(RV) Cidade do Vaticano (RV) - “Um sacerdote que
se separa do povo não é capaz de dar a mensagem de Jesus.” Foi o que
disse o Papa Francisco no discurso espontâneo feito no sábado (10/12) à
comunidade do “Pontifício Seminário Romano Regional Pugliese Pio XI”,
cujo texto integral foi publicado à noite pela Sala de Imprensa da Santa
Sé.
Ao todo, mais de 300 pessoas recebidas pelo Santo Padre na Sala
Clementina, no Vaticano, em sua maioria, seminaristas da referida região
do sul da Itália. Tendo entregado o discurso preparado para a ocasião, o
Pontífice falou sem texto.
Francisco pediu aos sacerdotes que estejam próximos do povo, que
sejam pais, que deem ao povo as carícias de Jesus e que não tenham medo
da pobreza, que “é mãe e muro”.
Tratou-se de um discurso intenso, espontâneo e exortativo. O Papa
recomendou aos futuros presbíteros que sejam, antes de tudo, pais para
os fiéis. E aludiu aos escândalos dos sacerdotes:
“A imprensa compra bem aquelas notícias, paga bem por elas. Porque é
assim: a regra do escândalo tem uma alta cotação na bolsa da mídia! Como
formar um sacerdote a fim de que sua vida não seja um falimento, não
desmorone? Só isso! Não, mais que isso! Para que sua vida seja fecunda.
Sim, fecunda! Não somente para que seja um bom padre que segue todas as
regras. Não, não. Que dê vida aos outros! Que seja pai de uma
comunidade. Um sacerdote que não é pai não serve.”
Em seguida, recordou a história de tantos bravos párocos na Itália.
“Olhem para seus pais na fé”, exortou Francisco, e peçam a graça da
“memória eclesial”.
É preciso assumir a longa tradição de bravos sacerdotes, que a Igreja
tem, levá-la adiante e deixá-la como herança: “Padres que recebem a
paternidade dos outros e a dão aos outros”.
Sacerdotes sejam próximos do povo
E para entender o que significa ser próximo do Povo, Francisco falou
de um pároco de uma pequena localidade, que conhecia o nome de cada
paroquiano. “Proximidade com o povo”, como Jesus que se fez próximo “a
ponto de assumir nossa carne”. Em seguida, fez referência ao que dissera
antes o Reitor, que havia citado uma imagem em que o pé de Jesus impede
que se feche a Porta da Misericórdia:
“Um sacerdote que se separa do povo não é capaz de dar a mensagem de
Jesus. Não é capaz de fazer as carícias de Jesus ao povo; não é capaz – e
tomo a sua imagem – de colocar o pé para que a porta não se feche.
Proximidade às pessoas. E proximidade significa paciência; significa
gastar a vida, porque – falemos a verdade – o santo Povo de Deus cansa,
cansa! Mas que bonito encontrar um sacerdote que termina o dia cansado e
que não precisa de pastilhas para dormir bem!”
A pobreza protege o sacerdote: é mãe e muro
O Papa deteve-se em seu discurso sobre a pobreza, que é “mãe e muro” e
protege. Por vezes se tem a paróquia e se quer outra coisa, quem sabe
abrir uma escola. “Se você tem medo da pobreza, sua vocação está em
perigo”, disse Francisco, porque “a pobreza será aquilo que fará sua
doação ao Senhor crescer” e servirá de muro “para protegê-lo, porque a
pobreza na vida consagrada, na vida dos sacerdotes, é mãe e muro”.
Quando um sacerdote se distancia do povo faz mal à Igreja. Não há outro caminho a não ser o da Encarnação:
“As propostas gnósticas são muitas hoje, e um indivíduo pode ser um
bom sacerdote, mas não católico, gnóstico, mas não católico. Não, não!
Católico, encarnado, próximo, que sabe acariciar e sofrer com a carne de
Jesus nos doentes, nas crianças, no povo, nos problemas, nos muitos
problemas que nosso povo tem. Essa proximidade os ajudará muito, muito,
muito!”
A coisa mais importante é estar com Jesus
Em seguida, Santo Padre exortou os sacerdotes a passar tempo diante
do Tabernáculo: “Não deixar Jesus sozinho no Tabernáculo!”, exclamou,
porque é Ele que dá a força, e “você deve ser para seu povo como Jesus”.
Francisco ressaltou que a coisa mais importante é estar com Jesus: é
Ele quem fará o resto:
“Porque a Igreja não é uma Ong, e a pastoral não é um plano pastoral.
Isso ajuda, é um instrumento; mas a pastoral é o diálogo, o colóquio
contínuo – quer sacramental, quer catequético, quer de ensinamento – com
o povo. Estar próximo do povo e dar aquilo que Jesus me diz. E a
pastoral, quem a leva adiante? O Conselho pastoral da diocese? Não.
Também este é um instrumento. O Espírito Santo a leva adiante.”
Portanto, no centro está o Espírito Santo. e o Pontífice exortou a
saber distinguir as inspirações que vêm do Espírito Santo daquelas que,
ao invés, são do outro espírito, o espírito maligno. E pediu para se
refletir, na vida pastoral, sobre a “docilidade ao Espírito” e sobre o
“zelo apostólico”.
Os quatro pilares na vida do seminarista
O Papa recordou os quatro pilares na vida do seminarista: a oração, a
vida comunitária, a vida de estudo e a vida apostólica. Também o estudo
é importante, porque o mundo não tolera o papelão de um sacerdote que
não entende as coisas, ressaltou. Para Francisco, todos os quatro
pilares são necessários na formação e se falta um deles, a formação não é
equilibrada. Por fim, exortou-os, caso tivessem algum problema com o
bispo, que o fizessem saber ao próprio por primeiro, e não aos outros
nos mexericos: “Vocês jamais fofocam!” – ressaltou.
Irmã Bernadetta e o sacerdote que mantém o telefone no criado-mudo
Francisco havia iniciado seu discurso recordando a figura de uma
Irmã, Bernadetta, que era “da região de vocês”, disse aos seminaristas
da Puglia.
Na Argentina, contou o Papa, ela vivia próximo “da nossa casa de
formação”. Como mestre de noviços e também como Provincial, quando havia
algum problema com alguém, mandava a pessoa em questão falar com essa
Irmã. “E ela, dois “bofetes espirituais” e a coisa se resolvia”, disse o
Pontífice, que elogiou a “sabedoria das mulheres de Deus, mães”, “que
sabem dizer as coisas que o Senhor quer que sejam ditas”.
Francisco rendeu homenagem a essa Irmã e a todas aquelas mulheres
sábias que “consagram a vida ao Senhor” e que se fazem próximas na
formação dos padres nos seminários”. Em seguida, concluiu seu discurso
sobre a vida sacerdotal com um ícone, o do pároco que mantém o telefone
no criado-mudo e que, se chamado, se levanta a qualquer hora da noite,
para acorrer até um doente ou para dar os sacramentos:
“Este é o zelo apostólico, isto é consumir a vida no serviço aos
outros. E no final o que nos resta? Que coisa? A alegria do serviço do
Senhor!” (DD/RL)
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