Espiritualidade é fonte de irradiação de paz
(AFP or licensors)
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Neste dia de oração e jejum pela paz convocado pelo Papa Francisco, o teólogo Padre Erico Hammes fala-nos sobre o contexto em que este se realiza e como o jejum e a oração podem representar uma mudança de rota, assim como ajudar a superar os nossos próprios impulsos e tendências à violência.
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
Neste dia de oração e jejum pela paz convocado pelo Papa Francisco, o teólogo Padre Erico Hammes fala-nos sobre o contexto em que este se realiza e como o jejum e a oração podem representar uma mudança de rota, assim como ajudar a superar os nossos próprios impulsos e tendências à violência.
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco convocou para esta sexta-feira, 23 de fevereiro, um
Dia de Oração e Jejum pela paz. Um apelo dirigido não somente aos
cristãos, mas a pessoas de outras religiões e todos os homens de boa
vontade.
Para melhor entendermos o contexto em que se realiza este chamamento do
Pontífice e também a força do jejum e da oração, o Vatican News
conversou com o padre Erico Hammes*, teólogo, docente na Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul
O Papa Francisco convocou para esta sexta-feira, 23, este Dia de
Oração e Jejum pela paz, de sobremaneira pelo Sudão do Sul, pela
República Democrática do Congo, mas também pela Síria e poderíamos
incluir todos os países onde existem conflitos. E esta, aliás, não é a
primeira vez durante o seu pontificado que o Papa promove uma iniciativa
do género. Seria quase um apelo a uma situação extrema? O mundo vive
uma situação de emergência neste sentido?
“Sim, com certeza! E os últimos acontecimentos internacionais e as
provocações levam a uma situação que hoje se pode considerar de
instabilidade, porque não há uma segurança nas relações internacionais. A
situação da Turquia e da Síria e tudo aquilo que está a passar-se em
África, é realmente uma situação muito preocupante mas também a situação
da política armamentista, e digamos uma espécie de reinício da corrida
armamentista. Isto obviamente não faz bem para as relações
internacionais e tampouco para a paz”.
Na sua opinião, de que maneira o jejum e a oração podem influir positivamente neste contexto?
“Nós temos alguns exemplos muito significativos. Talvez o que marcou muito o século XX foi a atividade de Gandhi, que sempre insistiu na questão do jejum como uma forma das pessoas se prepararem e se dedicarem para a paz.
A oração, nós temos o caso da Alemanha Oriental, em que
durante muitos anos na igreja de São Nicolau, em Leipzig, se faziam nas
segundas-feiras as orações às cinco horas da tarde, e isto foi o que deu
assim a força para o movimento de 1989 poder ir para as ruas e terminar
com o Muro de Berlim.
Então, uma espiritualidade decisiva é sempre uma espécie de fonte
de irradiação, mesmo que ela não seja levada eventualmente por
motivações extraordinárias, mas consegue despertar no ser humano e
pela afinidade com os desígnios de Deus, a disposição para se colocar a
caminho da paz.
Então a oração é sem dúvida nenhuma um sinal, uma força muito
grande para a paz, e também forma as consciências. E o jejum como
exercício de autodomínio e também de exercício de solidariedade. Porque a
violência é uma reação natural, quando não se tem uma alternativa
cultural melhor. Então a violência brota, por assim dizer, aquilo como
uma primeira reação à violência. Violência gera violência, a não ser que
haja uma transformação da instintividade da reação violenta, por uma
atitude de solidariedade, de paz, de compreensão e de acolhimento e de
tolerância, em resistência.
Quero apenas reforçar ou aceitar o desafio que o Papa nos faz para
sermos testemunhas da paz, de nos engajarmos na oração e no jejum.
Tentar fazer em todos os mbientes onde estamos, aquilo que estiver ao
nosso alcance. E podermos noutras atividades que fazemos, seja na
sociedade civil, seja nas nossas atividades acadéicas, em
atividades pastorais, de evangelização, de liturgia, em que nós possamos
testemunhar e buscar aprofundar isto.
Nós aqui no Brasil, em particular, temos muito a ver, e trabalhar,
buscar em favor da superação da violência. Somos um dos países com o
mais alto índice de violência no mundo e matamos por ano diretamente
mais de 60 mil pessoas.
Então temos uma gravíssima responsabilidade como Igreja Católica
no Brasil em buscarmos caminhos sérios de superação das condições que
causam a própria violência em que se mata tanta gente, como estamos a viver.
Então, quero sim unir-me profundamente à oração pela paz e pela
superação da violência e sei também da grande dor que reina nem África,
com acampamentos na ordem de 60 mil pessoas, refugiados, e tudo aquilo
que acontece na Europa e também aqui estamos a viver o problema da
Venezuela, os venezuelanos que estão a entrar em grande número.
Então, orar, rezar por isto, convocar as pessoas para isto, e ao
mesmo tempo fazer o nosso jejum, no sentido de superar os nossos
próprios impulsos e tendências à violência. E esse acho que é o sentido
deste chamamento do Papa.
E a Campanha da Fraternidade no Brasil vem a propósito: Fraternidade e a superação da violência é o tema, pois todos somos irmãos e irmãs”.
* Padre Erico Hammes é teólogo, docente na Pontifícia Universidade do
Rio Grande do Sul, pós-Doutorado em Cristologia da Paz na instituição
de ensino Eberhard Karls Universität Tübingen, Alemanha.
É natural de Arroio do Meio (RS). Frequentou o Seminário São João
Batista, de Santa Cruz do Sul. Estudou Licenciatura Plena em Filosofia
na instituição de ensino FAFIMC e Pesquisa de doutorado em Cristologia
na instituição de ensino Eberhard Karls Universität Tübingen.
VATICAN NEWS
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