(RV) Cidade
do Vaticano: - O Santo Padre recebeu, em audiência esta manhã, às 11,30
horas de Roma, na Sala do Concistório, no Vaticano, os cerca de 60
participantes na Reunião das Associações Internacionais Rurais
Católicas.
“Queridos irmãos e irmãs, disse Francisco, estou feliz por esse
encontro, que ocorre no final do vosso congresso sobre os problemas do
mundo rural e sobretudo sobre a realidade de todos aqueles que trabalham
com grande empenho quotidiano, na agricultura. Um trabalho, por vezes
muito duro, mas realizado com plena consciência de estar a fazer algo
para os outros, cultivando com paixão a terra para garantir os frutos,
seguindo os ciclos estacionais e enfrentando as adversidades provocadas
pelas mudanças climáticas, infelizmente agravadas pela negligência
humana”.
Neste sentido, prosseguiu o Papa, “com a atenção reservada ao mundo
rural radicada na visão do ensinamento social da Igreja, “vós
representais bem aquele imperativo de “cultivar e cuidar” do jardim do
mundo” a que somos chamados, se queremos dar continuidade à acção
criadora de Deus e proteger a casa comum.
«Vivemos o paradoxo de uma agricultura que não é mais
considerada como sector prioritário da economia, mas que mantém uma
evidente relevância nas políticas de desenvolvimento, nos desequilíbrios
da segurança alimentar como também na vida das comunidades rurais. Em
algumas áreas geográficas, de facto, o desenvolvimento agrícula
permanece a principal resposta possível à pobreza e a escassez de
comida. Isto porém, significa remediar a carência dos aparatos
institucionais, a iníqua aquisição de terras cuja produção é subtraída
aos legítimos beneficiários, os injustos métodos especulativos ou a
falta de políticas específicas, nacionais e internacionais».
De facto, sublinha o Santo Padre, olhando para o mundo rural hoje em
dia, emerge diante de nós, o primado da dimensão do mercado que orienta
as acções e as decisões. Os negócios em primeiro lugar e para além de
tudo! Mesmo a custa de sacrificar os ritmos da vida agrícula, com os
seus momentos de trabalho e de tempo livre, de repouso semanal e do
cuidado da família.
Ora, para todos aqueles que vivem a realidade rural, destacou ainda
Francisco, isto significa constatar que o desenvolvimento não é igual
para todos, é como se a vida das comunidades rurais tenha menos valor.
Na mesma ordem de ideias, salientou o Papa, a própria solidariedade,
amplamente invocada como remédio se revela insuficiente se ela não for
acompanhada pela justiça na distribuição das terras, nos salários ou no
acesso ao mercado. A participação dos pequenos agricultores nas tomadas
de decisões permanece assim ainda longe de ser uma realidade, devido à
ausência de instituições locais e a falta de regras certas que sejam
capazes de reconhecer os valores da honestidade, da rectidão e da
lealdade.
O que fazer então nestes casos, perguntou o Santo Padre? «A
história da Associação Internacional Rural Católica, disse Francisco,
demonstra que é possível conjugar o ser cristão com o agir enquanto
cristãos na realidade do mundo agrícula, onde o significado da pessoa
humana, a dimensão familiar e social, o sentido de solidariedade são
valores essenciais mesmo em situações de maior subdesenvolvimento e
pobreza. A vossa estrutura mundial, as relações com as grandes
organizações internacionais são o modo através do qual é possível, para
uma ONG de inspiração cristã como a vossa, reagir aos desafios e
responder às necessidades. Mas para isso é vos pedido um suplemento de
humanidade, feito antes de tudo de opções corajosas e de competência
constantemente renovada, para cooperar com as instituições estatais e
internacionais na tarefa de predispor as técnicas e em dar soluções aos
problemas, sempre na perspectiva humanizante».
Finalmente, Francisco recordou aos presentes para nunca esquecerem
que o papel de uma ONG radicalmente ancorada na doutrina social da
Igreja é antes de mais a de construir pontes, partindo de um
conhecimento aprofundado das próprias raízes, não limitando-se a
participar simplesmente nos diversos processos em curso, mas operando
para uma mudança de estratégias e de projectos. Para isso, vincou o
Papa, é necessário uma competência que substitua à improvisação, mesmo
aquela que exprime a boa vontade ou sentido elevado de altruísmo.
O Papa abençoou o empenho dos participantes e rezou ao Senhor para
que assista cada trabalhador da terra, as famílias rurais e todos
aqueles que operam no mundo da agricultura. Ao mesmo tempo que pediu
também que não esqueçam de rezar por Ele.
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