Anunciar com a caridade e rezar juntos pela plena Comunhão: estes são os pontos centrais da Mensagem do Papa ao Sínodo Valdense
Silvonei José – Cidade do Vaticano
onsumar-se no anúncio de Jesus que será credivel se for testemunhado
"na caridade, especialmente em prol dos muitos Lázaros que hoje batem à
nossa porta". Foi isto que escreveu o Papa Francisco numa Mensagem ao
Sínodo das Igrejas Metodista e Valdense, que teve início nesta
segunda-feira (27/08) na localidade italiana de Torre Pellice.
Rezar juntos pela comunhão plena O desejo de Francisco é que juntos se peça a Deus para que "todos os
cristãos possam caminhar com sinceridade de coração rumo à plena
comunhão", porque é somente respondendo ao apelo do Senhor a ser "uma só
coisa" que "poderemos anunciar melhor o Evangelho". O Papa recorda
também com gratidão os encontros na Argentina e, mais recentemente, em
Turim e Roma, fazendo a eles os melhores desejos por esses encontros.
Na catequese da
Audiência Geral, Francisco falou da alegria de participar do Encontro
Mundial das Famílias e da "dor e amargura" ao enfrentar o escândalo dos
abusos na Igreja.
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano
A Praça São Pedro voltou a acolher os peregrinos para a Audiência Geral, passados os dias mais tórridos do verão.
Como faz habitualmente depois de uma viagem apostólica, o Papa
Francisco dedicou a sua catequese aos principais momentos da sua visita à
Irlanda, realizada nos dias 25 e 26 de agosto.
O sonho de Deus
O motivo que o levou a Dublin foi o Encontro Mundial das Famílias: “A
minha presença era, sobretudo, confirmar as famílias cristãs na sua
vocação e missão”, disse Francisco.
O sonho de Deus para toda a família humana é a unidade, a harmonia e
paz, recordou o Papa, e Ele chama as famílias a participar neste sonho,
fazendo do mundo uma casa onde ninguém se sinta “sozinho, indesejado ou
excluído”.
Pontos de luz
O Pontífice definiu como “pontos de luz” os testemunhos do amor
conjugal oferecidos por casais de todas as idades. Foi assim na
Catedral, no centro dos frades capuchinhos que acolhe casais em situação
de vulnerabilidade, na vigília no estádio Dublin, em que falaram
famílias que sofreram com as guerras, os vícios, inclusive tecnológicos,
e foram renovadas pelo perdão. Foi ressaltado o valor da comunicação
entre as gerações e o papel específico que cabe aos avós para
consolidar os laços familiares e transmitir a fé.
“Hoje, é difícil dizer, parece que os avós incomodam. Nesta cultura
do descarte, eles são deixados de lado. Mas eles são a sabedoria, a
memória das famílias. Por favor, não descartem os avós, que sejam sempre
próximos aos netos.”
Irlanda do Norte
Na programação da visita, estava prevista também uma etapa no
Santuário mariano de Knock. “Ali, na capela construída no local da
aparição de Nossa Senhora, confiei à sua proteção materna todas as
famílias, em especial as irlandesas. Embora a minha viagem não incluísse
uma visita à Irlanda do Norte, dirigi uma saudação cordial ao seu povo e
encorajei o processo de reconciliação, pacificação, amizade e
cooperação ecuménica.”
Dor e amargura
Mas além da alegria, a visita à Irlanda enfrentou um elemento de “dor
e amargura” pelo sofrimento causado no país por várias formas de abusos
na Igreja.
“ O encontro com alguns sobreviventes deixou um sinal profundo; e
várias vezes pedi perdão ao Senhor por esses pecados, pelo escândalo e o
sentimento de traição provocado. ”
O Papa louvou o percurso de purificação e de reconciliação
empreendido pelos bispos irlandeses com aqueles que sofreram abusos, e
as normas severas adotadas com a ajuda das autoridades nacionais.
Veja também
Audiência Geral de 29 de asgosto
Renovação
No encontro com os Bispos, o Papa pediu-lhes que, com a honestidade
e a coragem, inaugurem uma estação de renovação da Igreja na Irlanda.
“Na Irlanda há fé, são pessoas de fé, com grandes raízes. Mas há
poucas vocações ao sacerdócio”, disse Francisco, rezando uma Ave-Maria
com os fiéis na Praça para pedir a Nossa Senhora que envie “sacerdotes
santos” à Irlanda.
