Frei Cantalamessa durante pregação no Vaticano
(Vatican Media)
Entrevista do Padre Raniero Cantalamessa
ao jornal “L’Osservatore Romano” sobre as meditações da Quaresma ao Papa
e à Cúria Romana
Cidade do Vaticano
Os santos estão entre nós, vivem ao nosso lado, no dia a dia, muitas
vezes passam inobservados, mas têm uma coisa em comum: não são
super-homens. São discípulos de Cristo que se revestiram d’Ele. É a
partir do convite paulino: “Revestidos do Senhor Jesus Cristo” que o padre
Cantalamessa fará as pregações da Quaresma na capela Redemptoris Mater
no Vaticano, a partir deste 23 de fevereiro.
O senhor pode explicar a escolha do tema?
“A Igreja deve sempre enfrentar desafios e tarefas, mas para Deus o
mais importante é a santidade. Todo o resto deve servir este objetivo:
sacramentos, ministérios, documentos, iniciativas pastorais. Nesta
Quaresma senti a necessidade de recordar esta verdade da “única coisa
necessária” porque Cristo instituiu a Igreja para ser “santa e íntegra
diante dele no amor”. Há outro motivo que me levou a escolher este tema.
Junto com a universal chamada à santidade, o Concílio Vaticano II deu
claras indicações sobre o significado da santidade no cristianismo: “A
santidade é a perfeita união com Cristo” (Lumen gentium, 50)”.
Como é possível “revestir-se de Jesus”?
"É um modo metafórico mas eficiente usado por São Paulo para exprimir
a verdadeira natureza da santidade cristã que é essencialmente
cristológica. Sugere a mesma ideia quando exorta os Filipenses: “Tende
em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus”, portanto não se
trata de um modelo de vida moral, mas de poder dizer como o Apóstolo “Eu
vivo, mas não eu: é Cristo que vive em mim”".
A Igreja precisa de santos?
"Os santos são o Evangelho vivido, são “o sal da terra”. É difícil
imaginar como seria a Igreja nestes dois mil anos sem a infinidade de
santos que a marcaram. Uma das coisas que mais surpreendem e levam a
glorificar Deus pelos seus santos é sua infinita variedade. Houve épocas
com poucos ou menos “espirituais”, mas nunca sem santos".
Existe uma santidade do cotidiano?
"A santidade é essencialmente do cotidiano. Há muito caminho a ser
feito para dar a verdadeira ideia da santidade e superar o temor que
esta palavra causa a muitos por associá-la a provas e sacrifícios
insuperáveis. Há flores que Deus cultiva só para si, santos cujo perfume
foi respirado apenas por Deus e talvez por alguém que viveu ao seu
lado. Talvez um dia nos céus ficaremos surpreendidos ao descobrir gigantes
de santidade desconhecidos pelos homens".
Como se reconhecem os santos?
"Seria uma longa resposta, mas cito apenas um sinal infalível de
reconhecimento: a humildade. Através dos séculos, a Igreja católica
acumulou uma série de critérios e espero que estes reflitam cada vez
mais o ideal bíblico recordado pelo Concílio, dando nova linfa à
doutrina escolástica da santidade até agora dominante, baseada nas
“virtudes”. Justamente por isso escolhi como tema das meditações
quaresmais a síntese bíblica mais completa, fundada no kerygma, que é a parte parenética (arte de pregar) da carta aos Romanos (cap. 12-15)".
VATICAN NEWS
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