Encontro sobre a "Proteção dos menores na Igreja" prosseguirá até domingo, 24 de fevereiro
(Vatican Media)
O tema principal do primeiro dia deste "Encontro sobre a proteção dos menores na Igreja", que prosseguirá até o próximo domingo (24/02), no Vaticano, é o da responsabilidade dos bispos na sua função pastoral, espiritual e jurídica. Convocados pelo Papa Francisco para este encontro, participam nele os presidentes das Conferências espiscopais do mundo inteiro
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
Os trabalhos do Encontro sobre a “Proteção dos menores na Igreja”, realizado na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, foram retomados, após as atividades da manhã, às 16h locais desta quinta-feira (21/02), primeiro dia do encontro, com a terceira exposição, a qual teve como tema “A Igreja num momento de crise. Responsabilidade do Bispo. Enfrentar os conflitos e as tensões e agir com decisão”, cuja intervenção foi feita pelo arcebispo de Bogotá (Colômbia), cardeal Rubén Salazar Gómez.
Vale ressaltar que o tema principal do primeiro dia deste encontro,
que prosseguirá até ao próximo domingo (24/02), é o da responsabilidade
dos bispos na sua função pastoral, espiritual e jurídica.
Na sua ampla e articulada exposição, o cardeal colombiano partiu de
uma introdução/contextualização, para depois tratar da responsabilidade
do bispo como pastor; como membro do colégio episcopal sob a suprema
autoridade da Igreja; em relação aos seus sacerdotes e pessoas
consagradas; para com o povo santo fiel de Deus, encerrando com uma
breve conclusão.
Clericalismo e convite à conversão
Focando a atenção no tema do dia, o cardeal Salazar foi direto ao
ponto buscando responder a pergunta sobre “qual é a responsabilidade do
bispo diante da crise que estamos a viver na Igreja”, afirmando que para
compreender essa responsabilidade e assumi-la, é indispensável buscar
classificar, o quanto possível, a natureza da crise.
“Uma breve análise daquilo que aconteceu permite-nos notar que não se
trata somente de desvios ou patologias sexuais naqueles que cometem
abusos – observou –, mas que há uma raiz mais profunda que é o
desvirtuamento do significado do ministério transformado em meio para
impor a força, para violar a consciência e os corpos dos mais frágeis.
Isto tem um nome: clericalismo.”
O purpurado disse ainda que analisando o modo em que em geral se
respondeu a essa crise, “descobrimos ter havido uma compreensão errónea
do modo de exercer o ministério, que levou a cometer erros graves de
autoridade que agigantaram a gravidade da crise. Isto tem um nome:
clericalismo”, reiterou.
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Tagle: falta de respostas da nossa parte dilacerou o nosso povo
Retomando palavras do Papa Francisco na carta ao povo de Deus, de
agosto do ano passado, destacou que “isto se manifesta claramente numa
maneira anómala de intender a autoridade na Igreja – muito comum em
numerosas comunidades em que se verificaram comportamentos de abuso
sexual, de poder e de consciência – que é o clericalismo... Dizer não ao
abuso, é dizer energicamente não a toda e qualquer forma de
clericalismo”.
O cardeal Salazar disse que se torna necessário desmascarar o
clericalismo de fundo e realizar uma mudança de mentalidade que,
expressa em termos mais precisos, chama-se conversão.
“A nossa responsabilidade expressa-se fundamentalmente numa
meticulosa coerência entre as nossas palavras e as nossas ações. É
necessária uma profunda revisão da mentalidade que está por trás das
palavras a fim de que as nossas palavras e as nossas ações sejam as que
correspondem à vontade de Deus neste momento da Igreja.”
Conscientes da missão de tornar presente, com a potência da ação
eclesial, a salvação trazida pelo Senhor, “devemos admitir que muitas
vezes a Igreja – nas pessoas de seus bispos – não soube e ainda, por
vezes, não sabe comportar-se como deve, para enfrentar com rapidez e
decisão a crise causada pelos abusos”, reconheceu o purpurado.
