24 fevereiro, 2018

Reflexão II Domingo Quaresma

 
 
 
O sacrifício que agrada ao Senhor é uma atitude de despojamento e de desacomodação, de entrega total à Sua Palavra e de confiança absoluta nele. 
 
Padre Cesar Augusto dos Santos - Cidade do Vaticano
 
Geralmente, apesar da nossa fé no Deus de Amor revelado por Jesus, temos atitudes pagãs em que julgamos o Todo Poderoso a solicitar-nos sacrifícios desumanos. Assim pensamos que para Deus é agradável penitências dolorosas, difíceis e até para falar com Ele são necessários procedimentos artificiais e fora de nossa realidade.

Tudo isto mostra que as raízes pagãs ancestrais estão arreigadas na nossa cultura como estava na de Abraão, marcada por forte politeísmo cujo culto expressava-se com inúmeros sacrifícios às divindades.

Abraão que aos poucos conhece o Deus único e verdadeiro, que se lhe apresenta, tem a sua fé colocada à prova com o sacrifício do seu filho Isaque. Tendo Abraão provado a sua fé, Deus poupa-lhe o sacrifício revelando a sua bondade e generosidade. O que passa pela cabeça de Abraão, passa também pela nossa.

Julgamos que Deus se satisfaz com aquilo que é mais doloroso e difícil. Que Deus é esse? Certamente não é o que se revelou a Abraão e muito menos o revelado por Jesus Cristo no Evangelho.

O que Abraão desejava e agradou a Deus foi a sua atitude de desacomodação ao deixar a sua casa paterna, a sua pátria e ir para o desconhecido,  confiando apenas na Palavra do Senhor. A atitude de matar o seu filho, evidentemente não agradou ao Poderoso, mas mostrou que também abria mão do seu futuro e só esperava em Deus.

O sacrifício que agrada ao Senhor é uma atitude de despojamento e de desacomodação, de entrega total à Sua Palavra e de confiança absoluta nele.

No Evangelho temos o relato da Transfiguração do Senhor. Vamos observar a atitude de Pedro. Ele priva, juntamente com João e seu irmão Tiago, de uma amizade especial com o Senhor e lhe é revelado, de modo enfático, a paixão que Jesus sofrerá. Enquanto Jesus busca prepará-los para o momento decisivo da sua luta contra o mal, Pedro fica fascinado pelo momento que vive, diríamos hoje, deslumbrado, e propõe a estabilidade, a acomodação através da construção de tendas, no desejo de perenizar o passageiro.

O Pai chama-lhe à atenção, alertando-o para ouvir o que O Filho amado tem a dizer. Nesse momento acaba a teofania e apenas Jesus permanece com eles. O único necessário na nossa vida é ouvir Jesus, a Palavra do Pai. A renúncia que agrada a Deus, a abnegação desejada, a penitência autêntica é colocar tudo em segundo plano e apenas Jesus Cristo como o absoluto da nossa vida.

Tudo o que a vida me oferece, seja no plano material, seja no espiritual, tudo deverá ser relativizado: família, saúde, religião, carreira, honra, tudo. Todos estes valores deverão ser vivenciados à medida que me aproximam de Deus.

A santidade do relacionamento entre esposos, pais, filhos, irmãos e irmãs, não está nele mesmo, mas enquanto são relacionamentos que me levam a Deus, me levam a amar. Sendo assim eles tornam-se sagrados. 

Queridos amigos ouvintes, as cruzes que encontramos na vida conjugal, familiar, profissional, na comunidade eclesial, e em tantos outros lugares, foram anunciadas na transfiguração de Jesus e fazem parte desta vida de entrega, de renúncia, de abnegação, de penitência, de amor.

E neste tempo de penitência não nos esqueçamos do jejum que sobremaneira é agradável a Deus: “soltar as algemas injustas, soltar as amarras de jugo, dar liberdade aos oprimidos e acabar com qualquer escravidão”.

Sigamos o Mestre e, como ele, sejamos generosos em amar.

Ouça a reflexão

 VATICAN NEWS

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