(RV) “A memória da vocação reaviva a esperança”. Com este tema da sua
catequese de hoje, o Papa Francisco voltou a presidir a Audiência Geral
na Praça São Pedro, repleta, como sempre de fiéis e peregrinos
provenientes de diversas partes da Itália e do mundo.
Recordar-se de Jesus, do fogo de amor com o qual um dia concebemos a
nossa vida como um projecto de bem e reavivar com esta chama a nossa
esperança, advertiu Francisco, é uma dinâmica fundamental da vida
cristã.
O Papa Francisco concentrou sua catequese de hoje principalmente na
questão da relação entre a memória e a esperança, com particular
referência à memória da vocação. E para o ilustrar, usou como exemplo o
chamamento dos primeiros discípulos de Jesus, uma experiência que ficou
de tal forma impressa nas suas memórias, que o evangelista João, embora
já idoso, recordava ainda com precisão a hora do evento: "Eram cerca de 4
horas da tarde".
Após a frase pronunciada nas margens do rio Jordão por João Batista,
"Eis o Cordeiro de Deus", Jesus encontra dois novos jovens seguidores, a
quem pergunta: "Que procurais?".
Jesus aparece nos Evangelhos como um especialista de coração humano.
Naquele momento, tinha encontrado dois jovens que estavam procurando,
com uma saudável inquietude! Com efeito, como pode haver uma juventude
satisfeita, sem uma busca de sentido? Os jovens que não buscam nada não
são jovens, estão já reformados, envelheceram antes do tempo. É triste
ver jovens aposentados. E Jesus, em todo o Evangelho, em todos os
encontros que realiza ao longo do caminho, aparece sempre como um
"incendiário" dos corações.
Por isso, prosseguiu o Santo Padre, Jesus faz a pergunta "que
procurais?", justamente para “fazer emergir o desejo de vida e de
felicidade que cada jovem traz dentro de si.
Francisco pergunta então aos jovens presentes na Praça São Pedro e à
todos aqueles que acompanham a audiência geral través dos meios de
comunicação social: “Tu, que és jovem, o que procuras? O que procuras no
teu coração?”
E foi assim, acrescentou, que começou a vocação de João e de André,
dando início a uma amizade com Jesus tão forte, que criou uma comunhão
de vida e de paixão com Ele. E esta convivência com Jesus,
transformou-os logo em missionários, tanto que os seus irmãos Simão e
Tiago também passaram a seguir Jesus.
Foi um encontro tão tocante, tão feliz, que os discípulos recordarão
para sempre aquele dia que iluminou e orientou a juventude deles",
ressaltou o Papa recordando que a própria vocação neste mundo pode ser
descoberta de diferentes maneiras, mas o primeiro indicador é a alegria
do encontro com Jesus:
Matrimónio, vida consagrada, sacerdócio: cada vocação verdadeira
inicia com um encontro com Jesus que nos dá alegria e uma esperança
nova; e nos conduz, mesmo no meio das provações e dificuldades, à um
encontro sempre mais pleno, àquele encontro, maior, o encontro com Ele e
à plenitude da alegria.
O Santo Padre recordou então, que "o Senhor não quer homens e
mulheres que o sigam de má vontade, sem terem no coração o vento da
alegria. Neste sentido, Francisco perguntou aos presentes: “Vós, que
estais aqui presentes na praça, tendes o vento da alegria? Cada um se
pergunte: Eu tenho dentro de mim, no coração, o vento da alegria?”
Jesus quer pessoas que tenham experimentado que estar com Ele traz
uma felicidade imensa, que pode ser renovada a cada dia da vida. Um
discípulo do Reino de Deus que não é alegre, não evangeliza este mundo,
é um discípulo triste. Tornamo-nos pregadores de Jesus, não
aperfeiçoando as armas da retórica. De facto, observou o Pontífice, tu
podes falar, falar, falar, mas se não existe uma outra coisa, como podes
tornar pregador de Jesus? Tendo, precisamente nos olhos, advertiu
Francisco, o brilho da verdadeira felicidade. Vemos tantos cristãos,
também entre nós, que com os olhos te transmitem a alegria da fé: com os
olhos!
Por isso o cristão, acrescentou o Papa, tal como fez a Virgem Maria, deve proteger a chama do seu enamoramento.
Certamente, existem provações na vida, existem momentos em que é
necessário seguir em frente não obstante o frio e os ventos contrários.
Porém os cristãos conhecem o caminho que conduz àquele fogo sagrado que
os acendeu uma vez para sempre.
Neste sentido, o Santo Padre alerta a todos para não darmos atenção à
quem nos tira o entusiasmo e a esperança, mas a sonharmos com um mundo
diferente e cultivarmos utopias saudáveis. Por favor, disse, não demos
ouvidos às pessoas desiludidas e infelizes; não escutemos quem recomenda
cinicamente para não cultivar esperanças na vida; não confiemos em quem
apaga ao nascer cada entusiasmo, dizendo que nenhuma empresa vale o
sacrifício de toda uma vida; não escutemos "velhos" de coração que
sufocam a euforia juvenil. Procuremos os velhos que têm os olhos
brilhantes de esperança! Cultivemos, pelo contrário, utopias saudáveis.
Deus, acrescentou, nos quer capazes de sonhar como Ele e com Ele,
enquanto caminhamos bem atentos à realidade. Sonhar um mundo diferente. E
se um sonho se apaga, voltar a sonhá-lo de novo, indo com esperança à
memória das origens, aquelas brasas que, talvez, depois de uma vida não
tão boa, estão escondidas sob as cinzas do primeiro encontro com Jesus.
Antes de saudar os peregrinos de língua italiana, o Papa Francisco
fez um apelo recordando aos presentes que depois de amanhã, dia1 de
Setembro, recorre o Dia de Oração pelo cuidado da criação. Nesta
ocasião, eu e meu querido irmão Bartolomeu, Patriarca ecuménico de
Constantinopla, preparamos juntos uma Mensagem. Nela convidamos todos a
assumir uma atitude respeitosa e responsável com a criação. Fazemos,
além disto, um apelo àqueles que desempenham papeis influentes, para
escutar o grito da terra e o grito dos pobres, que são os que mais
sofrem pelos desequilíbrios ecológicos.
Finalmente, e como de costume, Francisco saudou também os fiéis e
peregrinos de língua oficial portuguesa presentes na Praça de S. Pedro:
Queridos peregrinos de língua portuguesa, disse, sede bem-vindos! A
todos vós saúdo, especialmente aos membros da Associação Chapecoense de
Futebol e aos alunos tanto do Colégio de São Paulo como do Colégio Pio
Brasileiro de Roma, desejando-vos de prosperar na sabedoria que vem de
Deus, a fim de que, tornados peritos das coisas de Deus, possais
comunicar aos outros a sua doçura e o seu amor. Desça, sobre vós e as
vossas famílias, a abundância das suas bênçãos.
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