Encontro sobre a "Proteção dos menores na Igreja" prosseguirá até domingo, 24 de fevereiro
(Vatican Media)
O segundo dia de
trabalhos do Encontro sobre a "Proteção dos menores na Igreja" trata
sobretudo da “prestação de contas”, discutindo as soluções a serem
adotadas de acordo com o Direito Canónico para avaliar os casos em que os
pastores falharam na sua responsabilidade e agiram com negligência. O
primeiro relator do dia foi o arcebispo de Bombay, Cardeal Oswald
Gracias
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
Prossegue na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, esta sexta-feira (22/02), no seu segundo dia de atividades, o Encontro sobre a proteção dos menores na Igreja, que se realizará até este domingo, 24 de fevereiro.
Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
Prossegue na Sala Nova do Sínodo, no Vaticano, esta sexta-feira (22/02), no seu segundo dia de atividades, o Encontro sobre a proteção dos menores na Igreja, que se realizará até este domingo, 24 de fevereiro.
Este segundo dia de trabalhos com os presidentes das Conferências
episcopais do mundo inteiro trata sobretudo da “prestação de contas”,
discutindo as soluções a serem adotadas de acordo com o Direito Canónico
para avaliar os casos em que os pastores falharam na sua
responsabilidade e agiram com negligência.
O primeiro relator do dia foi o arcebispo de Bombay, na Índia,
cardeal Oswald Gracias, cuja exposição teve como título Accountability
(prestação de contas) numa Igreja Colegial e Sinodal.
Já em sua introdução o purpurado indiano ressaltou que a experiência
de abusos sexuais presente em algumas partes do mundo não é um fenómeno
limitado e que a Igreja deve assumir uma ótica honesta, fazer
discernimentos rigorosos e agir de modo decisivo para impedir que se
verifiquem abusos no futuro, fazendo o possível para favorecer a
recuperação das vítimas.
Esforço do Papa e da Igreja para enfrentar a crise
O cardeal Gracias observou que a importância e o alcance universal
deste desafio levaram o Papa Francisco a convocar este encontro,
ressaltando o esforço do Pontífice e da Igreja para enfrentar essa
crise.
Com a ajuda de Deus, disse, será possível modelar e definir o modo em
que a Igreja inteira, a nível regional, nacional, diocesano local e até
mesmo paroquial, assumirá a tarefa de enfrentar os abusos sexuais
internamente.
O arcebispo de Bombay acrescentou que isso inclui o envolvimento dos
leigos, homens e mulheres. Enquadrando tudo isso numa perspectiva
pessoal, prosseguiu:
“Nenhum bispo deveria dizer a si mesmo: ‘enfrento este problema e desafio-os sozinho’. Porque pertencemos ao colégio dos bispos, em união
com o Santo Padre, partilhamos accountability (a prestação de contas) e
responsabilidade. A colegialidade é um contexto essencial para
enfrentar as feridas de abuso infligidas às vítimas e à Igreja em geral.
Nós bispos precisamos de voltar mais vezes ao ensinamento do Concílio
Vaticano II para nos encontrarmos na mais ampla missão e ministério da
Igreja.”
Veja também:
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Salazar: maior escândalo dos abusos é esconder a verdade
O purpurado indiano disse ver a esse propósito uma ampla margem de
ulteriores progressos no âmbito dessa colegialidade. Talvez se possa
progredir, conseguindo esclarecer alguns pontos, entre os quais,
destacou que não se pode ignorar que na Igreja tivemos dificuldades em
enfrentar a questão do abuso de modo justo; estreitamente ligado a este
ponto se encontra a vontade de admitir pessoalmente os erros e pedir
ajuda.
O cardeal Gracias se disse convencido de que não existem alternativas
reais à colegialidade e à sinodalidade, resumindo o desafio enfrentado
juntos.
O desafio dos abusos sexuais na Igreja
O abuso sexual de menores e adultos na Igreja revela uma complexa
rede de fatores interligados entre os quais: psicopatologia, decisões
morais pecaminosas, ambientes sociais que permitem o abuso, respostas
institucionais e pastorais muitas vezes inadequadas ou claramente
danosas ou falta de respostas.
O abuso perpetrado por clérigos, acrescentou (bispos, sacerdotes,
diáconos) e por outros que servem na Igreja (por exemplo professores,
catequistas, treinadores) traduzem-se em danos incalculáveis quer diretos,
quer indiretos.
Justiça
Embora o abuso sexual seja muitas coisas, entre as quais violação e
traição da confiança, na sua raiz é um ato de grave injustiça. As
vítimas falam do seu sentimento de terem sido injustamente violadas.
“Uma obrigação fundamental que diz respeito a todos nós, individualmente
e colegialmente, é dar justiça àqueles que foram violados.”
Recuperação
Além de defender a justiça, observou o cardeal, uma Igreja colegial
representa a recuperação. “Certamente, essa recuperação deve alcançar as
vítimas dos abusos. Deve também estender-se às pessoas atingidas,
incluído as comunidades cuja confiança foi traída ou duramente colocada
à prova.
“A primeira mensagem, dirigida em particular às vítimas, é uma
solidariedade respeitosa e o reconhecimento honesto da sua dor e do seu
sofrimento. Embora isto pareça óbvio, nem sempre se verificou.
Ignorar ou minimizar aquilo que as vítimas experimentaram exaspera-lhes a dor
e retarda a sua recuperação. No seio de uma Igreja colegial podemos
unir-nos na consideração e na compaixão para alcançar a compreensão.”
Peregrinação
Tomando a imagem de povo peregrino de Deus, o purpurado ressaltou que
esta condição significa que somos uma comunidade continuamente chamada
ao arrependimento e ao discernimento. “Devemos arrepender-nos e fazê-lo
colegialmente, porque falimos ao longo do caminho. Devemos procurar o
perdão”, enfatizou.
“Há muito a ser feito. Com os desdobramentos da crise dos abusos,
sabemos que não existe uma solução fácil ou rápida. Estamos sintonizados
para seguir em frente, passo a passo e juntos. Isto requer
discernimento.”
Para assumir esta colegialidade, a fim de enfrentar a questão da
prestação de contas e responsabilidade, o cardeal indiano propôs na sua
conclusão, reivindicar a nossa identidade no colégio apostólico unido ao
Sucessor de Pedro, e fazê-lo com humildade e franqueza; invocar coragem e
audácia, porque o percurso não está traçado com grande precisão e
exatidão; abraçar o caminho do discernimento prático, porque queremos
realizar aquilo que Deus quer de nós nas circunstâncias concretas da
nossa vida; e ser dispostos a pagar o preço de seguir a vontade de Deus
em circunstâncias incertas e dolorosas.
VN
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