"Os Apóstolos,
tendo encontrado Jesus e experimentado o seu perdão, testemunharam uma
vida nova: não mais se pouparam, deram-se a si mesmos. Não se
contentaram com meias medidas, mas adotaram a única medida possível para
quem segue Jesus: a de um amor sem medida", disse o Papa na Missa deste dia 29
de junho, solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
“A santidade não está no elevar-se mas em humilhar-se: não é uma
subida na classificação, mas confiar dia a dia a própria pobreza ao
Senhor, que realiza grandes coisas com os humildes.” Foi o que disse o
Papa Francisco na missa celebrada na Basílica Vaticana na manhã deste
sábado, 29 de junho, solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo, na
qual abençoou os pálios destinados aos trinta e um arcebispos
metropolitanos nomeados nos últimos doze meses.
Na homilia da santa missa concelebrada, entre outros, por estes
arcebispos metropolitanos da recente nomeação, o Pontífice ateve-se à
figura dos Santos Pedro e Paulo, colunas da Igreja que em Roma sofreram o
martírio do qual testemunhas do Evangelho.
De facto, Francisco destacou que os dois apóstolos “aparecem aos
nossos olhos como testemunhas. Nunca se cansaram de anunciar, viver em
missão, a caminho, desde a terra de Jesus até Roma. E aqui levaram o seu
testemunho até ao fim, dando a vida como mártires”.
A partir daí, o Papa desenvolveu sua reflexão sobre Pedro e Paulo os quais são testemunhas de vida, testemunhas de perdão e testemunhas de Jesus.
Testemunhas de vida
Testemunhas de vida… e, todavia, as suas vidas não foram
límpidas nem lineares, destacou o Pontífice. “Eram ambos de índole muito
religiosa: Pedro, discípulo da primeira hora; Paulo, acérrimo defensor
das tradições dos pais. Mas cometeram erros enormes: Pedro chegou a
negar o Senhor; Paulo, a perseguir a Igreja de Deus”.
Jesus chamou-os pelo seu nome e mudou as suas vidas. E, depois de todas
estas aventuras, fiou-Se neles, dois pecadores arrependidos. Poderíamos
perguntar: Porque é que o Senhor não nos deu duas testemunhas
integérrimas, com a ficha limpa, com a vida ilibada? Porquê Pedro,
quando havia João? Porquê Paulo e não Barnabé? – frisou Francisco,
acrescentando que nisto encerra-se uma grande lição:
“O ponto de partida da vida cristã não está no facto de sermos dignos;
como aqueles que se julgavam bons, bem pouco pôde fazer o Senhor. Quando
nos consideramos melhores que os outros, é o princípio do fim. O Senhor
não realiza prodígios com quem se crê justo, mas com quem sabe que é
necessitado. Não é atraído pela nossa habilidade, não é por isso que nos
ama. Ele ama-nos como somos, e procura pessoas que não se bastam a si
mesmas, mas estão prontas a abrir-Lhe o coração. Pedro e Paulo
apresentaram-se assim transparentes diante de Deus.”
Pedro disse-o imediatamente a Jesus: «Sou um homem pecador».
Paulo escreve que era «o menor dos apóstolos, nem [era] digno de ser
chamado Apóstolo». E, na vida, mantiveram-se nesta humildade até ao fim,
prosseguiu o Papa.
Testemunhas de perdão
Qual foi o segredo que, no meio das fraquezas, os fez continuar por
diante? O perdão do Senhor, disse Francisco. “Descubramo-los, pois, como
testemunhas de perdão.
“Nas suas quedas, descobriram a força da misericórdia do Senhor,
que os regenerou. No seu perdão, encontraram uma paz e alegria
irreprimíveis. Com o mal que fizeram, poderiam viver com sentimentos de
culpa: quantas vezes terá Pedro pensado na sua negação! Quantos
escrúpulos para Paulo, que fizera mal a tantas pessoas inocentes!
Humanamente, faliram; mas encontraram um amor maior do que os seus
fracassos, um perdão tão forte que curava até os seus sentimentos de
culpa. Só quando experimentamos o perdão de Deus é que renascemos
verdadeiramente. Recomeça-se daqui: do perdão.”
Testemunhas de Jesus
Testemunhas de vida, testemunhas de perdão, Pedro e Paulo são sobretudo testemunhas de Jesus,
continuou o Pontífice. “Para a testemunha, mais do que um personagem da
história, Jesus é a pessoa da vida: é o novo, não o já visto; a
novidade do futuro, não uma lembrança do passado. Por isso, não é
testemunha quem conhece a história de Jesus, mas quem vive uma história
de amor com Jesus. Porque, no fundo, o que a testemunha anuncia é apenas
isto: Jesus está vivo e é o segredo da vida”, disse ainda.
Diante destas testemunhas, interroguemo-nos: Renovo eu cada dia o
encontro com Jesus? Talvez sejamos curiosos sobre Jesus, talvez nos
interessemos por coisas de Igreja ou notícias religiosas. Abrimos sites e
jornais, e conversamos sobre coisas sagradas. Mas, assim, ficamos no
que dizem os homens, nas sondagens, no passado. Mas isto, a Jesus,
interessa-Lhe pouco. Não quer repórteres do espírito, e muito menos
cristãos de capa de revista. Ele procura testemunhas, que Lhe digam dia a
dia: «Senhor, Tu és a minha vida», ressaltou o Papa.
Francisco exortou-nos a pedir “a graça de não sermos cristãos tíbios,
que vivem de meias medidas, que deixam resfriar o amor. Encontremos as
nossas raízes na relação diária com Jesus e na força do seu perdão. Como
a Pedro, Jesus pergunta-te também: Quem sou Eu para ti? Tu Amas-me?
Deixemos que estas palavras penetrem dentro de nós e acendam o desejo de
não nos contentarmos com o mínimo, mas de apontar para o máximo:
sermos, também nós, testemunhas vivas de Jesus”, exortou o Papa..
Os pastores não vivem para si mesmos, mas para as ovelhas
Francisco concluiu referindo-se aos pálios precedentemente por ele
abençoados no início da celebração eucarística. Destacou que o pálio
recorda a ovelha a que o Pastor é chamado a carregar aos ombros: “é sinal
de que os Pastores não vivem para si mesmos, mas para as ovelhas; é
sinal de que, para possuir a vida, é preciso perdê-la, dá-la”.
Por fim, Francisco saudou a Delegação do Patriarcado Ecuménico,
presente na celebração, “segundo uma bela tradição”, frisou. “A vossa
presença lembra-nos que não nos podemos poupar no caminho rumo à
plena unidade entre os crentes, na comunhão a todos os níveis.”
VN
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