"A minha presença deseja trazer a esta sede os anseios e as necessidades da multidão dos nossos irmãos que sofrem no mundo", disse Francisco no seu discurso na cerimónia de abertura da 42ª sessão do Conselho de Governadores do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida).
Cidade do Vaticano - Mariangela Jaguraba
O Papa Francisco participou, nesta quinta-feira (14/02), da cerimônia de abertura da 42ª sessão do Conselho de Governadores do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), agência das Nações Unidas.
O Papa Francisco participou, nesta quinta-feira (14/02), da cerimônia de abertura da 42ª sessão do Conselho de Governadores do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida), agência das Nações Unidas.
O encontro realizou-se na sede do Fundo das Nações Unidas para a
Alimentação e Agricultura (FAO), em Roma. O Papa foi rfecebido ao som de
violino de Midori Gotō, violinista norte-americana de origem japonesa.
No seu discurso aos participantes no evento, Francisco agradeceu ao
presidente do Fida, Gilbert F. Houngbo, pelo convite que lhe foi feito, em nome
do organismo.
“A minha presença deseja trazer a esta sede os anseios e as necessidades da multidão dos nossos irmãos que sofrem no mundo."
"Eles vivem em situações precárias: o ar está viciado, os recursos
naturais dizimados, os rios poluídos, os solos acidificados; eles não
têm água suficiente para si ou para as suas colheitas; as suas infraestruturas
de saúde são precárias, as suas casas escassas e defeituosas.”
Segundo Francisco, “estas realidades prolongam-se no tempo, quando,
por outro lado, a nossa sociedade alcançou grandes conquistas nas áreas
do saber. Isto quer dizer que estamos diante de uma sociedade que é
capaz de progredir nos seus propósitos de bem, e vencerá também a batalha
contra a fome e a miséria se a propor seriamente.
Não se foge das responsabilidades, passando-as de uns para outros,
mas devem ser assumidas a fim de oferecer soluções concretas e reais.”
Incentivo da Santa Sé
A Santa Sé sempre incentivou os esforços feitos pelas agências
internacionais para combater a pobreza. Em dezembro de 1964, São Paulo
VI pediu, em Bombaim, atual Mumbai, na Índia, “e depois reiterou noutras circunstâncias, a criação de um Fundo mundial para combater a
miséria e dar um impulso decisivo na promoção integral das áreas mais
pobres da humanidade. Desde então, os seus sucessores não deixaram de
animar e incentivar iniciativas semelhantes, e um dos exemplos mais
conhecidos é o Fida”, sublinhou o Papa.
“Esta 42ª sessão do Conselho de Governadores do Fida segue essa lógica e tem diante de si um trabalho fascinante e crucial:
criar possibilidades inéditas, dissipar hesitações e colocar cada povo
em condições de enfrentar as necessidades que os afligem. A
Comunidade internacional, que elaborou a Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável, precisa de tomar outras medidas a fim de
alcançar os 17 objetivos que a compõem.”
A esse propósito, Francisco sublinhou que “a contribuição do Fida é
imprescindível para cumprir os primeiros objetivos da Agenda, os que se
referem à erradicação da pobreza, a luta contra a fome e a promoção da
soberania alimentar."
“É paradoxal que uma boa parte das mais de 820 milhões de pessoas que sofrem de fome e desnutrição no mundo vivam nas áreas rurais, se dedicam à produção de alimentos e são camponesas. Além disso, o êxodo do campo para a cidade é uma tendência global que não podemos ignorar.”
Desenvolvimento local tem valor em si mesmo
“O desenvolvimento local tem valor em si mesmo e não em função de
outros objetivos. Trata-se de garantir que cada pessoa e cada comunidade
possa desenvolver as suas próprias capacidades de maneira plena, vivendo
assim uma vida humana digna desse nome”, frisou ainda o Papa.
Francisco exortou os responsáveis das nações, as organizações intergovernamentais e todos dos setores público e privado, “a
desenvolverem os canais necessários para que medidas apropriadas possam
ser implementadas nas áreas rurais da Terra, a fim de que as pessoas
possam ser artífices responsáveis da sua produção e progresso”.
Segundo o Papa, “os problemas que afetam negativamente o destino de
muitos de nossos irmãos atualmente, não podem ser resolvidos de forma
isolada, ocasional ou ef´êmera. Hoje, mais do que nunca, devemos unir
forças, alcançar consenso e fortalecer vínculos”.
“Os desafios atuais são tão intrincados e complexos que não podemos
prosseguir, enfrentando-os ocasionalmente, com resoluções de
emergência."
“Trata-se de afirmar sempre a centralidade da pessoa humana,
recordando que «os novos processos em gestação nem sempre se podem
integrar dentro de modelos estabelecidos do exterior, mas devem ser
provenientes da própria cultura local», disse Francisco citando um
trecho da sua Encíclica Laudato si’.
“Neste sentido, e como vem ocorrendo nos últimos anos, o Fida
alcançou melhores resultados através de uma maior descentralização,
promovendo a cooperação Sul-Sul, diversificando as fontes de
financiamento e os modos de ação, promovendo uma ação baseada nas
evidências e que, ao mesmo tempo, gera conhecimento.”
O Papa encorajou o organismo a “prosseguir neste caminho, que deve melhorar sempre as condições de vida das pessoas carentes”.
A seguir, Francisco partilhou algumas reflexões específicas sobre o tema “Inovações e iniciativas empresariais no mundo rural” da 42ª sessão do Conselho de Governadores do Fida.
Fomentar “uma ciência com consciência”
“É preciso apostar na inovação, na capacidade de empreendimento, no
protagonismo dos atores locais e na eficiência dos processos produtivos
para alcançar a transformação rural, a fim de erradicar a desnutrição e
desenvolver de forma sustentável o meio rural. Nesse contexto, é
necessário fomentar “uma ciência com consciência” e colocar
realmente a tecnologia ao serviço dos pobres. Por outro lado, as novas
tecnologias não devem contrapor-se às culturas locais e aos
conhecimentos tradicionais, mas devem complementá-los e agir em sinergia
com eles”.
Francisco desejou aos participantes da 42ª sessão do Conselho de
Governadores do Fida “que os seus trabalhos, esforços e deliberações
sejam em benefício dos descartados e das vítimas da indiferença e do
egoísmo”. “Que possamos ver a derrota total da fome e uma copiosa
colheita de justiça e prosperidade”, concluiu.
O Papa Francisco na cerimónia de abertura da 42ª sessão
do Conselho de Governadores do Fida
VN
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