Ideal da família
Francisco então concluiu definindo o Encontro Mundial das Famílias como uma experiência profética.
“Nós esquecemos as muitas famílias que vão avante com fidelidade,
pedindo perdão recíproco quando há problemas. Hoje é moda ver nas
revistas, nos jornais, os casais que se divorciaram, se separaram. Por
favor, isto é ruim! Eu respeito cada um, devemos respeitar todas as
pessoas, mas o ideal não é o divórcio, a separação, a destruição da
família, mas a família unida. Esse é o ideal!”
O Papa exortou então os fiéis a prepararem-se para o próximo Encontro Mundial das Famílias, que se realizará em Roma em 2021.
Rezar pela Criação
No final da Audiência, o Pontífice saudou os estudantes do Colégio
Pio Brasileiro de Roma e recordou que no próximo sábado, 1° de setembro,
celebra-se o quarto Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação,
realizado em união com os ortodoxos e a adesão de outras comunidades
cristãs.
“Na mensagem deste ano, desejo chamar a atenção para a questão da
água, bem primário a ser tutelado e colocado à disposição de todos”,
disse Francisco, convidando todos os fiéis a unirem-se em oração pela
nossa casa comum.
Diz ele:
Já fizeste as tuas orações? Já rezaste o teu rosário?
Digo eu:
Estás muito preocupado com as minhas orações!
Diz ele:
É só para tu veres como essas obrigações são aborrecidas, e ver se percebes que
não precisas delas assim todos os dias.
Digo eu:
Dou-te razão pelo menos em parte, ou seja, as obrigações são aborrecidas.
Diz ele:
Vês, eu não te dizia?
Digo eu:
O problema é que estás enganado. É que as orações, o rosário, não são
obrigações, não são imposições, são amor em diálogo com Deus.
Diz ele:
Sê verdadeiro e não me digas que rezas sempre cheio de amor e que algumas vezes
não tens que te obrigar a rezar?
Digo eu:
Um mentiroso a dizer a outrem para ser verdadeiro, tem graça. Mas sim, é
verdade que algumas vezes tenho que me obrigar a rezar. Mas faço-o com alegria
porque a oração é sempre alimento divino e sem ele não posso viver.
Diz ele:
Olha que Ele, se calhar, não gosta dessas orações “obrigadas”!
Digo eu:
Aí é que te enganas! Dá-lhes o valor imenso de quem não se deixou levar por ti
e não desistiu da oração.
Diz ele:
És um chato! Não se pode falar contigo que interpretas tudo à tua maneira.
Digo eu:
E querias que interpretasse como? À tua maneira? Em tudo tento interpretar não
à minha maneira mas sim à maneira d’Ele e é isso que te incomoda.
Diz ele:
A mim não me incomoda nada! Tu é que tens sempre essas obrigações, porque eu
não tenho nenhuma.
Digo eu:
Já te disse e repito que não são obrigações. E já agora só para te incomodar,
(não és só tu que incomodas), agradeço-te estas conversas porque me fazem estar
mais atento à vontade d’Ele.
Diz ele:
Chega! Vou-me embora!
Digo eu:
Vai, mas infelizmente sei que hás-de voltar! Mas as minhas orações vão-me
preparando para não te dar ouvidos e viver apenas para Ele.
Monte
Real, 28 de Agosto de 2018
Joaquim
Mexia Alves
Série constante na faixa lateral deste blog, em "Pesquisa rápida" - "DIÁLOGO" COM O
DIABO
Nascido na
Argélia, homem culto e de pensamento aguçado, o Bispo de Hipona foi
capaz de se colocar em discussão, escrevendo páginas memoráveis do
Cristianismo.
Cidade do Vaticano
“Se o Senhor te deu riquezas, é para fazer em Seu nome muitas boas
obras para os outros.” Esta é a mensagem do Papa Francisco no Twitter,
em homenagem a Santo Agostinho, cuja memória litúrgica se celebra neste
dia 28 de agosto.
Nascido na Argélia, homem culto e de pensamento aguçado, o Bispo de
Hipona foi capaz de se colocar em discussão, escrevendo páginas
memoráveis do Cristianismo.
De coração a coração
Movido pelo coração e pelo amor, buscava de maneira irrequieta a
Verdade. Passados séculos da sua morte, em 430 D.C., quem lê uma de suas
célebres obras, as Confissões, é capaz de encontrar as próprias
interrogações, o estado de ânimo diante dos eventos da vida, os
conflitos aparentemente insolúveis entre fé e razão.
