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Papa Francisco com jovens italianos no Circo Máximo
(AFP or licensors)
“E o clericalismo,
que não é só dos clérigos, é um comportamento que diz respeito a todos
nós: o clericalismo é uma perversão da Igreja”, disse o Papa Francisco
aos jovens italianos reunidos no Circo Máximo, destacando a necessidade
do testemunho e do sair de si mesmo: "onde não há testemunho, não há o
Espírito Santo".
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
“O clericalismo é uma perversão na Igreja”. O Papa Francisco foi incisivo ao responder às questões apresentadas por Dario, de 27 anos, enfermeiro em curas paliativas, alguém “que dá testemunho todos os dias com os doentes”.
Diante de 50 mil jovens italianos presentes no Circo Máximo, no último
sábado, quatro deles fizeram perguntas ao Papa, com sinceridade,
como lhe agrada. Dario revelou ter dificuldade em entender “como um
Deus grande e bom” permite o sofrimento de crianças, dos pobres, dos
marginalizados. Ademais, considera que a Igreja, mensageira da Palavra
de Deus, parece “sempre mais distante com seus rituais”. Os frequentes
escândalos tornam-na pouco credível. Os jovens têm necessidade de
testemunho, de serem ouvidos e acompanhados, disse ele.
“Dario pôs o dedo na chaga e repetiu mais de que uma vez a palavra «porquê», começou por dizer Francisco, afirmando que para muitas situações,
encontraremos resposta somente “olhando para Cristo crucificado e para
a sua Mãe”.
Testemunho
Quanto às suas observações em relação à Igreja, o Papa diz escutar
“com respeito”, “é um juízo sobre todos nós”, de modo especial “para nós
pastores”, “os consagrados, as consagradas”. “Nem sempre é assim, mas
às vezes é verdadeiro”, ponderou, acrescentando que para ser-se capaz de
dar uma resposta positiva às expectativas daqueles que esperam um
testemunho autêntico, serem acompanhados e ouvidos, é preciso que “o
cristão, seja um fiel leigo, um sacerdote, uma irmã, um bispo”, aprenda
“a escutar o sofrimento, a escutar os problemas, a estar em silêncio e
deixar falar e ouvir”:
Por esse motivo dizia-se a respeito dos primeiros cristãos: “Vejam
como se amam!”, “porque as pessoas viam o seu testemunho. Sabiam
escutar, e depois viviam segundo o Evangelho".
“Ser cristão, não é um status de vida, um status
qualificado”, diz o Papa, chamando a atenção para o tipo de oração: «Te
agradeço Senhor, porque sou cristão e não sou como os outros que não
acreditam em Ti», que é “a oração do fariseu, do hipócrita. Assim rezam
os hipócritas”.
“Mas pobre gente, não entendem nada. Não foram à catequese, não
estudaram num colégio católico, não estudaram numa universidade
católica”. “Isto é cristão?”, pergunta Francisco.
“Isto escandaliza, isto é pecado. «Te agradeço Senhor, porque não sou
como os outros. Vou à Missa aos domingos, eu faço isso, tenho uma vida
ordenada, confesso-me, não sou como os outros» Isso é cristão?”,
questiona. “Não. Devemos escolher o testemunho”, começar a viver como
cristãos, então despertaremos a curiosidade que leva a perguntarem-nos, por que
vivemos assim.
Escândalos
Enquanto Dario expunha as seus questões, o Papa Francisco
anotava, para respondê-los uma a uma. À pergunta sobre os fastos e os
frequentes escândalos que tornam a Igreja pouco credível aos olhos dos
jovens, Francisco disse:
“O escândalo de uma Igreja formal, não testemunha; o escândalo de uma Igreja fechada porque não sai. Ele – disse o Papa referindo-se a Dario
– deve sair de si mesmo, quer esteja triste ou contente, mas deve sair
para acariciar os doentes, para oferecer as curas paliativas que fazem
com que o seu trânsito para a eternidade seja menos doloroso. E ele sabe o
que é sair de si mesmo, ir em direção aos outros, ir para além das
fronteiras que me dão segurança.”
Clericalismo
E recorda a passagem em que Jesus diz: «Eis que estou à porta e bato:
se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei na sua casa e
cearemos, eu com ele e ele comigo»:
“Eu penso muitas vezes em Jesus que bate à porta, mas de dentro,
para que o deixemos sair, porque nós, muitas vezes, sem testemunho, o
mantemos prisioneiro das nossas formalidades, dos nossos fechamentos,
dos nossos egoísmos, do nosso modo de viver clerical”.
Jesus, pelo contrário – explica o Papa – ensina-nos este caminho de
saída de nós mesmos, o caminho do testemunho. E este é o escândalo –
porque somos pecadores! – não sair de nós mesmos para testemunhar”.
Mas, se eu não sou capaz de sair de mim mesmo para dar testemunho,
posso criticar “aquele padre, aquele bispo ou aquele cristão? (...)
Posso dizer isto também a meu respeito? Eu dou testemunho?”, questiona.
"A Igreja sem testemunho – disse Francisco aos jovens - é somente fumaça".
VATICAN NEWS
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