23 dezembro, 2016

Papa à Cúria: reforma não é lifting mas profunda conversão




(RV) O Papa Francisco recebeu em audiência, nets quinta-feira (22/12) na Sala Clementina, os seus colaboradores da Cúria Romana: Superiores, Oficiais, Representantes Pontifícios e Colaboradores nas Nunciaturas espalhadas pelo mundo, todas as pessoas que prestam serviço na Cúria Romana seus familiares. A audiência, uma tradição, é uma ocasião para a troca de votos natalinos.

Definindo no seu discurso o Natal como ‘a amorosa humildade de Deus’ e após citar Santo Agostinho e o Beato Paulo VI, Francisco disse que ‘Deus escolheu nascer pequenino porque quis ser amado. E assim a lógica do Natal é a subversão da lógica do mundo, da lógica do poder, da lógica do controle’. Neste sentido, ‘sob esta luz suave e imponente do rosto divino de Cristo menino’, o Papa adiantou ter escolhido como tema deste encontro anual a reforma da Cúria Romana.

Finalidade não é 'estética' e nem mudar as pessoas

“A reforma não tem uma finalidade estética, como se se quisesse tornar mais bela a Cúria; nem se pode entender como uma espécie de avivamento, maquiagem para embelezar o velho corpo curial, e nem mesmo como uma operação de cirurgia plástica para tirar as rugas. Amados irmãos, não são as rugas que se devem temer na Igreja, mas as manchas!”

Entretanto, o Pontífice deixou claro também que a reforma não se atua de forma alguma com a mudança das pessoas, mas com a conversão nas pessoas: “Na realidade, não basta uma formação permanente, é preciso também e sobretudo uma conversão e uma purificação permanente. Sem uma mudança de mentalidade, o esforço funcional não teria qualquer utilidade”.

As doenças e os tratamentos; as dificuldades e resistências

Francisco explicou a razão de ter abordado nos encontros natalícios anteriores as ‘doenças’ da Cúria, em 2014, e as virtudes necessárias para quem presta serviço na Cúria em 2015. “Era necessário falar de doenças e tratamentos, porque cada operação, para ter sucesso, deve ser antecedida por diagnósticos profundos, por análises cuidadosas e deve ser acompanhada e seguida por prescrições concretas”.

No percurso de qualquer reforma, é normal, até mesmo salutar, encontrar dificuldades, e o Papa quis falar sobre as resistências, que podem ser abertas, ocultas e até malévolas, que germinam em mentes doentes e aparecem quando o diabo inspira más intenções (muitas vezes disfarçadas sob pele de cordeiros). “Este último tipo de resistência esconde-se por trás das palavras justificadoras e, em muitos casos, acusatórias, refugiando-se nas tradições, nas aparências, nas formalidades, no conhecido, ou então em querer reduzir tudo a um caso pessoal, sem distinguir entre o ato, o ator e a ação”.

Mas o Papa fez uma ressalva: “A ausência de reação é sinal de morte! Por isso as resistências boas – e até as menos boas – são necessárias e merecem ser escutadas, acolhidas e encorajadas a expressar-se”.

Passos para frente, mas se for preciso, para trás

Antes de elencar os critérios orientadores da reforma, o Pontífice deu uma ulterior indicação: ela é um processo delicado que deve ser vivido com fidelidade ao essencial, discernimento contínuo, coragem evangélica, sabedoria eclesial, escuta cuidadosa, ação tenaz, silêncio positivo, decisões firmes, muita oração, profunda humildade, clarividência, passos concretos em frente e – se necessário – passos também para trás, vontade decidida, vitalidade vibrante, poder responsável, obediência incondicional; mas, em primeiro lugar, com o abandono à orientação segura do Espírito Santo, confiando no seu apoio necessário.

Os doze critérios orientadores e os passos já dados

Os critérios principais que orientaram o Pontífice são doze: individualidade, pastoralidade, missionariedade, racionalidade, funcionalidade, modernidade, sobriedade, subsidiariedade, sinodalidade, catolicidade; profissionalismo, gradualidade.

Ainda no discurso, o Papa mencionou alguns passos realizados, como a criação do Conselho dos Cardeais para aconselhar o Papa no governo da Igreja universal e de outras Comissões específicas para o Instituto para as Obras de Religião, o Comité de Segurança Financeira da Santa Sé, a Autoridade de Informação Financeira (AIF), a Secretaria para a Economia e o Conselho para a Economia, o Departamento de Auditoria Geral. a Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores e a Secretaria para a Comunicação. Também foi renovado o processo canónico para as causas de declaração de nulidade do matrimónio; foi promulgado o Motu Proprio para obviar à negligência dos Bispos no exercício do seu cargo, particularmente em relação aos casos de abusos sexuais de menores e adultos vulneráveis, foram constituídos os Dicastérios para os Leigos, a Família e a Vida e para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, cuja seção para a pastoral dos migrantes será ocupada diretamente pelo Papa.

Encerrando o encontro, o Papa quis lembrar uma palavra e uma oração. A palavra é que o Natal é a festa da amorosa humildade de Deus, e a oração é uma convocatória natalícia do Padre Matta el Meskin. (bs/cm)

Sem comentários:

Enviar um comentário