“Quando alguém lê as Confissões, explica o agostiniano descalço padre
Gabriele Ferlisi, sente que Agostinho lhe empresta as palavras e pensa:
‘Mas eu também sinto isso.’ E isto porque Agostinho falava de coração a
coração.”
Santo Agostinho, modelo para os jovens
Tendo vivido o drama da busca de sentido e de verdade, o filho de Santa Mónica é particularmente próximo dos jovens de hoje.
“Agostinho encoraja os jovens à busca”, afirma ainda o padre Gabriele – e convida-os a jamais colocar um ponto final nos seus resultados, a serem
honestos diante da Verdade e a aceitá-la uma vez reconhecida”.
Buscar com o desejo de encontrar e encontrar com o desejo de
continuar a buscar (De Trinitate 9,1,1): é uma das máximas mais
conhecidas de Agostinho, que exorta a jamais desistir da busca de Deus.
Mas qual foi o motor da conversão de Agostinho? Padre Gabriele
Ferlisi explica: “O grande ideal que tocou o coração de Agostinho e que o
próprio santo propõe aos outros é o encontro com Cristo, Aquele que
satisfaz todos os desejos do coração humano”.
A carta dos Cardeais de 1294, com a qual o Padre angelerio
(di Marrone) era convidado a aceitar a nomeação do Papa
Todos os anos, nos
dias 28 e 29 de agosto, se renova na cidade de Áquila o rito de
indulgência concedido por Celestino V em 1294. O Rito da indulgência
plenária é obtido ao atravessar a Porta Santa da Basílica de Santa Maria
de Collemaggio
Cidade do Vaticano
O Perdão Celestino foi doado à Igreja pelo Papa Celestino V no final
do seu breve Pontificado, há 724 anos representa um rito coletivo ao
qual participam milhares de pessoas e dezenas de comunidades da região
de Abruzzo e que este ano assume um valor ainda mais intenso: graças à
restauração concluída em dezembro de 2017, será possível, como de
tradição, atravessar a Porta Santa da Basílica de Santa Maria de
Collemaggio, destruída no terremoto de 2009.
Papas recordam Celestino V
Além de fotografias, testemunhos visíveis de um patrimônio espiritual
e cultural, selecionamos algumas considerações dos três últimos
Pontífices sobre o Papa Celestino V.
Ao falar sobre o seu Pontificado, Paulo VI já dizia em 1966 por ocasião de uma homenagem especial na cidade de Fumone:
“São Celestino V, depois de poucos meses, compreende que está sendo
enganado pelos que o rodeiam, aproveitam-se da Sua inexperiência para
obter benefícios próprios (…), este Papa, como dever, aceitara o
Pontificado supremo, assim como por dever, renuncia, não por vilania,
como descreve Dante – se suas palavras referem-se verdadeiramente a
Celestino – mas por heroísmo de virtude, por sentimento de dever”.
Papa Francisco durante a proclamação do Ano Jubilar Celestino em 5 de julho de 2014 recordou assim o Pontífice:
“ Há uma ideia forte que me impressionou, pensando na herança de
são Celestino V. Como são Francisco de Assis, ele teve um sentido
fortíssimo da misericórdia de Deus, e do fato que a misericórdia de Deus
renova o mundo (…) estes santos sentiram a necessidade de oferecer ao
povo algo ainda maior, a maior riqueza: a misericórdia do Pai, o perdão ”
Papa Bento XVI, durante sua viagem pastoral a Sulmona, ao encontrar os jovens em 4 de julho de 2010 disse:
“ São Celestino V: ele soube agir segundo a consciência em
obediência a Deus, portanto sem receio e com grande coragem, também nos
momentos difíceis, como aqueles ligados ao seu breve Pontificado, não
temendo perder a própria dignidade, mas consciente de que ela consiste
em estar na verdade. E o garante da verdade é Deus ”
São João Paulo II visitando a região de Abruzos, em 30 de junho de 1985, falou de Celestino V aos cidadãos de Atri:
“Pietro de Morrone, o eremita da montanha, que dos espetáculos da
natureza hauria inspiração para se elevar aos cumes da contemplação e
que tornando-se Celestino V, permaneceu sempre ligado – com a mente e o
coração – ao fascínio da solidão contemplativa”
Candidatura Unesco
O Perdão Celestino, junto com a indulgência da Porciúncula, é
considerado uma antecipação do Jubileu de 1300 anunciado pelo Papa
Bonifácio VIII. A UNESCO confirmou, para 2019, a candidatura da
Indulgência Celestina como "patrimônio imaterial da humanidade".
