Ao receber na
Praça de São Pedro membros da Polícia Penitenciária e pessoal que trabalha
nas prisões, o Santo Padre defendeu que ninguém deve ser privado do
direito de recomeçar: "a prisão perpétua não é a solução para os
problemas, mas um problema a ser resolvido".
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
Foram três as palavras que o Papa dirigiu na manhã deste sábado, 14,
aos cerca de 11 mil membros da Polícia Penitenciária, ao pessoal ligado
à Administração Penitenciária e ao Juizado de menores e de comunidades,
reunidos na Praça de São Pedro: “obrigado”, “em frente” e “coragem”.
"Obrigado"
Francisco começou por agradecer pelo trabalho da Polícia Penitenciária e
pelo pessoal administrativo: “um trabalho escondido, muitas vezes
difícil e mal pago, mas essencial”. “Obrigado por todas as vezes que vivem o vosso serviço, não apenas como uma vigilância necessária, mas
como um apoio àqueles que são fracos”:
“Sei que não é fácil, mas quando, além de serem guardiões da
segurança, sois uma presença próxima daqueles que caíram nas redes
do mal, vocês tornam-se construtores do futuro, lançam as bases para uma
convivência mais respeitosa e, portanto, para uma sociedade mais
segura. Obrigado porque, ao fazerem isto, tornam-se, dia após dia,
artesões de justiça e esperança.”
Reconhecer a dignidade diante da humanidade ferida
Citando a passagem da Epístola aos Hebreus: "Lembrai-vos dos presos,
como se voces estivessem juntos com eles na prisão”, o Santo Padre
recordou que estes agentes encontram-se na mesma situação, “ao
atravessarem os limiares de tantos locais de dor todos os dias, enquanto
passam muito tempo entre os diversos setores, enquanto se comprometem a
garantir a segurança sem nunca perder o respeito pelos seres humanos”:
“Por favor, não esqueçam o bem que podeis fazer todos os
dias. O vosso comportamento, as vossas atitudes, os vossos olhares são preciosos.
Sejam pessoas que, diante de uma humanidade ferida e muitas vezes
devastada, reconheçam nela, em nome do Estado e da sociedade, a
dignidade irreprimível.”
Ser ponte entre a prisão e a sociedade
Francisco agradeceu aos agentes por não serem apenas vigias, mas
sobretudo protetores das pessoas que lhes são confiadas, porque, ao tomar
consciência do mal praticado, acolhem as perspectivas de renascimento
para o bem de todos. "Vós sois assim chamados a serem uma ponte entre a
prisão e a sociedade civil: com o vosso serviço, exercitando uma reta
compaixão, podem contornar os medos recíprocos e o drama da
indiferença”.
O Papa também os exortou a não perderem a motivação, mesmo diante das
tensões que possam surgir nos centros de detenção, recordando ao mesmo
tempo a importância do apoio das famílias, o incentivo recíproco e a
partilha entre os colegas, o que permite enfrentar as dificuldades e
ajudar a enfrentar as deficiências, como o “problema da superlotação nas
instituições penitenciárias, que faz aumentar em todos a sensação de
fraqueza e mesmo de exaustão.
“Quando as forças diminuem, a desconfiança aumenta”, ressaltou o
Papa. Neste sentido, “é essencial garantir condições de vida decentes,
caso contrário, as prisões tornam-se depósitos de raiva em vez de locais
de recuperação.
"Em frente"
Já aos capelães, religiosas, religiosos e voluntários que trabalham nas prisões, a palavra do Santo Padre foi: “em frente”.
“Em frente, quando entram nas situações mais difíceis com a
única força de um sorriso e de um coração que escuta, em frente quando carregam os fardos dos outros e os levam na oração. Em frente
quando, em contacto com a pobreza que encontram, vocês veem a vossa própria pobreza. É um bem, porque é essencial antes de tudo
reconhecer-mo-nos necessitados de perdão. Então as próprias misérias tornam-se receptáculos da misericórdia de Deus; então, perdoados, tornam-se
testemunhas credíveis do perdão de Deus, caso contrário corre-se o
risco de levar avós mesmos e as próprias presumidas autossuficiências. Em
frente, porque com a vossa missão oferecem consolo. E é tão
importante não deixar sós aqueles que se sentem sozinhos.”
Pacientes semeadores da Palavra
Em frente então – foi a exortação final do Papa aos religiosos – com
Jesus e no sinal de Jesus, que vos chama a serem pacientes semeadores
de sua palavra, buscadores incansáveis daquilo que está perdido,
anunciadores da certeza que cada um é precioso para Deus, pastores que
carregam as ovelhas mais fracas nos próprios ombros. Em frente com
generosidade e alegria: com o vosso ministério consolam o
coração de Deus”.
Por fim, a terceira palavra – “coragem” – foi dirigida aos prisioneiros.
Coragem vem de coração, explicou Francisco. É o próprio Jesus que que3 vos diz isto. "Coragem", porque “vocês estão no coração de Deus, vocês
são preciosos aos seus olhos, e mesmo que se sintam perdidos em vós”:
“Nunca se deixem aprisionar na cela escura de um coração sem
esperança, não cedam à resignação. Deus é maior do que qualquer problema
e espera por vós para amar-vos. Colocai-vos diante do Crucifixo, sob o
olhar de Jesus: diante dele, com simplicidade, com sinceridade. Dali,
da coragem humilde daqueles que não mentem para si mesmos, renasce a
paz, floresce novamente a confiança de serem amados e a força para seguir
em frente. Eu imagino olhar para vós e ver a decepção e a frustração nos vossos olhos, enquanto no coração bate ainda a esperança, muitas vezes
ligada à recordação dos vossos entes queridos. Coragem, nunca sufoques a
pequena chama da esperança”.
“Reavivar esta pequena chama é dever de todos”, enfatizou Francisco.
“Cabe a toda a sociedade alimentá-lo, fazer de forma que a penalidade
não comprometa o direito à esperança, que sejam garantidas perspectivas
de reconciliação e de reintegração. Enquanto os erros do passado são
remediados, nãos e pode cancelar a esperança no futuro.”
“A prisão perpétua não é a solução para os problemas, mas um problema
a ser resolvido. Porque se a esperança é fechada numa cela, não há
futuro para a sociedade. Nunca privar do direito de recomeçar!”
“Queridos irmãos e irmãs – disse o Santo Padre ao concluir -
são testemunhas deste direito com o vosso trabalho e serviço: o direito
à esperança, o direito de recomeçar. Renovo o meu “obrigado” a vós. Em
frente, coragem, com as bênçãos de Deus, guardando os que foram
confiados a vós. Rezo por vós e também peço que rezem por mim.”
VN
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