(RV) Após uma retemperadora pausa para café os trabalhos do Sínodo sobre a família, nesta manhã de dia 6, foram retomados com a comunicação do relator-geral do Sínodo, Cardeal Peter Erdo. O purpurado, primaz da Hungria proferiu um longo discurso onde procurou descrever o panorama de início do sínodo. Dividiu a sua intervenção em três partes fundamentais:
1- O Evangelho da família no contexto da evangelização;
2- As situações pastorais difíceis
3- A família e o Evangelho da vida
Começando por sublinhar que a mensagem de Cristo não é cómoda, mas exigente porque “requer a conversão dos nossos corações”, o cardeal Erdo deixou claro que é “necessária a incessante compreensão e atualização do Evangelho da família que o Espírito sugere à Igreja. Mesmo as problemáticas familiares mais graves devem ser consideradas como um sinal dos tempos, a discernir à luz do Evangelho: a ser lido com os olhos e o coração de Cristo e o seu olhar em casa de Simão, o fariseu.”
Das palavras dedicadas pelo cardeal Peter Erdo ao primeiro tema da sua comunicação ao qual chamou de Evangelho da família no contexto da evangelização, é importante sublinhar o método do trabalho sinodal:
“Devemos, pois, recordar que a assembleia extraordinária de 2014 é a primeira etapa de um caminho eclesial que desaguará na assembleia ordinária de 2015. Daí deriva que a linguagem e as indicações devem ser tais que promovam o aprofundamento teológico mais nobre, para escutar com a máxima atenção a mensagem do Senhor, encorajando, ao mesmo tempo, a participação e a escuta da comunidade dos fieis. Por isso, é importante a oração por forma que o nosso trabalho dê os melhores frutos, aqueles que Deus quer.”
Esclarecendo, desta forma, a metodologia do trabalho proposto para as duas semanas de trabalho sinodal, o cardeal Erdo, de imediato se referiu à necessidade de clareza nos percursos formativos dos noivos nas comunidades. Declarando que existe incerteza nos jovens que aspiram ao sacramento do matrimónio afirmou que estes “requerem motivação para vencerem os seus legítimos medos” observando que o seu desejo é serem acolhidos por uma comunidade”.
A família é, assim, protagonista da evangelização e em particular o cardeal Erdo sublinhou a importância e a necessidade de que “a paróquia se faça próxima como uma família de famílias”. Tudo isto porque as famílias vivem dificuldades que se fazem sentir internamente e também pressionadas pelo ambiente externo:
“... as preocupações de tipo laboral e económico; visões diferentes da educação dos filhos (...) tempos reduzidos de diálogo e repouso. A estes juntam-se fatores desagregadores como sejam a separação ou o divórcio, com as consequências de realidades familiares alargadas ou vice-versa, monoparentais, em que as referências parentais confundem-se ou reduzem-se até a anularem-se.”
Tantas situações pastorais difíceis que, segundo o cardeal Erdo, são “uma verdadeira urgência pastoral” para a qual deve-se permitir a estas pessoas “tratar as feridas, de curar e de retomar o caminho juntamente com a comunidade eclesial”. Baseando a sua intervenção nos conceitos de Verdade e de Misericórdia, o cardeal-relator deste sínodo acentuou que existe a necessidade de uma atenção especial e um acompanhamento pastoral concreto do matrimónio e da família, sobretudo em situações de crise.
Entretanto, o cardeal Erdo não deixou de se referir à prática das Igrejas Ortodoxas neste particular, declarando que o Instrumento de Trabalho assinala que certas respostas sugerem que se examinem mais aprofundadamente estas práticas que preveem a possibilidade de segundas ou terceiras núpcias ligadas a um caráter penitencial.
A família vive num contexto relacional não sendo “um fragmento isolado”, sendo “necessário não a deixar sozinha mas acompanhar e apoiar o seu caminho” – declarou ainda o cardeal Erdo que concluiu a sua intervenção afirmando o grande desafio deste sínodo sobre a família:
“O desafio a acolher da parte do Sínodo é, precisamente, de conseguir propor novamente ao mundo de hoje, em certos aspetos tão parecido com aquele dos primeiros tempos da Igreja, o fascínio da mensagem cristã no que diz respeito ao matrimónio e à família, sublinhando a alegria que dão, mas, ao mesmo tempo, de dar respostas verdadeiras e impregnadas de caridade aos tantos problemas que especialmente hoje tocam a existência da família.”
O cardeal Erdo finalizou a sua comunicação propondo o método da proximidade para que o Sínodo possa ser semente de esperança:
“ Em concreto é-nos pedido, antes de mais, de nos colocarmos ao lado dos nossos irmãos e das nossas irmãs com o espírito do Bom Samaritano: ser atentos às suas vidas, ser, em particular, próximos daqueles que foram feridos pela vida e esperam uma palavra de esperança, que nós sabemos, só Cristo nos pode dar.” (RS)
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