Francisco encontra jornalistas no voo papal de retorno a Roma: responde a sete perguntas
Cidade do Vaticano
O espaço para dizer o que neste momento carrega no coração - oferecer
um pensamento sobre a viagem que acaba de terminar - Francisco tira
para si mesmo no final, depois de mais de 40 minutos dedicados a temas
ditados pela crónica do dia e pelo interesse dos seus interlocutores. A
sua não é uma verdadeira resposta, porque tecnicamente não havia dúvida,
mas é todavia a convicção de que o Papa traz consigo depois de dois dias
intensos. "Eu encontrei muita fé na Irlanda", disse aos jornalistas no
voo de Dublin a Roma. Os irlandeses sofreram muito por causa dos
escândalos, mas sabem distinguir, disse, "a verdade das meias-verdades",
como lhe disse algumas horas antes um bispo. E se no "processo de cura
em andamento" há coisas que parecem afastar da fé, essa fé permanece
sólida.
"Não direi uma palavra"
As sete perguntas que precedem a resposta não solicitada de Francisco
são como planetas que giram em torno do sol trágico dos abusos. O que
chama a atenção dos ouvidos e faz escrever mais freneticamente no
teclado do computador é a resposta que o Papa dá ao caso do dia. O
segundo dia em Dublin começou com o documento do ex-núncio apostólico
nos Estados Unidos, o arcebispo Carlo Maria Viganò, que chama em causa o
Papa no episódio do Card. McCarrick, acusado de assédio sexual contra
jovens seminaristas. Francisco é breve e convida os jornalistas a
tirarem as suas próprias conclusões. "Eu sinceramente digo isto: leiam com
cuidado e façam o seu próprio julgamento. Não vou dizer uma palavra
sobre isso. Creio que o documento fala por si ".
Um júri para cada caso
Em vez disso, fala e explica outros aspetos delicados e complexos,
como a modalidade de levar ao tribunal um bispo acusado de abuso.
Rejeita com delicadeza o desejo de Marie Collins - ex-membro da
Pontifícia Comissão instituída para combater o fenómeno e vítima ela
mesma de violências por um padre irlandês - de criar um tribunal
especial, conforme indicado no Motu proprio "Como uma mãe amorosa". Na
realidade, temos visto, disse Francisco, que mais do que um júri, é mais
eficaz a criação de um colégio “ad hoc” para cada caso. "Funciona
melhor assim", assegura o Papa, que recorda como o último a ser
submetido ao tribunal foi o arcebispo de Guam e que outro procedimento
está em andamento.
Falar imediatamente, nunca julgamentos sumários
Uma pergunta sobre o que "o povo de Deus" pode e deve fazer diante de
atos tão perversos praticados pelos sacerdotes. Também aqui o Papa
suprime a reticência e indica nas famílias feridas o primeiro obstáculo,
muitas vezes, à transparência. "Quando se vê algo – afirma com força – é
preciso falar imediatamente". Muitas vezes são os pais a encobrirem o
abuso de um padre porque não acreditam no filho ou na filha". Por outro
lado, no entanto, critica as ações dos meios de comunicação que iniciam
julgamentos de rua antes que uma responsabilidade seja apurada.
Francisco cita o caso do grupo de sacerdotes de Granada, cerca de dez,
acusado de pedofilia por um jovem empregado num colégio, que escrevera
ao Papa, ter sido vítima de violências. Bem, o cadafalso da
humilhação sofrido por alguns desses padres revelou-se a injustiça mais
cruel porque depois a justiça comum considerou-os inocentes. Assim, é o
convite do Papa aos jornalistas, "o vosso trabalho é delicado", vocês devem
dizer as coisas "mas sempre com a presunção de inocência e não com a
presunção de culpa".
Quem ignora não é um verdadeiro pai
Palavras de grande estima Francisco reserva à ministra irlandesa que
lhe falou sobre o dramático caso do orfanato de religiosas irlandesas em
Tuam. Objeto de uma investigação pelas autoridades que configura o
orfanato como local de abusos e horrores repetidos nas décadas passadas,
o Papa disse que aguarda o resultado final da atividade de investigação
também para verificar as responsabilidades da Igreja. De qualquer
forma, o apreço do Papa é todo pelo "equilíbrio" e pela "dignidade" com
que a representante do governo irlandês lhe informou sobre o assunto.
