Na homilia da
missa celebrada na Casa de Santa Marta, o Papa Francisco destacou que
quando nos apropriamos do dom e o centralizamos em nós mesmos, este
torna-se “uma função”, perdendo o coração do ministério, episcopal ou
presbiteral que seja. Da falta de contemplação do dom, nascem “todos os
desvios que conhecemos”.
Alessandro Di Bussolo – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco celebrou a missa na capela da Casa de Santa Marta e
diante dos muitos bispos e sacerdotes que concelebraram com ele, falou
do dom do ministério.
O Pontífice convidou-os a refletir sobre a primeira Carta de São Paulo a Timóteo,
proposta pela liturgia, destacando a palavra “dom”, seguindo o conselho
de Paulo ao jovem discípulo: “Não descuides o dom da graça que tu tens”.
Não é um pacto de trabalho: “Eu devo fazer”, o fazer está em
segundo plano; eu devo receber o dom e protegê-lo como dom e dali brota
tudo, na contemplação do dom. Quando nós nos esquecemos disto, apropriamo-nos do dom e o transformamos em função, perde-se o coração do
ministério, perde-se o olhar de Jesus que olhou para todos nós e disse:
“Segue-me”, perde-se a gratuitidade.
O risco de centralizar o ministério em nós mesmos
O Papa adverte então para um risco:
Desta falta de contemplação do dom, do ministério como dom, brotam
todos aqueles desvios que nós conhecemos, dos piores, que são
terríveis, àqueles mais cotidianos, que nos fazem centralizar o nosso
ministério em nós mesmos e não na gratuitidade do dom e no amor por Aquele
que nos deu o dom, o dom do ministério.
É importante fazer, mas primeiramente contemplar e proteger
Citando o apóstolo Paulo, Francisco recordou que o dom é “conferido
mediante uma palavra profética com a imposição das mãos por parte dos
presbíteros” e que vale para os bispos, mas também “para todos os
sacerdotes”.
O Papa destacou ainda “a importância da contemplação do ministério
como dom e não como função”. Fazemos aquilo que podemos, esclareceu, com
boa vontade, inteligência, “também com esperteza”, mas sempre para
proteger este dom.
O fariseu que esquece os dons da cortesia e do acolhimento
Esquecer a centralidade de um dom, acrescentou o Pontífice, é algo
humano e deu como exemplo o fariseu que, no Evangelho de Lucas, acolhe
Jesus na sua casa, ignorando “as inúmeras regras de acolhimento”,
ignorando os dons. Jesus faz notar isso, indicando a mulher que doa tudo
aquilo que o anfitrião esqueceu: a água para os pés, o beijo do
acolhimento e a unção da cabeça com o óleo.
Havia este homem que era bom, um bom fariseu, mas esqueceu-se do dom
da cortesia, o dom do acolhimento, que também é um dom. Esquecem-se sempre os dons quando há algum interesse por trás, quando eu quero
fazer isto, fazer, fazer... Sim, devemos, os sacerdotes, todos nós
devemos fazer coisas e a primeira tarefa é anunciar o Evangelho, mas
protegê-lo, proteger o centro, a fonte, de onde brota esta missão, que é
propriamente o dom que recebemos gratuitamente do Senhor.
O Senhor nos ajude a não nos tornarmos ministros empresários
A oração final de Francisco ao Senhor é para que “nos ajude a
proteger o dom, a ver o nosso ministério primeiramente como um dom,
depois um serviço”, para não arruiná-lo “e não nos tornamos ministros
empresários, executores”, e tantas coisas que afastam da contemplação do
dom e do Senhor, “que nos deu o dom do ministério”. Uma graça que o
Pontífice pediu para todos os presentes, mas especialmente para aqueles
que festejam os 25 anos de ordenação.
VN
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