(RV) O Padre Raniero Cantalmessa fez na manhã
desta sexta-feira, no Vaticano, a quarta e última pregação do Advento na
presença do Papa Francisco e de membros da Cúria Romana. O tema desta
última reflexão foi “Encarnado por obra do Espírito Santo através da
Virgem Maria”.
“Dum medium silentium tenerent omnia”, enquanto tudo ao redor era
silêncio… com essas palavras – introduziu a pregação Padre Raniero -, a
liturgia procura recriar todos os anos a atmosfera própria do Natal.
No momento do nascimento de Jesus, o mundo não era menos agitado do
que hoje, mesmo se tudo ocorria em um círculo mais restrito. As ruas e
tavernas fervilhavam de pessoas por causa do censo; as grandes figuras
da época, mesmo distantes, eram César Augusto, Herodes ... Apenas duas
pessoas, Maria e José, tinham conhecimento do evento mais importante,
não só daquele tempo, mas de todos os tempos.
A situação se renova, espiritualmente, em cada Natal. As notícias de
atos de terrorismo, de guerras, de massas obrigadas, como então, a
deixarem suas casas e para as quais, como para Maria e José, "não há
lugar na estalagem", se sobrepõem e chegam até nós em tempo real.
Somente aqueles que por uma hora, ou um momento, serão capazes de
silenciar tudo, fora e dentro de si e, com a graça do Espírito Santo,
tomar consciência do que recordamos neste dia, apenas estes, poderão
dizer de terem "feito" Natal. Acontece como quando, saindo do caos
ensurdecedor da cidade, alguém cruza o limiar da sua casa ou do próprio
convento, tem a sensação de entrar em outro mundo.
No Credo dizemos: “Por nós homens e para a nossa salvação, desceu dos
céus, e por obra do Espírito Santo se encarnou no seio da Virgem Maria e
se fez homem”.
Santo Agostinho – disse o pregador da Casa Pontifícia - distinguia
dois modos de celebrar o evento da história da salvação: como modo de
mistério ("no sacramento"), ou como simples aniversário. Na celebração
do aniversário não se necessita de outra - dizia – a não ser “indicar
com uma solenidade religiosa o dia do ano que marca a memória do evento
em si"; na celebração como mistério, “não só se comemora um evento, mas
você o faz de modo que se entenda o seu significado para nós e o
acolhamos de maneira santa”.
O Natal não é uma celebração "no estilo de aniversário" (a escolha da
data de 25 de dezembro não é devido, sabemos, a razões históricas, mas
simbólicas e de conteúdo); é uma celebração "a modo de mistério" que
exige, portanto, ser entendida no seu significado para nós. São Leão
Magno já falava do significado místico do “sacramento do nascimento de
Cristo”, dizendo que "os filhos da Igreja foram gerados com Cristo no
seu nascimento, como foram crucificados com ele na paixão e
ressuscitados com ele na ressurreição”.
Maria, Virgem e Mãe, que gera o Cristo por obra do Espírito Santo, é o
"tipo", ou o exemplar perfeito, da Igreja e da alma do crente. Um autor
da Idade Média, Santo Isaac de Stella, resume o pensamento dos Padres, a
este respeito:
"Maria e a Igreja são uma mãe e mais mães; uma virgem e mais virgens.
O Espírito Santo – destacou ainda Padre Raniero -, nos convida, a
“retornar ao coração”, para celebrar um Natal mais íntimo e verdadeiro,
que torne “verdadeiro” também o Natal celebramos fora de nós, nos ritos e
nas tradições. O Pai quer gerar em nós a Sua Palavra para poder
pronunciar novamente, dirigindo-se a Jesus e a nós juntos, aquela doce
palavra: "Tu és meu filho; hoje eu te gerei"(Hb 1,5). Jesus quer nascer
em nossos corações. É assim que devemos pensar na fé: como se, nestes
últimos dias do Advento, Ele passasse entre nós e batesse de porta em
porta, como naquela noite em Belém, em busca de um coração para nascer
espiritualmente.
(SP)
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