Ainda sobre o assunto da Irlanda, uma pergunta a Francisco sobre o que
ele diria a um pai cujos filhos se confessem ser homossexuais. “Eu diria-lhe: rezar, não condenar, dialogar, entender, abrir espaço ao filho à
filha", porque "ignorar é uma falta de" paternidade e maternidade.
O caso do navio "Diciotti"
Uma das primeiras questões a serem abordadas na conferência de imprensa
foi a da imigração. A pergunta teve início com a feliz conclusão do
episódio do navio italiano " Diciotti", que desembarcou em Messina mais
de cem migrantes após cerca de dez dias sem a possibilidade de atracar.
"Há a sua mão neste caso?", pergunta ao Papa o jornalista, e Francisco
responde que não, ele diretamente não, mas é obra do "bom padre Aldo
Buonaiuto, da Fundação João XXIII, mas também da CEI, (Conferência
Episcopal Italiana) com o cardeal Bassetti. Recorda o critério de
prudência que deve guiar um país no acolhimento dos imigrantes, mas
acima de tudo Francisco chama a atenção para o valor da integração. Pode
mudar uma vida, disse, como a da estudante que ele trouxe da ilha de
Lesbo e recentemente encontrada na Universidade. Isso para arrancar dos
traficantes o comércio de carne humana e dar dignidade àqueles que
buscam uma nova vida.
O Papa Francisco
encerrou o Encontro Mundial das Famílias de Dublin e fez um novo pedido
de perdão pelos abusos cometidos na Igreja irlandesa.
Cidade do Vaticano
A missa no Phoenix Park de Dublin encerrou o Encontro Mundial das Famílias, motivo da visita do Papa Francisco à Irlanda.
No ato penitencial, o Papa Francisco voltou a pedir perdão por todos
os tipos de abusos cometidos por “membros qualificados” da Igreja em
instituições administradas por religiosos e religiosas e por membros da
hierarquia que permaneceram em silêncio. O pedido é fruto do encontro
que o Pontífice realizou no sábado com oito vítimas irlandesas.
O Papa citou os menores e adultos vulneráveis vítimas de moléstias,
crianças e adolescentes explorados para fins laborais e mulheres que
tiveram os seus filhos subtraídos por autoridades eclesiásticas porque
solteiras. Maternidade negada por se tratar de “pecado mortal”. “Isto
não é pecado mortal, é o quarto mandamento [honrar pai e mãe, ndr]!”,
disse Francisco.
”Que o Senhor mantenha e faça crescer este estado de vergonha e
arrependimento e nos dê a força para nos comprometer a trabalhar para
que nunca mais aconteçam e se faça justiça.”
Espírito e vida
Já a homilia foi inspirada no Evangelho deste domingo: «Tu tens palavras de vida eterna!» (Jo 6, 68).
Os discípulos estavam perplexos, confusos e até irados, hesitando se
aceitar ou não as suas «palavras duras», tão contrárias à sabedoria
deste mundo. Em resposta, o Senhor diz-lhes: “As palavras que vos disse
são espírito e são vida”.
Novo Pentecostes
“Cada dia novo na vida das nossas famílias e cada nova geração trazem
consigo a promessa de um novo Pentecostes, um Pentecostes doméstico”,
disse o Papa, fazendo votos de que as famílias se tornem fonte de
encorajamento para os outros, para partilhar “as palavras de vida
eterna” de Jesus.
O Filho de Deus, afirmou ainda Francisco, encarnou neste mundo por
meio de uma família, e em cada geração, através do testemunho das
famílias cristãs, tem o poder de romper todas as barreiras para
reconciliar o mundo com Deus e fazer de nós aquilo que desde sempre
estamos destinados a ser: uma única família humana.
Perdão difícil
Todavia, reconheceu o Pontífice, a tarefa de dar testemunho desta Boa
Nova não é fácil e haverão sempre pessoas que se oporão a ela.
Mas podemos seguir o exemplo de São Columbano e dos seus companheiros
irlandeses e jamais deixar-nos “influenciar ou desanimar pelo olhar
gelado da indiferença ou pelos ventos borrascosos da hostilidade”.
“Como permanece difícil perdoar àqueles que nos magoam! Que grande
desafio continua a ser o acolhimento do migrante e do estrangeiro! Como é
doloroso suportar a desilusão, a rejeição ou a traição! Como é incómodo
proteger os direitos dos mais frágeis, dos nascituros ou dos mais
idosos, que parecem estorvar o nosso sentido de liberdade!”
