06 julho, 2019

Papa: Amazónia sofre com mentalidade cega e destruidora que favorece o lucro


 "Não se esqueçam que justiça social e ecologia estão profundamente interligadas!",
diz o Papa  (AFP or licensors)

Na manhã deste sábado (6), Francisco enviou uma mensagem aos participantes do 2º Fórum das Comunidades Laudato si’ que acontece em Amatrice, cidade italiana do Lácio, na mesma região de Roma. No texto do Pontífice, o incentivo a novos estilos de vida, seguindo as orientações da Encíclica e através de três palavras: doxologia, eucaristia e ascese. O Papa, porém, reflete novamente a sua preocupação com “a grave e já insustentável situação da Amazónia e dos povos que moram lá”: "o homem não pode permanecer como um espetador indiferente diante desta destruição, nem a Igreja deve ficar em silêncio". 

Andressa Collet – Cidade do Vaticano 

O Papa enviou uma mensagem neste sábado (6) àqueles que se encontram em Amatrice, cidade italiana do Lácio, na mesma região de Roma, para participar no 2º Fórum das Comunidades Laudato si’. O movimento, idealizado pela Igreja de Rieti e pelo Slow Food, reúne pessoas e associações na Itália empenhadas na difusão do pensamento da Encíclica de Francisco através de encontros ou iniciativas práticas. Outros locais no mundo, como é o caso de Brasília/DF, também estão a ativar estas comunidades, que inclusive contribuem para o movimento ambientalista pelo ponto de vista da “ecologia integral” e da conexão estreita pelo respeito à Casa Comum e à justiça social.

Na mensagem, o Pontífice começou por saudar a organização e os participantes que aceitaram promover o evento “num território devastado pelo terremoto que atingiu a Itália central em agosto de 2016” e fez muitas vítimas. “É um sinal de esperança”, salientou o Papa, pelo evento acontecer em Amatrice para tratar de “desequilíbrios que devastam a nossa Casa Comum”; e “é um sinal de proximidade” aos irmãos que sofreram a tragédia, “os pobres que pagam o maior preço das devastações ambientais”. 

A já insustentável situação da Amazónia

Francisco então lembrou o tema enfrentado no ano passado pelo Fórum – “do plástico que sufoca o planeta” – para dar seguimento à reflexão de hoje sobre “a grave e já insustentável situação da Amazónia e dos povos que moram lá”. “Planeta Amazónia” é uma inspiração oriunda do Sínodo dos Bispos de outubro deste ano que irá analisar a realidade amazónica.
“ A situação da Amazónia é um triste paradigma do que está a acontecer em muitas partes do planeta: uma mentalidade cega e destruidora que favorece o lucro à justiça; coloca em evidência a conduta predatória com a qual o homem se relaciona com a natureza. Por favor, não esqueçam que justiça social e ecologia estão profundamente interligadas! ”
"Aquilo que está a acontecer na Amazónia terá repercussões em nível planetário, mas prostrou milhares de homens e mulheres roubados do seu território, que se tornaram estrangeiros na própria terra, depauperados da própria cultura e das próprias tradições, quebrando o equilíbrio milenar que unia aqueles povos à sua terra. O homem não pode permanecer como um espetador indiferente diante desta destruição, nem a Igreja deve ficar em silêncio: o grito dos pobres deve ressoar da sua boca, como já indicava São Paulo VI na sua Encíclica Populorum progressio.”

Na mensagem, Francisco também deu a sua indicação, na perspetiva pragmática de favorecer novos estilos de vida, seguindo as orientações da Laudato si’ e através de três palavras: doxologia, eucaristia e ascese. 

A doxologia

O Pontífice começou a tratar da doxologia ao incentivar a uma postura de louvor “diante do bem da criação e, sobretudo, do bem do homem que é o ápice da criação, mas também guardião”. Perante tanta beleza e com olhos de criança, “devemos ser capazes de apreciar a beleza que nos circunda”. Afinal, explicou Francisco:
“ O louvor é fruto da contemplação, a contemplação e o louvor levam ao respeito, o respeito torna-se quase veneração diante dos bens da criação e do seu Criador. ”
A eucaristia
Sobre a postura eucarística perante o mundo, o Papa comentou a importância de identificar o dom que cada um carrega consigo, já que tudo nos é dado gratuitamente. Desta forma, “não é para ser depredado e ocupado”, mas para ser “partilhado, um presente a ser dado para que a alegria seja de todos e, portanto, seja maior”. 

A ascese

O Papa finalizou a mensagem indicando a terceira palavra: ascese. “Toda a forma de respeito nasce de uma atitude ascética, isto é, da capacidade de saber renunciar a algo por um bem maior, por um bem dos outros. A ascese ajuda-nos a converter a atitude predatória, sempre à espreita, para assumir a forma de partilhamento, de relacionamento ecológico, respeitoso e educado”, disse Francisco, ao desejar que as Comunidades Laudato si’ possam ser “a semente de um modo renovado de viver o mundo para lhe dar futuro, para preservar a beleza e a integridade pelo bem de todos os seres vivos”.

VN

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