Reconhecer e enfrentar a crise dos abusos sem minimizá-la
Procurando negar a dimensão das denúncias apresentadas, não ouvindo as
vítimas, ignorando os danos causados naqueles que sofrem os abusos,
transferindo os acusados para outros lugares onde eles continuam a abusar
ou prurando chegar a um acordo monetário para comprar o silêncio:
agindo deste modo, ponderou o cardeal, “manifestamos claramente uma
mentalidade clerical que nos leva a colocar o mal compreendido bem da
instituição eclesial acima da dor das vítimas e das exigências da
justiça”.
“Devemos reconhecer esta crise profundamente, reconhecer que o
dano não é feito externamente, mas que os primeiros inimigos estão
dentro, entre os bispos, os sacerdotes e as pessoas consagradas que não estivemos à altura da nossa vocação. Devemos reconhecer que o inimigo está
dentro.”
“Reconhecer e enfrentar a crise – superando a nossa mentalidade
clerical – significa também não minimizá-la afirmando que os abusos verificam-se em larga escala noutras instituições”, disse o cardeal
Salazar acrescentando que “não há nenhuma justificação possível para não
denunciar, para não desmascarar, para não enfrentar com coragem e
firmeza qualquer abuso que se apresente dentro da nossa Igreja”. O
arcebispo de Bogotá foi taxativo ao afirmar que o maior escândalo no
caso dos abusos é esconder a verdade.
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O purpurado disse que foi feito muito para enfrentar a crise dos
abusos. Todavia, observou, “se não fosse a preciosa insistência das
vítimas e a pressão exercida pela mídia, talvez não teríamos decidido
enfrentar esta crise vergonhosa como foi feito.
“O dano causado é tão profundo, tão profunda a dor infligida, as
consequências dos abusos verificados na Igreja são tão grandes, que
jamais poderemos dizer ter feito todo o possível e a nossa
responsabilidade leva-nos a trabalhar todos os dias a fim de que os
abusos jamais voltem a apresentar-se na Igreja e a fim de que aqueles
que se apresentem recebam a punição e a reparação exigidas.”
Nas suas considerações o purpurado disse ainda que na gestão da crise e
no processo de conversão que deve ser tomado para poder enfrentá-la o
bispo não está sozinho. “O seu ministério é um ministério colegial”,
precisou. E nessa unidade devemos “agir sempre com os mesmos critérios e
a ajudar-nos reciprocamente no processo da decisão. A nossa força
depende, sem dúvida, da profunda unidade que caracteriza o nosso ser e
agir”, frisou.
Desejável um “Código de conduta” para os bispos
O cardeal Salazar recordou que “para ajudar-nos nessa tarefa os Papas iluminaram-nos com as suas palavras e os dicastérios da Cúria romana
emanaram disposições que nos indicam o caminho que devemos percorrer”.
Após afirmar que os bispos já sabem como devem proceder nestes casos,
o cardeal disse, parecer desejável que seja oferecido aos bispos um
“Código de conduta” que, em harmonia com o “diretório para os bispos”,
mostre claramente qual deve ser a conduta do bispo no contexto desta
crise.
“O Código de conduta”, precisou, esclarecerá e exigirá de nós a
conduta que é própria do bispo. “A sua obrigatoriedade será uma garantia
para todos nós de agir em uníssono e na direção justa, visto que nos
permite ter uma determinação clara sobre a nossa conduta e nos dá
indicações concretas para as medidas corretivas que são necessárias.”
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O cardeal concluiu recordando que a responsabilidade do bispo é muito
ampla, cobre muitos campos, mas é sempre inevitável, fazendo votos de
que “com a ajuda do Senhor e com a nossa docilidade à sua graça faremos
de modo que esta crise leve a uma profunda renovação de toda a Igreja
com bispos mais santos, mais conscientes da sua missão de pastores do
rebanho; com sacerdotes e consagrados mais santos, mais conscientes do
seu serviço exemplar para o povo de Deus; com um povo de Deus mais
santo, mais consciente da sua corresponsabilidade na construção
permanente de uma Igreja de comunhão e participação”.
VN
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