Vocação missionária
Missão árdua, mas possível, pois podemos contar com a força do Espírito e a presença do Senhor sempre ao nosso lado.
Ressaltando a natureza missionária do cristão, Francisco recorda que a
Igreja é chamada a "sair" para levar as palavras de vida eterna às
periferias do mundo.
“Que a nossa celebração de hoje confirme cada um de vós – pais e
avós, crianças e jovens, homens e mulheres, frades e freiras,
contemplativos e missionários, diáconos e sacerdotes – na partilha da
alegria do Evangelho! Possam partilhar o Evangelho da família como
alegria para o mundo.”
Orações
No final da Celebração Eucarística, o Pontífice fez um agradecimento a todos os que contribuíram para a realização da viagem.
“Um ‘obrigado’ muito sentido quero ainda expressar a todas as pessoas
que rezaram por este Encontro: idosos, crianças, religiosos e
religiosas, doentes, reclusos... Estou certo de que o sucesso da
iniciativa se deve às orações, simples e perseverantes, de todos eles.
Obrigado a todos. Que o Senhor vos recompense!”
Roma 2021
O Prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida,
Card. Kevin Farrell, anunciou no final da missa que a cidade de Roma
será sede do próximo Encontro Mundial da Família em 2021.
Papa encontrou o episcopado irlandês no Convento das Irmãs Dominicanas, em Dublin
"Como São João da
Cruz nos ensina, é na noite escura que a luz da fé brilha mais pura nos
nossos corações. E essa luz mostrará o caminho para a renovação da vida
cristã na Irlanda nos anos futuros", recordou o Papa aos prelados.
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
O último compromisso do Papa Francisco em terras irlandesas foi o
encontro com o episcopado no Convento das Irmãs Dominicanas. O Pontífice
presenteou as religiosas com um quadro com uma cerâmica retratando a
“Madonna com il Bambino”.
Estavam presentes os bispos das quatro Arquidioceses Metropolitanas e
22 Dioceses do Eire e da Irlanda do Norte, e os seus quatro auxiliares. O
atual presidente é Dom Eamon Martin, arcebispo de Armagh e Primaz de
toda a Irlanda.
“Todos nós, como bispos, estamos cientes da nossa responsabilidade de
ser pais para o santo povo fiel de Deus” disse Francisco, retomando o
diálogo iniciado na visita ad limina Apostolorum, “no espírito do Encontro Mundial das Famílias”:
“ Como bons pais, pretendemos encorajar e inspirar, reconciliar e
unir, e sobretudo preservar todo o bem transmitido de geração em geração
nesta grande família que é a Igreja na Irlanda ”
Neste sentido, como mesmo diz, a sua intenção é encorajar os esforços
dos bispos “em momentos tão desafiadores", de perseverar no ministério
"de arautos do Evangelho e pastores do rebanho de Cristo”.
O Papa agradece a solicitude dos bispos pelos pobres, excluídos e
necessitados, assim como a ajuda aos sacerdotes, “cuja tristeza e
desânimo por causa dos recentes escândalos são muitas vezes ignorados”.
“A necessidade que tem a Igreja de reconhecer e remediar, com
honestidade evangélica e coragem, os erros do passado relativos à
proteção das crianças e adultos vulneráveis”, foi um tema presente nesta
viagem, sublinhou o Santo Padre, reconhecendo que nos últimos anos,
como “corpo episcopal”, foram seguidos “percursos de purificação e
reconciliação com as vítimas dos abusos”, mas também fixando, “com a
ajuda do National Board para a tutela das crianças na Igreja na Irlanda, um conjunto rigoroso de normas tendentes a garantir a segurança dos jovens”:
“Nestes anos, todos nós tivemos de abrir os olhos para a gravidade
e a extensão do abuso sexual em diferentes contextos sociais. Na
Irlanda, como noutros lugares, a honestidade e a integridade com que a
Igreja decide enfrentar este capítulo doloroso da sua história pode
oferecer um exemplo e um apelo a toda a sociedade”.
O Papa recorda que a rápida evolução da sociedade representa um
significativo desafio para “a transmissão da fé na sua integridade e
beleza”. Neste sentido, “o Encontro Mundial das Famílias deu-nos grande
esperança e encorajamento sobre o facto de que as famílias se vão
tornando cada vez mais conscientes do seu papel insubstituível na
transmissão da fé”.
