10 outubro, 2014

A Palavra e o Reino de Deus actuam no silêncio




Palavra e o Reino de Deus atuam no silêncio e no escondimento, nunca no alarido e na exibição.

 Estamos numa época em que se julga que um acontecimento só é importante, só tem sucesso, só dá efeito na proporção da sua divulgação, do alarido que se faz à sua volta, pelo muito que é mostrado ou exibido. A Palavra de Deus - o Reino de Deus, é um acontecimento que tem outra lógica. A sua importância, o seu sucesso é tanto maior quanto maior for o silêncio que se faz à sua volta, quanto maior for alimentado, vivido e aperfeiçoado no escondimento, sem a preocupação de que seja visto ou apreciado. A única preocupação no viver do Reino de Deus e a sua palavra é a de se deixar trabalhar pelo dinamismo e potencialidade interior que o anima, tal como a potencialidade que se esconde na semente que, quanto mais escondida estiver no seio da terra, mais espaço tem para se deixar guiar e transformar pela potencialidade que traz consigo. Aí morre e desfaz-se como semente para nascer e fazer-se planta, depois árvore que dá flores, frutos e espalha outras sementes.Tudo começa no silêncio, no escondimento…só muito mais tarde é que se vê, é que se mostra, é que é vista, não pelo gosto de se mostrar, mas para ser fiel ao dinamismo que, interiormente, a conduz. 

A Sagrada Escritura apresenta diversas parábolas que nos indicam este dinamismo transformador, que actua no silêncio ou no escondido. Tais parábolas são as do grão de areia de mostarda (Mt 13, 31-32), do fermento Mc 13, 33), do semeador (Mt 13, 1-9), da sementeira (Mt 4, 26-29), da videira e as varas (Jo 15, 1-8). Todas as outras parábolas que apresentam resse reino, mesmo que não faltem sementes retractam as atitudes de quem deixou germinar em seu coração os bons princípios do Reino de Deus e da sua Palavra. De facto os bons princípios, quando são assumidos e saboreados interiormente, transformam-se em bons sentimentos e, depressa passam a atitudes. Só estas últimas é que são vistas, mas terão de ser sempre alimentadas pelo dinamismo interior, pela Palavra de Deus e do seu espírito que não se vê.

As boas atitudes, sem suporte interior, sem suporte espiritual, passam depressa porque não têm a constância intima que as sustente, não têm as motivações profundas que as estimule. Por isso é que há lindas atitudes que apenas são golpes de teatro, que apenas têm o objectivo de dar nas vistas, do parecer bem, do ficar bem visto, do ser quisto.

Pelo contrário, as boas atitudes que são alimentadas pelo vigor da Palavra e do Espírito de Deus, não acabam, mesmo que as situações sejam adversas, mesmo que não sejam reconhecidas, mesmo que sejam contrariadas. É assim que estas boas atitudes se tornam um hábito, se tornam virtudes.

O silêncio é a atmosfera exigida para escutar a voz divina, como aconteceu com os evangelistas, profetas, os santos que foram atraídos por Deus para o deserto do silêncio, das provações…, para lhes poder falar ao coração (ef Os. 2, 16). O silêncio é condição para falar com Deus, para o escutar, para O adorar, mas também, é condição para se deixar transformar interiormente. O silêncio é o modo de Deus atuar. Como disse S. João da Cruz: O Eterno Pai só disse uma palavra, isto é, o seu Filho, e esta palavra o disse sempre em eterno silêncio (Máximas.21). Só se escuta Deus no meio do silêncio interior e exterior, sobretudo o interior. É neste ambiente que Ele nos pode modelar. Muitas vezes a nossa mente e o nosso coração estão cheios de barulho (ressentimentos, rancores, mágoas, ambição…) que impede que Deus actue em nós (…).

Façamos silêncio interior e externamente para que possamos escutar Deus e O deixemos actuar em nós e por meio de nós.

Pe. Agostinho Pinto sej
ECCE –Boletim Formativo e Informativo

PARA REFLECTIR:

Tenho procurado encontrar espaços de silêncio para poder escutar a Palavra de Deus e deixar-me conduzir e transformar por ela?

Tenho ocupado a minha mente e o meu coração com sentimentos, ressentimentos, ambições, mágoas que não me deixam livre para me deixar transformar pela Palavra de Deus?

Tenho estado atento, com responsabilidade, das necessidades dos que vivem à minha volta?

Sei apreciar a Palavra de Deus concretizada nos gestos dos meus irmãos?
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