19 setembro, 2019

O Papa: o ministério é um dom, não uma função ou um pacto de trabalho

 
 
Na homilia da missa celebrada na Casa de Santa Marta, o Papa Francisco destacou que quando nos apropriamos do dom e o centralizamos em nós mesmos, este torna-se “uma função”, perdendo o coração do ministério, episcopal ou presbiteral que seja. Da falta de contemplação do dom, nascem “todos os desvios que conhecemos”.
 
Alessandro Di Bussolo – Cidade do Vaticano

O Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa de Santa Marta e diante dos muitos bispos e sacerdotes que concelebraram com ele, falou do dom do ministério.

O Pontífice convidou-os a refletir sobre a primeira Carta de São Paulo a Timóteo, proposta pela liturgia, destacando a palavra “dom”, seguindo o conselho de Paulo ao jovem discípulo: “Não descuides o dom da graça que tu tens”.

Não é um pacto de trabalho: “Eu devo fazer”, o fazer está em segundo plano; eu devo receber o dom e protegê-lo como dom e dali brota tudo, na contemplação do dom. Quando nós nos esquecemos disto, apropriamo-nos do dom e o transformamos em função, perde-se o coração do ministério, perde-se o olhar de Jesus que olhou para todos nós e disse: “Segue-me”, perde-se a gratuitidade.

O risco de centralizar o ministério em nós mesmos

O Papa adverte então para um risco:

Desta falta de contemplação do dom, do ministério como dom, brotam todos aqueles desvios que nós conhecemos, dos piores, que são terríveis, àqueles mais cotidianos, que nos fazem centralizar o nosso ministério em nós mesmos e não na gratuitidade do dom e no amor por Aquele que nos deu o dom, o dom do ministério.

É importante fazer, mas primeiramente contemplar e proteger

Citando o apóstolo Paulo, Francisco recordou que o dom é “conferido mediante uma palavra profética com a imposição das mãos por parte dos presbíteros” e que vale para os bispos, mas também “para todos os sacerdotes”.

O Papa destacou ainda “a importância da contemplação do ministério como dom e não como função”. Fazemos aquilo que podemos, esclareceu, com boa vontade, inteligência, “também com esperteza”, mas sempre para proteger este dom.

O fariseu que esquece os dons da cortesia e do acolhimento

Esquecer a centralidade de um dom, acrescentou o Pontífice, é algo humano e deu como exemplo o fariseu que, no Evangelho de Lucas, acolhe Jesus na sua casa, ignorando “as inúmeras regras de acolhimento”, ignorando os dons. Jesus faz notar isso, indicando a mulher que doa tudo aquilo que o anfitrião esqueceu: a água para os pés, o beijo do acolhimento e a unção da cabeça com o óleo.

Havia este homem que era bom, um bom fariseu, mas esqueceu-se do dom da cortesia, o dom do acolhimento, que também é um dom. Esquecem-se sempre os dons quando há algum interesse por trás, quando eu quero fazer isto, fazer, fazer... Sim, devemos, os sacerdotes, todos nós devemos fazer coisas e a primeira tarefa é anunciar o Evangelho, mas protegê-lo, proteger o centro, a fonte, de onde brota esta missão, que é propriamente o dom que recebemos gratuitamente do Senhor.

O Senhor nos ajude a não nos tornarmos ministros empresários

A oração final de Francisco ao Senhor é para que “nos ajude a proteger o dom, a ver o nosso ministério primeiramente como um dom, depois um serviço”, para não arruiná-lo “e não nos tornamos ministros empresários, executores”, e tantas coisas que afastam da contemplação do dom e do Senhor, “que nos deu o dom do ministério”. Uma graça que o Pontífice pediu para todos os presentes, mas especialmente para aqueles que festejam os 25 anos de ordenação.


VN

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