O ano de 2016 está a chegar ao fim. É tempo
de balanço. O ano que termina foi muito intenso para o Papa com as suas
seis viagens internacionais e as três realizadas em Itália, a publicação
da Exortação Apostólica Amoris Laetitia sobre a família, o Jubileu da
Misericórdia, com os seus muitos eventos e, ainda os encontros, as
audiências gerais, as Missas na Casa Santa Marta e as novas etapas da
reforma da Cúria. Mas o traço comum também deste ano é a profunda
renovação espiritual que o Papa Francisco está promovendo na Igreja para
que os cristãos levem a todo o mundo a alegria do Evangelho.
O amor de Deus é o centro do Evangelho, não a lei
“No centro não está a lei”, mas “o amor de Deus, que sabe ler o
coração de cada pessoa, para compreender o desejo mais escondido, e que
deve ter a primazia sobre tudo”. São, talvez, essas as palavras mais
significativas deste ano do Papa Francisco: estão contidas na Carta
Apostólica “Misericordia et Misera” publicada na conclusão do Jubileu.
“Este é o tempo da misericórdia”, reafirma. É o poder do Evangelho que
nós sempre tentamos engaiolar nos padrões tranquilizadores, assim como
fazem os escribas e fariseus que fazem perguntas capciosas a Jesus
citando Moisés e a Lei, porque “sempre foi feito assim”: mas o amor do
Senhor é mais forte. “O cristão - escreve o Papa - é chamado a viver a
novidade do Evangelho” e “também nos casos mais complexos, onde se
procura fazer prevalecer uma justiça que vem apenas das regras, deve-se
acreditar na força que brota da graça divina”:
“O que significa isso? Que muda a lei? Não! Que a lei está a serviço
do homem que está a serviço de Deus, e por isso o homem deve ter um
coração aberto. O “sempre foi feito assim” é coração fechado e Jesus
disse-nos: “Vou enviar o Espírito Santo e Ele vos conduzirá à plena
verdade”. Se tens o coração fechado à novidade do Espírito, nunca
vai chegar à plena verdade”.
Rigidez e soberba
Não é fácil caminhar na Lei do Senhor “sem cair na rigidez”, disse o
Papa. “A Lei não é feita para tornar-nos escravos, mas para tornar-nos
livres, para tornar-nos filhos”. O risco dos rígidos é cair na soberba, e
considerarem-se mais justos do que os outros:
“Vamos rezar pelos nossos irmãos e irmãs que acreditam que caminhar na
Lei do Senhor é tornar-se rígido. Que o Senhor faça com que eles sintam
que Ele é Pai e que Ele ama a misericórdia, a ternura, a bondade, a
mansidão, a humildade. E a todos ensine a caminhar na Lei do Senhor
com estas atitudes”.
Abertos às surpresas do Espírito
Desde o início, o Espírito Santo impele a Igreja para a frente, na
direção de novas estradas, das novidades de Deus. Cresce, de facto, a
compreensão da fé, as verdades de sempre são cada vez mais entendidas na
sua plenitude. A partir do primeiro Concílio da história, o de
Jerusalém, onde os apóstolos decidiram juntos, não impor a Lei Mosaica
aos gentios convertidos:
“Este é o caminho da Igreja até hoje. E quando o Espírito
surpreende-nos com algo que parece novo ou que “nunca se fez assim”, “deve-se fazer assim”, pensem no Vaticano II, as resistências que teve o
Concílio Vaticano II, e digo isto porque é mais perto de nós. Quantas
resistências: "Oh, não ... '. Também hoje resistências continuam, de
uma forma ou de outra, e o Espírito vai avante. E o caminho da
Igreja é este: reunir-se, unir-se, ouvir, discutir, rezar e decidir. E
isso é a chamada sinodalidade da Igreja, na qual se expressa a comunhão
da Igreja. E quem faz a comunhão? E o Espírito! Outra vez o
protagonista. O que o Senhor pede de nós? Docilidade ao Espírito. O que o
Senhor pede de nós? Não ter medo, quando vemos que é o Espírito que nos
chama”.
O diabo quer destruir a Igreja com as divisões
O Papa Francisco convida a trabalhar pela unidade da Igreja, a não
dilacerar o Corpo de Cristo. É o diabo - disse - que procura destruir a
Igreja através de divisões teológicas e ideológicas. A sua “é uma guerra
suja” e “nós ingênuos submetemo-nos”:
“As divisões na Igreja não deixam que o Reino de Deus cresça; não
deixam que o Senhor mostre-se bem, como Ele é. As divisões fazem com que
se veja esta parte, esta outra, contra esta, contra contra ... Sempre
contra! Não há o óleo da unidade, o bálsamo da unidade (...) eu peço-lhe
para fazer todo o possível para não destruir a Igreja com as divisões,
sejam ideológicas, sejam de ganância e de ambição, sejam de ciúmes”.
A Igreja - disse o Papa Francisco - tem necessidade constante de
renovar-se, porque é um corpo vivo. Mas os verdadeiros reformadores são
os santos.
(SP)
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