(RV) Os frutos do Jubileu da Misericórdia, a
laicidade, os desafios para os jovens e para a Europa: estes são alguns
dos temas comentados por Francisco numa entrevista concedida ao semanal
católico belga "Tertio", publicado esta quarta-feira (07/12).
Laicidade saudável
O Papa observa que um Estado laico é melhor do que um Estado
confessional. Todavia, não é saudável o laicismo que “fecha as portas à
transcendência”, trata-se de uma “herança que o Iluminismo nos deixou”.
Para Francisco, a abertura à transcendência faz parte da essência
humana, e quando um sistema político ignora esta dimensão, descarta a
pessoa humana.
Não se pode fazer guerra em nome de Deus
O Papa responde a uma pergunta sobre as guerras e o fundamentalismo
religioso. Antes de tudo, defende que “nenhuma religião como tal pode
fomentar a guerra”, porque – neste caso – estaria “proclamando um deus
de destruição, um deus de ódio”. “Não se pode fazer a guerra em nome de
Deus”, “em nome de nenhuma religião”. Por isso, “o terrorismo e a guerra
não se relacionam com a religião”. O que acontece é que “usam
deformações religiosas para justificá-las”. O Pontífice reconhece que
“todas as religiões têm grupos fundamentalistas. Todas. Inclusive nós”.
Esses pequenos grupos, acrescenta, “adoeceram a própria religião” e
“dividem a comunidade, o que é uma forma de guerra”.
Líderes europeus
Na entrevista, Francisco fala também do continente europeu e ressalta
que, mesmo passados 100 anos da I Guerra Mundial, “estamos sempre num
estado de conflito mundial, em pedaços”. Dizemos com a boca “nunca mais a
guerra”, “mas enquanto isso fabricamos armas e as vendemos para quem
combate em nome dos interesses dos fabricantes de armas. O preço é muito
alto: o sangue”. Francisco considera que hoje faltam líderes
verdadeiros na Europa, como Schumann, De Gasperi e Adenauer, que lutaram
contra a guerra. “A Europa necessita de líderes, líderes que olhem para
frente”.
Jubileu da Misericórdia, uma ideia inspirada pelo Senhor
Uma parte importante da entrevista é dedicada ao Jubileu da
Misericórdia. O Papa revela que a ideia não surgiu imediatamente, mas se
inspirou de modo especial na acção do Beato Paulo VI e de S. João Paulo
II. A convocação de um Ano Santo extraordinário nasceu de uma conversa
com Dom Rino Fisichella, presidente do dicastério para a Nova
Evangelização. Foi uma ideia que veio do “alto”, “creio que o Senhor a
inspirou”. Um evento, prossegue, que “evidentemente foi muito bem”. E
destaca que “criou muito movimento” por ter se realizado em todo o
mundo, e não só em Roma. “Tantas pessoas se sentiram chamadas a se
reconciliarem com Deus, a sentirem o carinho do Pai”.
Sinodalidade
Outro tema foi a sinodalidade, em que Francisco recorda que a Igreja
nasce da comunidade, da base. Portanto, ou existe uma Igreja piramidal,
onde se faz o que diz Pedro, ou uma Igreja sinodal, em que Pedro é
Pedro, mas acompanha a Igreja. “A experiência mais rica disso tudo foram
os últimos dois Sínodos”, aponta o Papa. Para ele, “é interessante a
riqueza da variedade de tons, que é própria da Igreja. É unidade na
diversidade”. Nos Sínodos, cada um disse o que pensava “sem medo de se
sentir julgado”, “todos tinham a atitude de escuta, sem condenar”. Houve
uma discussão “como irmãos”. “Houve uma liberdade de expressão muito
grande” e “isso é belo”. “Pedro garante a unidade da Igreja” e é preciso
“progredir na sinodalidade”, defende Francisco. E aos jovens recordou a
experiência da JMJ de Cracóvia, pedindo a eles que não tenham vergonha
da fé, que busquem novos caminhos e “não se aposentarem aos 20 anos.”.
Media e desinformação
O Papa faz também uma reflexão sobre os meios de comunicação,
destacando que os media “tem uma responsabilidade muito grande”, pois
podem formar “uma boa ou uma má opinião”, “podem construir”, “fazem um
bem imenso”. Todavia, podem fazer danos através da “tentação da
calúnia”, para “sujar as pessoas” e difamá-las. A desinformação,
adverte, é o maior mal que os media podem fazer, “porque orientam a
opinião pública numa direcção, deixando a outra parte da verdade”.
Francisco pede ainda transparência e limpidez na cobertura, sem cair na
“doença da coprofilia”, isto é, comunicar o escândalo, “coisas ruins”,
porque assim podem provocar danos.
Sacerdotes e ternura
O último pensamento do Papa é direccionado aos sacerdotes, aos quais
pede que amem sempre Nossa Senhora, que jamais se sintam órfãos, que se
deixem guiar por Jesus e busquem sua carne sofredora nos irmãos. E
exortou: “Não tenham vergonha da ternura. Hoje se necessita de uma
revolução da ternura neste mundo que sofre de cardiosclerose”.
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