Papa Francisco e o Grande Imã de al-Azhar, Ahmed Muhammad al-Tayyib
em 2017, na Casa de Santa Marta
O significado do gesto de Francisco e Al-Tayyib à luz dos pontificados anteriores: interpretações erróneas dos textos religiosos e enfraquecimento dos valores espirituais levam muitos ao extremismo.
Andrea Tornielli - Abu Dhabi
Oitocentos anos depois do encontro entre Francisco de Assis e o sultão al-Malik al-Kāmil, o Papa que leva o nome do santo de Assis, apresenta-se aos “irmãos muçulmanos” como um “cristão sedento de paz”. E, juntamente com o Grande Imame de Al-Azhar, assina uma Declaração destinada a marcar não só a história das relações entre o Cristianismo e o Islã, mas também a própria história do mundo islâmico. O Papa Francisco, inventor da expressão “guerra mundial em pedaços”, com esta viagem e este gesto insere-se no caminho traçado pelos seus antecessores, dando um passo a mais.
Também São João Paulo II, a partir do encontro de Assis em
1986 - quando sobre o mundo pairava a ameaça nuclear que, infelizmente,
se pressente hoje - envolveu líderes religiosos para reafirmar que as
diferentes religiões devem promover a paz, a coexistência, a
fraternidade. Depois de 11 de setembro de 2001, quando o fundamentalismo
terrorista voltou à cena internacional de forma violenta, o ancião
Pontífice polaco fez todos os esforços para extirpar justificações
religiosas ao abuso do nome de Deus para justificar a violência, o
terrorismo e a morte de homens, mulheres e crianças inocentes.
Bento XVI também percorreu o mesmo caminho ao longo de todo o
seu pontificado. Em setembro de 2006, o Papa Ratzinger disse aos líderes
dos países muçulmanos: “É necessário que, fiéis aos ensinamentos das
suas próprias tradições religiosas, cristãos e muçulmanos devem aprender
a trabalhar juntos, como já se verifica em diversas experiências
comuns, para evitar qualquer forma de intolerância e oporem-se a todas as
manifestações de violência”.
Hoje, o Papa Francisco assina um documento no qual não só se rejeita
firmemente qualquer justificação para a violência cometida em nome de
Deus, mas são feitas declarações importantes e vinculativas sobre o Islã
e certas interpretações do mesmo. As palavras relativas ao respeito
pelos fiéis de diferentes religiões, à condenação de toda e qualquer
discriminação, à necessidade de proteger todos os locais de culto e ao
direito à liberdade religiosa, bem como ao reconhecimento dos direitos
das mulheres, constituem um empenho.
Significativa é também o ênfase de uma das raízes mais profundas do
terrorismo niilista, que deriva de interpretações erróneas de textos
religiosos, mas também de uma “deterioração da ética, que condiciona a
ação internacional, e um enfraquecimento dos valores espirituais e do
senso de responsabilidade”. Tais elementos favorecem a frustração e o
desespero, “levando muitos a cair no turbilhão do extremismo ateu e
agnóstico, ou no fundamentalismo religioso, extremismo e fundamentalismo
cego”.
Ocidente e Oriente, fiéis de diferentes religiões que se reconhecem como irmãos - declaram o Bispo de Roma e o Grande Imame de Al-Azhar - podem ajudar-se mutuamente na tentativa de evitar que a guerra mundial em pedaços se deflagre em todo o seu poder destrutivo.
VN
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