(RV) Muçulmanos, judeus e
cristãos reconheçam-se como “irmãos e companheiros de viagem” e assumam
o “compromisso de construir uma paz sólida”. Há que “renovar sempre a
coragem da paz”! É urgente promover o “diálogo inter-religioso e
intercultural, a fim de banir toda a forma de fundamentalismo e de
terrorismo”. “Ao fanatismo e ao fundamentalismo, às fobias irracionais
que incentivam incompreensões e discriminações, é preciso contrapor a
solidariedade de todos os crentes”.
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Estas as afirmações fundamentais da primeira intervenção do Papa em
terras turcas, no encontro com as autoridades do país. O Santo Padre
congratulou-se com a oportunidade que de prosseguir nesta visita “um
diálogo de amizade, estima e respeito”, na senda traçada pelos
antecessores, Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI; diálogo aliás
preparado e favorecido pela acção do então Delegado Apostólico Mons.
Ângelo Roncalli, mais tarde João XXIII, e pelo Concílio Vaticano II.
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O Papa recordou a necessidade de “prosseguir, com paciência, o
compromisso de construir uma paz sólida, assente no respeito pelos
direitos fundamentais e deveres ligados com a dignidade do homem”. Só
assim se poderão “superar preconceitos e falsos temores”.
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Para isso, é fundamental que os cidadãos muçulmanos, judeus e
cristãos … gozem dos mesmos direitos e respeitem os mesmos deveres.
Assim, hão-de mais facilmente reconhecer-se como irmãos e companheiros
de viagem, afastando cada vez mais as incompreensões e favorecendo a
colaboração e o acordo.
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Referindo-se em particular ao Médio Oriente, “há demasiado tempo teatro
de guerras fratricidas, que parecem nascer uma da outra, como se a única
resposta possível à guerra e à violência tivesse de ser sempre uma nova
guerra e outra violencia”, exclamou o Papa:
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Quanto tempo deverá sofrer ainda o Médio Oriente por causa da falta
de paz? Não podemos resignar-nos com a continuação dos conflitos, como
se não fosse possível mudar a situação para melhor! Com a ajuda de Deus,
podemos e devemos sempre renovar a coragem da paz!
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Uma importante contribuição nesse sentido – considerou o Papa – “pode
vir do diálogo inter-religioso e intercultural, a fim de banir toda a
forma de fundamentalismo e de terrorismo, que humilha gravemente a
dignidade de todos os seres humanos e instrumentaliza a religião”.
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Ao fanatismo e ao fundamentalismo, às fobias irracionais que
incentivam incompreensões e discriminações, é preciso contrapor a
solidariedade de todos os crentes – que tenha como pilares o respeito
pela vida humana, pela liberdade religiosa, que é liberdade do culto e
liberdade de viver segundo a ética religiosa –, o esforço por garantir a
todos o necessário para uma vida digna, e o cuidado do meio ambiente.
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Referindo expresamente os “graves conflitos” que afetam a Síria e o
Iraque – onde “a violência terrorista não dá sinais de diminuir”, Papa
Francisco recordou as perseguições de que são vítimas nomeadamente os
cristãos destas terras:
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Regista-se a violação das normas humanitárias mais elementares contra
prisioneiros e grupos étnicos inteiros; verificaram-se, e continuam
ainda, graves perseguições contra grupos minoritários, especialmente –
mas não só – cristãos e yazidis: centenas de milhares de pessoas foram
obrigadas a abandonar as suas casas e a sua pátria, para poderem salvar a
sua vida e manter-se fiéis ao próprio credo.
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Especialmente tocada por esta situação a Turquia, que acolhe tão
grande número de refugiados. A comunidade internacional tem a obrigação
moral de a ajudar a cuidar dos refugiados. Juntamente com a assistência
humanitária necessária, não se pode permanecer indiferente àquilo que
provocou estas tragédias. Se “é lícito deter o injusto agressor – sempre
no respeito pelo direito internacional – não se pode contudo confiar a
resolução do problema somente à resposta militar” – advertiu o Papa.
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Que o Altíssimo abençoe e proteja a Turquia e a ajude a ser uma válida e convicta artífice de paz!
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(Texto integral do discurso do Papa na secção Documentos e Mensagens)
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Concluído há pouco o encontro com as Autoridades turcas, no Palácio
presidencial, o Santo Padre teve um breve colóquio com o primeiro
ministro, Ahmed Davutoglu. O Papa Francisco desloca-se seguidamente ao
Departamento para as Questões Religiosas, onde pronunciará o segundo
discurso desta viagem, último momento público do programa de hoje.
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Amanhã, sábado, a transferência para Istambul, com o encontro com a
pequena comunidade católica da Turquia e, sobretudo, com o Patriarca
Ortodoxo de Constantinopla, Bartolomeu I, com o qual celebrará, domingo,
a festa de Santo André, patrono do patriarcado ecuménico.
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Esta viagem coloca-se no âmbito de anteriores visitas dos Bispos de
Roma, sempre ligadas à relação especialíssima com o Patriarcado de
Constantinopla. Começou Paulo VI, em 1967, seguindo-se-lhe João Paulo
II, em 1979, e Bento XVI em 2006. Antes ainda, como figura tutelar que
preparou o terreno a um clima cordial de diálogo ecuménico e mesmo
inter-religioso, há que recordar Angelo Roncali, depois Papa João XXIII,
que ao longo de dez anos foi Delegado Apostólico na Turquia e na
Grécia, deixando a sua marca de respeito por todos e de amizade e
testemunho cristão.
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O encontro com o Patriarca Bartolomeu, em Istambul, sábado à tarde e
domingo de manhã, culminará com a assinatura de uma Declaração conjunta e
a bênção final da varanda do Palácio patriarcal, após a Divina Liturgia
da festa de Santo André, celebrada pelo Patriarca na presença do Papa.
Embora desde há muito reinem boas relações eclesiais entre Roma e
Constantinopla, é de sublinhar a especial cordialidade e amizade pessoal
que se estabeleceu desde o primeiro momento entre o Papa Francisco e o
Patriarca Bartolomeu.
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