se mais viva, mais pessoal, mais
comunitária”, testemunha da “maior misericórdia” de Deus.
Cardeal Baldisseri: Sínodo olhe para a família com ternura e compaixão
Além do Cardeal Erdö, a primeira Congregação Geral do Sínodo dos
Bispos teve o discurso do Secretário-Geral da Assembleia, Cardeal
Lorenzo Baldisseri, que percorreu, em ordem cronológica, o caminho
preparatório deste XIV Sínodo Ordinário, enfatizando que a família é um
tema “importante e transversal”, que diz respeito não apenas os
católicos, mas a todos os cristãos e à humanidade toda. Convidando, em
seguida, a Assembleia a trabalhar constantemente “na unidade e para a
unidade”, o purpurado saudou os muitos casais presentes no Sínodo, na
qualidade de Auditores e Peritos: entre eles - recordou - há uma
presença significativa feminina da qual se espera “uma contribuição
especial para que o Sínodo possa olhar para a família, com o olhar de
ternura, e atenção e compaixão das mulheres”. (BS/BF/SP)
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