"Aqui está a
novidade da oração cristã! Ela é o diálogo entre pessoas que se amam, um
diálogo baseado na confiança, apoiado pela escuta e aberto ao
compromisso solidário", explicou o Papa no Angelus, ao falar sobre a
passagem de Lucas em que Jesus ensina aos seus discípulos a oração do Pai
Nosso.
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
Uma maneira de rezar diferente para a época, a ponto de suscitar nos
discípulos o desejo de serem “particípes desses momentos de união com
Deus, para saborear plenamente a sua doçura”. Este “diálogo entre pessoas
que se amam”, é a “novidade da oração cristã”. "Um diálogo de Filho com o Pai, um diálogo entre filhos e Pai. Esta é a oração cristã."
Antes de rezar o Angelus com os fiéis provenientes de diversas
partes do mundo reunidos na Praça de São Pedro, neste XVII Domingo do
Tempo Comum, o Papa Francisco refletiu sobre a passagem de São Lucas que
narra as circunstâncias em que Jesus ensina o "Pai-nosso" aos seus
discípulos, destacando também que Jesus nos encoraja a sermos
insistentes na oração.
Atraídos pela "qualidade" da oração de Jesus
Os discípulos – explica o Papa – sabiam rezar segundo as fórmulas da
tradição judaica da época, “mas também desejam poder viver a mesma
"qualidade" da oração de Jesus”.
Ademais, os discípulos percebem que a oração de Jesus, revela “uma
ligação íntima com o Pai, tanto que desejam ser partícipes desses
momentos de união com Deus, para saborear plenamente a sua doçura”.
Aproveitando que estavam em um lugar isolado, esperam por Jesus concluir
a sua oração e, tomados por esta curiosidade, pedem-Lhe que lhes ensine a
rezar.
Fazer a experiência da paternidade de Deus na oração
Em resposta, “Jesus não dá uma definição abstrata da oração, nem
ensina uma técnica eficaz para rezar e "obter" alguma coisa”, mas
convida os seus seguidores a fazerem a experiência da oração, colocando-os
diretamente em comunicação com o Pai, despertando neles um anseio por um
relacionamento pessoal com Deus, com o Pai”:
Neste sentido, dá a eles a oração do "Pai Nosso", “talvez o dom mais
precioso que nos foi deixado pelo divino Mestre na sua missão terrena.”
Depois de nos ter revelado o seu mistério de Filho e irmão, com
aquela oração Jesus faz-nos mergulhar na paternidade de Deus, "e isto
quero sublinhar", disse Francisco:
“O que pedimos no "Pai Nosso" já está realizado em nós no Filho
Unigénito: a santificação do Nome, o advento do Reino, o dom do pão, do
perdão e da libertação do mal. Enquanto pedimos, abrimos a mão para
receber. Receber os dons que o Pai nos mostrou no filho. A oração que o
Senhor nos ensinou é a síntese de toda oração, e nós a dirigimo-nos ao Pai
sempre em comunhão com os irmãos.”
Às vezes – observou Francisco – "acontece que na oração existem
distrações, mas tantas vezes sentimos como que o desejo de nos deter na
primeira palavra: “Pai”, e sentir esta paternidade no coração”.
Atrair o olhar do pai: fazer como quando éramos crianças
Depois de falar da intimidade com Deus na oração revelada por Jesus, o
Papa Francisco sublinhou outro aspeto que a oração cristã deve ter:
ser perseverante. Para ilustrar, cita a parábola do amigo inoportuno e
recorda o que Jesus diz: “É preciso insistir na oração”. E retoma um
exemplo já referido noutras ocasiões, das crianças quando se dirigem
ao pai:
“E vem-me à mente o que fazem as crianças com três, três anos e
meio, que começam a perguntar as coisas que não entendem. Na minha terra
é chamada de "a idade dos porquês", acredito que aqui seja o mesmo. As
crianças começam a olhar para o pai e a dizer: "Pai, por quê? Pai, por
quê?" Pedem explicações. Mas estejamos atentos: quando o pai começa a
explicar o porquê, elas vêm com outra pergunta sem escutar toda a
explicação. O que acontece? Acontece que as crianças sentem-se inseguras
a respeito de muitas coisas que começam a entender pela metade. E
somente querem atrair sobre si o olhar do pai, e por isso: ‘Porquê, porquê, porquê?’”
"Peçamos a Maria, mulher orante, que nos ajude a rezar o Pai Nosso,
unidos a Jesus para viver o Evangelho, guiados pelo Espírito Santo", foi
o pedido do Santo Padre ao concluir a sua alocução, antes de rezar o Angelus com os presentes.
VN
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