Tinham-lhe
dito que Ele ia estar ali.
Não
sabia muito bem como, mas no fundo do seu coração, queria acreditar que sim,
que Ele estaria ali, naquele local e, sobretudo, que ele poderia falar com Ele
e pedir-Lhe o que tanto necessitava.
Há
muito que andava a pensar na sua vida, na vida que levava, e a conclusão a que
chegava é que o abismo se abria inexorável no seu futuro, se não mudasse
radicalmente de vida, iria acabar mal, muito mal, e muito, muito sozinho.
Sim,
é verdade, que desde a mais tenra idade lhe diziam que Ele estava ali, aliás,
que Ele estava em todo o lado, mas muito especialmente, naquele local e naquele
preciso sítio.
E
durante algum tempo também ele por ali andou, e até acreditou que sim, mas
depois tudo se tinha “diluído” numa vida sem sentido, numa vida que, reconhecia
agora, a nada levava, não tinha amor, (talvez amores fugazes), não tinha
confiança, (embora ele parecesse cheio dela), não tinha esperança, (embora ele
colocasse a sua vida numa espécie de sorte).
Entrou
no edifício e ficou contente porque estava vazio, sem ninguém.
Já
lá tinha entrado com gente, mas os olhares de reprovação que tinha sentido, as
palavras murmuradas nas suas costas, pareciam querer impedi-lo de se aproximar
dEle.
Curiosamente,
tinha parecido ao seu coração, que Ele, lá no sítio onde estava, tinha dito
àquela gente para o deixarem passar, para o deixarem chegar “à fala” com Ele,
para o chamarem.
Entrou,
sentou-se em frente daquela “caixa” resplandecente e reparou numa pequena luz
que estava ao lado da “caixa”.
Tinham-lhe
dito, quando era menino, que a luz significava que Ele estava ali!
Deixou-se
ficar ali, a olhar, a olhar, sem saber o que fazer, sem saber o que dizer.
Ouviu
então distintamente, (pelo menos assim lhe pareceu), uma voz que disse: «Que
queres que te faça?» Lc 18, 41
Surpreendido,
respondeu sem pensar: «Senhor, que eu veja!» Lc 18, 41
E
insistiu: «Senhor, que eu Te possa ver!»
Uma
calma, uma serenidade, um amor, tomou conta daquele lugar, daquele momento,
tomou conta de si mesmo.
No
fundo do seu coração nasceu uma certeza, ainda ténue, mas convicta, que tudo ia
mudar, que a sua vida não seria mais a mesma, que encontraria sentido nAquele
que com ele falava, sem palavras audíveis, mas com amor sensível, isto é, com
amor que ele podia sentir verdadeiramente.
Apenas
uma frase, tantas vezes ouvida e repetida, veio ao seu pensamento, ao seu
coração, e disse-a baixinho, com medo de “estragar” aquele momento: «Eu creio!
Ajuda a minha pouca fé!» Mc 9, 24
Sentiu-se
profundamente abraçado, num amor indescritível, e ouviu a voz dEle, repassada
de ternura: «Vê. A tua fé te salvou.» Lc 18, 43
Monte
Real, 30 de Agosto de 2017
Joaquim
Mexia Alves
Nota: Esta é uma história que, sem dúvida, retrata a minha vida.
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