10 junho, 2019

Documento do Vaticano sobre “gender”: sim ao diálogo sobre estudos, não à ideologia.

 
 Documento da Congregação para a Educação Católica "Homem e Mulher
os criou. Para uma via de diálogo sobre a questão de 'gender' na educação" 
 
Um instrumento para abordar o debate sobre a sexualidade humana e os desafios que emergem da ideologia “gender”, num tempo de emergência educacional. Este é o documento Homem e Mulher os criou. Para uma via de diálogo sobre a questão de “gender” na educação, assinado pelo Cardeal Giuseppe Versaldi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica, e pelo Arcebispo Vincenzo Zani, secretário do Dicastério.
 
Silvonei José - Cidade do Vaticano

Foi publicado nesta segunda-feira o novo documento da Congregação para a Educação Católica Homem e Mulher os criou. Para uma via de diálogo sobre a questão de “gender” na educação.

Segundo o Prof. Roberto Zappalà, diretor do Instituto Gonzaga de Milão  esse documento apresentada-se como uma valiosa contribuição adicional de reflexão (que vai acrescentar-se a outros elaborados em precedência) útil para "orientar e apoiar os envolvidos na educação das novas gerações" (n. 5). O foco do documento é certamente sobre uma das "questões mais debatidas sobre a sexualidade humana hoje", a questão do “gender” na educação, como já mencionado no título. No entanto, a reflexão articulada no documento assume um âmbito mais amplo: a "emergência educativa", que enfrentamos e que nasce de uma sociedade e de uma cultura cada vez mais pobres em evidência e valores partilhados, parece agora unir tantos jovens em formação como os adultos que devem educá-los na mesma percepção de viver como "abalados pelas ondas e levados aqui e ali por qualquer vento de doutrina" (Ef/4, 14). Esta emergência denota - nas palavras do Papa Bento XVI - uma verdadeira "carência antropológica", que tende a fazer-nos esquecer que a pessoa humana "é um ser integral e não uma soma de elementos que podem ser isolados e manipulados segundo a própria vontade".

Diante desta carência antropológica que determina a "desorientação antropológica que caracteriza difusamente o clima cultural de nosso tempo" (n. 1), a Igreja, com este novo documento, assume e convida a assumir uma atitude de escuta, de reflexão e de proposta para "empreender a via do diálogo sobre a questão do “gender” na educação" (n. 6). E é precisamente por esta razão que o documento está dividido em três secções: Ouvir nºs 8-23; Refletir, nºs 24-29; Propor, nºs 30-51:

- Ouvir "do perfil histórico, dos pontos de encontro e das críticas na questão do “gender” (n. 24), bem como da "partilha e apreciável exigência de lutar contra qualquer expressão de injusta discriminação"(n. 15);

- Reflexão crítica sobre os aspetos da "liquidez e fluidez pós-moderna" (n. 19) subordinados à ideologia do “gender” que levam a propor, a nível antropológico, "uma identidade pessoal e uma intimidade afetiva radicalmente desvinculada da diferença biológica entre masculino e o feminino. A identidade humana é entregue a uma opção individualista, mutável com o tempo, expressão do modo de pensar e agir, hoje difundido, que confunde “a liberdade genuína com a ideia de que cada um julga como lhe parece, como se, para além dos indivíduos, não houvesse verdades, valores, princípios que nos guiam, como se tudo fosse igual e tudo se devesse permitir” (n. 22);

- Proposta de um cuidadoso discernimento sobre a verdade da pessoa e sobre o significado da sexualidade humana, através de uma clarificação antropológica que tem o seu núcleo naquela “ecologia humana que procura o reconhecimento da dignidade peculiar do ser humano”. Dignidade que o homem mesmo "deve respeitar e não pode manipular como lhe apetece". (n. 30). E é à luz desta ecologia humana que a mulher e o homem podem "aprender [...] qual é o significado do corpo em toda a verdade original da masculinidade e da feminilidade;  para se poder reconhecer a si mesmo no encontro com o outro que é diferente [...], e enriquecer-se mutuamente “(n. 35).

Nesta antropologia relacional emergem traços fundamentais da antropologia cristã da pessoa, que reconhece “o significado da sexualidade de discriminação e de violência, precisamente porque aprenderam a reconhecer as igualdades das pessoas, não negando, mas sim respeitando e valorizando as suas diferenças .

Da leitura global deste novo documento da Congregação para a Educação Católica emerge claramente que a Igreja olha para a "questão do ‘gender’ na educação” na perspectiva mais ampla do comum compromisso de construir uma convivência social que, como já auspiciara o Concílio, sempre mais "respeite a dignidade, a liberdade e os direitos das pessoas". E é precisamente na perspectiva deste compromisso comum que a Igreja deseja não só abrir "uma via de diálogo", mas também tornar-se um "espaço de diálogo" com as instituições culturais, sociais, políticas e com todos os homens, mesmo com aqueles que não partilham a fé cristã, mas "têm o culto de altos valores humanos.

Neste diálogo, a Igreja participa com a convicção de que cada interlocutor "tem algo de bom a dizer" e que, portanto, é necessário "dar espaço ao seu ponto de vista, à sua opinião, às suas propostas, sem cair, obviamente, no relativismo". E precisamente por isso, como "perita em humanidade", a Igreja quer oferecer a todos "o que possui por si mesma: uma visão global do homem e da humanidade", convencida de que só um diálogo aberto e respeitoso, enfrentado sem medo nem radicalismo ideológico, pode contribuir verdadeiramente para uma compreensão mais profunda da sexualidade humana.

VN

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