“ Ao mesmo tempo, as escolas católicas e os programas de instrução
religiosa continuam a desempenhar uma função indispensável para se
criar uma cultura de fé e um sentido de discipulado missionário ”
Este facto “representa motivo de cuidado pastoral para todos vós”,
pois “a formação religiosa genuína requer professores fiéis e alegres,
capazes de formar não só as mentes, mas também os corações para o amor
de Cristo e a prática da oração”.
Para tal objetivo, “a preparação de tais professores e a divulgação
de programas da formação permanente são essenciais para o futuro da
comunidade cristã, na qual um laicado comprometido se sinta cada vez
mais chamado a levar a sabedoria e os valores da sua fé aos diversos
setores do seu empenho na vida social, política e cultural do país”.
Francisco recorda que por um lado “os transtornos dos últimos anos
puseram à prova a fé tradicionalmente forte do povo irlandês”, mas por
outro “proporcionaram também a oportunidade para uma renovação interior
da Igreja neste país e indicaram novas formas de imaginar a sua vida e
missão”.
Que vocês possam com humildade e confiança na graça de Deus – foi a sua
exortação – “empreender novos caminhos para estes tempos novos”, o que
poderá ser feito também inspirando-se no “forte sentido missionário
enraizado na alma do vosso povo”. Isso permitirá descobrir caminhos
criativos “para testemunhar a verdade do Evangelho e fazer crescer a
comunidade dos crentes no amor de Cristo e no zelo pelo crescimento do
seu Reino”.
“Sempre que vós e o vosso povo, vos sentirdes um pequeno rebanho
exposto à desafios e dificuldades, não desanimeis”, disse Francisco,
recordando o ensinamento de São João da Cruz de que “é na noite escura
que a luz da fé brilha mais pura nos nossos corações. E essa luz
mostrará o caminho para a renovação da vida cristã na Irlanda nos anos
futuros”.
O Papa por fim, pede que o episcopado continue a “fomentar unidade e
fraternidade entre vós e, juntamente com os líderes doutras comunidades
cristãs, a trabalhar e rezar fervorosamente pela reconciliação e a paz
entre todos os membros da família irlandesa”.
Na pró-Catedral de Dublin, o Papa ouviu testemunhos e perguntas de casais a respeito do amor e da educação dos filhos.
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano
A tarde do Papa Francisco na Irlanda começou com a visita à
pró-Catedral de Santa Maria, a mais importante igreja de Dublin,
consagrada em 1825.
Ali, o Pontífice foi acolhido pelo arcebispo da cidade, Dom Diarmuid Martin, e por casais de noivos e de esposos.
Perguntas ousadas
De facto, o discurso bem humarado proferido por Francisco foi a
resposta a perguntas que ele definiu como “ousadas” de dois jovens casais,
mas antes o Papa ouviu o testemunho de Vincent e Teresa, que falaram da
sua experiência de 50 anos de matrimónio.
“Como é importante ouvir os idosos, os avós! Temos muito a aprender
da sua experiência de vida matrimonial, sustentada dia a dia pela graça
do sacramento.”
Vocação
Denis e Sinead estão prestes a casar e questionaram o Pontífice
quanto à durabilidade do amor, levando em consideração que o matrimónio
não é somente uma instituição, mas uma vocação.
“Com certeza, temos de reconhecer que hoje não estamos habituados a
algo que dure realmente toda a vida”, reconheceu o Papa, acrescentando
que é difícil acompanhar o mundo em que tudo muda à nossa volta. As
pessoas entram e saem das nossas vidas, quebrando promessas. "Mas o amor é
definitivo. Como se diz, o outro é a metade da laranja. Sabemos que o
casamento é um risco, mas um risco que vale a pena."
Mas sabemos que o amor é o sonho de Deus para nós. “Por favor, nunca
se esqueçam disto! Deus tem um sonho para nós, e pede-nos para o
assumirmos. Não tenham medo deste sonho! Guardem-no e, juntos, sonhem de
novo todos os dias. Assim, serão capazes de os apoiar mutuamente com
esperança, com força e com o perdão, nos momentos em que o percurso se tornar árduo tornando-se difícil vislumbrar o caminho.”
Transmissão da fé
Já Stephen e Jordan são esposos recém-casados e fizeram a pergunta de como poderão os pais transmitir a fé aos filhos.
Francisco recordou que o local mais importante para se transmitir a
fé é o lar, “igreja doméstica”, onde os filhos aprendem o significado da
fidelidade, da honestidade e do sacrifício.
