01 agosto, 2017

Há cem anos atrás, a Carta de Bento XV contra o "massacre inútil”




(RV) “Poucas afirmações extraídas de documentos pontifícios tiveram tão grande influência histórica como a que foi escrita por Bento XV em 1º de agosto de 1917, quando, passados três anos da deflagração da I Guerra Mundial, lançou um apelo aos ‘chefes dos povos beligerantes’ a dar fim a um conflito cruento que todos os dias se mostrava cada vez mais ‘como um massacre inútil’".

É o que escreve o presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI), Cardeal Gualtiero Bassetti, num editorial para o jornal vaticano “L’Osservatore Romano” de 31 de julho – 1º de agosto.

Advertência de grande importância moral e política

“Ainda hoje, à distância de cem anos, aquelas palavras ressoam, não somente no discurso público, mas na consciência profunda de toda pessoa, como uma advertência de grande importância moral e política”, afirma o arcebispo de Perugia.

Naquela carta “o Papa pedia de modo contundente uma ‘paz justa e duradoura’ que pudesse sedimentar-se – graças aos mais importantes instrumentos da época: o pedido de um arbítrio internacional, a restituição recíproca de alguns territórios e a necessidade imperiosa de um desarmamento”.

Palavras de Bento XV revelaram-se proféticas

Embora as suas palavras não tenham mudado o rumo do conflito mundial, mesmo assim “revelaram-se proféticas”, sobretudo pelo seu “duríssimo juízo sobre a guerra”, acrescenta.

“A evocação de ‘um massacre inútil’ tornou-se a partir daquele momento uma espécie de grito de dor pela guerra moderna e todo tipo de atroz morte de massa provocada pela modernidade niilista. E não casualmente, o Papa Francisco a evocou por ocasião do G20 para denunciar os massacres inúteis de migrantes no Mediterrâneo” – observa o Cardeal Bassetti.

Início da elaboração de uma nova teologia da paz

O presidente dos bispos italianos afirma ainda que as palavras de Bento XV com a denúncia da guerra qual “massacre inútil” marcam “o início da elaboração de uma nova teologia da paz”.

Uma nova teologia da paz que não se fundamenta baseada em vagos propósitos ideais, mas indiscutíveis princípios evangélicos: a justiça, a caridade e a dignidade da pessoa humana.

Jamais como hoje essa teologia da paz “deve ser defendida daqueles que, de modo vil e mesquinho, perpetram brutais actos terroristas contra a humanidade inocente” e “de quem provoca as guerras por uma vontade de poder, de conquista e por interesses económicos”.

Força moral do direito na busca da paz

“Buscar a paz não é o produto de uma civilização decadente com uma identidade frágil – pondera ele –, é exactamente o contrário. Buscar a paz é um exercício heróico, que requer um esforço enorme, incessante, diário, e que requer uma força diferente da força militar: é a força da fé; a força do diálogo; e, como escrevia Bento XV, a ‘força moral do direito’.”

“Portanto, este é o tempo de defender o compromisso em prol da paz com coragem, determinação e mansuetude. Buscando dar-lhe também novos significados e uma linguagem renovada. Com um único grande objectivo: superar todos massacres inúteis do mundo actual”, conclui o presidente da Conferência Episcopal Italiana. (BS/RL/Sir)

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