“Veem como a mãe e o pai se comportam entre si, como cuidam um do outro e de todos, como amam a Deus e à Igreja.”
O Papa recordou uma situação de quando era criança, quando viu a mãe
acolher o pai que voltava do trabalho com um beijo. Então aconselhou a
rezar em família, falar de coisas boas e santas, viver em profunda
solidariedade com aqueles que sofrem e estão à margem da sociedade. Os
filhos aprendem dos pais a viver como cristãos, pois são seus primeiros
mestres na fé.
Revolução do amor
Todavia, as virtudes e as verdades que o Senhor ensina não são
valorizadas pela sociedade atual, que desconsidera os mais vulneráveis.
“O nosso mundo precisa de uma revolução de amor! Que esta revolução
comece por vós e pelas vossas famílias!”
Esta revolução do amor, disse ainda Francisco, passa pela revolução
da ternura. "Parece até que a palavra ternura foi retirada do
dicionário."
“Possam as famílias da Igreja inteira agradecer a Deus pelo dom da fé
e pela graça do matrimónio cristão. Pela nossa vez, comprometamo-nos com
o Senhor a servir a vinda do seu reino de santidade, justiça e paz com a
fidelidade às promessas que fizemos e com a perseverança no amor!”
Visita do Papa Francisco à St Mary’s Pro-Cathedral de Dublin
O Castelo de Dublin acolheu as autoridades para o primeiro pronunciamento de Francisco em solo irlandês.
Bianca Fraccalvieri - Cidade do Vaticano
O conceito do conjunto das nações como uma única família humana foi o
cerne do primeiro discurso pronunciado pelo Papa Francisco na Irlanda.
Diante dos membros do governo irlandês e do corpo diplomático, no
Castelo de Dublin, o Pontífice recordou o motivo de sua visita, que é
participar no Encontro Mundial das Famílias.
“Se falamos do mundo inteiro como de uma só família, é porque
justamente reconhecemos os laços da nossa humanidade comum e intuímos a
chamada à unidade e à solidariedade, especialmente em relação aos irmãos
e irmãs mais vulneráveis.”
Ódio e conflito Entre os males persistentes que desafiam a humanidade, Francisco
citou o ódio racial e étnico, os conflitos e violências, o desprezo pela
dignidade humana e o crescente abismo entre ricos e pobres.
“Quanta necessidade temos de recuperar, em cada área da vida política
e social, o sentido de ser uma verdadeira família de povos! E de nunca
perder a esperança e a coragem de perseverar no imperativo moral de
sermos obreiros da paz, reconciliadores e guardiões uns dos outros.”
Irlanda do Norte
O Papa citou em especial os 20 anos da assinatura do Acordo da
Sexta-Feira Santa, que pôs fim a décadas de conflitos com a Irlanda do
Norte, cujos representantes estavam presentes no Castelo de Dublin. “A
paz é dom de Deus”, recordou Francisco, mas requer também uma conversão
constante da nossa parte.
Migração
O Pontífice apontou a crise migratória como a questão mais
desafiadora dos tempos atuais, “cuja solução exige sabedoria,
perspectivas amplas e uma preocupação humanitária que ultrapasse em
muito decisões políticas de curto prazo”.
Abusos
Falando dos mais vulneráveis, Francisco citou ainda o “grave
escândalo causado na Irlanda pelos abusos sobre menores por parte de
membros da Igreja”.
“O falimento das autoridades eclesiásticas ao enfrentarem
adequadamente estes crimes repugnantes suscitou, justamente, indignação e
continua a ser a causa de sofrimento e vergonha para a comunidade
católica. Eu próprio partilho estes sentimentos.”
O Papa afirmou que é preciso remediar os erros passados e adotar
normas rigorosas para que esses casos não voltem a ocorrer. E manifestou
a esperança de que os escândalos aumente a proteção de menores e
adultos vulneráveis por parte de toda a sociedade.
Raízes cristãs
Francisco concluiu o seu discurso recordando as raízes cristãs da
Irlanda, com a pregação de Paládio e Patrício, e citou santos ilustres
da Irlanda, como Colomba, Columbano, Brígida, Gallo, Killian e Brendan.
“Rezo para que a Irlanda, enquanto escuta a polifonia da discussão
político-social contemporânea, não esqueça as vibrantes melodias da
mensagem cristã, que a sustentaram no passado e podem continuar a
fazê-lo no futuro.”